Jet
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General?ssimo Imperador Galatico!
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Post by Jet on Aug 26, 2012 21:41:00 GMT -5
Gente, estou trancrevendo aqui um texto que achei muito importante.
De autoria de Sergio Peixoto, que foi editor das revistas Animax, Anime Ex, Megaman, Hypercomix, Defensores de Toquio e etc e esteve ligado de 1994 a 2004 com esse mercado, é um relato de alguém que fez e estava por dentro da coisa. Vale a pena, aqui vai ele:
Já postei esta análise aqui no Grupo Animax, via tópico sobre a Ação Magazine, como parte da discussão sobre o porque dos mangás/HQs nacionais não darem certo. É uma série de observações e vivências pessoais que tive dos meus quase 25 anos que trabalho como editor. Sinta-se à vontade para concordar ou discordar. Não pretendo com este texto apresentar soluções milagrosas para reverter a situação - apenas relato o que ACHO e VIVI. Futuramente, farei uma versão mais abrangente. Considerem este texto como um ensaio para algo maior. Prepare-se pois é looongo!
- A nossa cultura – sejamos sinceros: somos um povo acomodado, conformado, egoísta e invejoso. Seguimos sempre a lei do mínimo esforço e do “jeitinho brasileiro” para ganhar o máximo trabalhando o mínimo. E quando alguém consegue se sobressair um pouco mais é imediatamente invejado e mal falado; surgem os invejosos conspirando e agindo para prejudicá-lo. Parece que vencer por esforço e talento próprio neste país é um crime. Jô Soares definiu isso dizendo “Sucesso no Brasil é ofensa pessoal”! Há muitas pessoas que gastam mais tempo e energia puxando os outros para a lama do que se esforçando a sair dela. Meu ex-sócio/amigo foi um exemplo típico e, infelizmente, não o único. - Desinteresse Econômico das Editoras – Quadrinhos estrangeiros são oferecidos às editoras brasileiras por um preço baixíssimo, já que deram todo o lucro necessário em seus países de origem. É o brasileiro aplicando a lei do lucro imediato com pouco esforço. Com isso, fica impossível surgirem quadrinhos nacionais de boa qualidade, pois nenhuma editora está disposta a pagar o valor justo por uma página de HQ desenhada aqui. Isso, em longo prazo, matou GERAÇÕES INTEIRAS de desenhistas brasileiros que, sem oportunidade, migraram para outras áreas ou simplesmente desistiram de desenhar. Os mais persistentes e talentosos conquistaram seu espaço de trabalho no exterior, já que aqui não tiveram nenhum reconhecimento – quando não foram caçoados e escorraçados pelos leitores “esclarecidos”. - Falta de Preparação Profissional – Sem editoras investindo em HQs nacionais por comodismo, não temos escolas de desenho para quadrinhos com a mesma qualidade das estrangeiras. Oh, sim, nós temos algumas! Mas perto do que está disponível na Europa, EUA e Japão, é quase nada. Uma coisa puxa a outra: sem desenhistas de HQs, ficamos sem bons professores de desenho em quantidade e experiência DE FATO na área editorial. Temos muitos desenhistas de quadrinhos “teóricos” que nunca publicaram nada e dão aula por aí, e a-do-ram dizer como o mercado DEVERIA funcionar... no ponto de vista deles! E quando alguém publica qualquer coisa, mordem a fronha de inveja e ficam XINGANDO MUITO NO TWITTER! - Desinteresse e Inveja dos Leitores Brasileiros – Depois de quase 60 anos dominando o mercado de quadrinhos do Brasil, as editoras estrangeiras podem ficar tranqüilas. Elas venceram! O brasileiro não se interessa nem um pouco por material nacional, pois cresceu lendo Marvel, DC e Disney – e ficou condicionado a gostar deste tipo de quadrinho a ponto de acreditar cegamente que qualquer coisa feita aqui “não presta”. Como um desenhista brasileiro sem preparo por falta de boas escolas e sem oportunidades, pode competir com as editoras norte-americanas que tem o apoio cego dos nossos leitores? E quando um brasileiro publica uma HQ, todos apenas PROCURAM DEFEITOS PARA FALAR MAL. Pois afinal, quem é esse “quadrinhista brasileiro metido”, querendo fazer algo melhor que os norte-americanos, os mais fodões do mundo? Porque ELE pode publicar e ficar “famoso” e não eu? Isso não pode! Temos que falar mal! Ele não pode dar certo onde nós falhamos por não termos coragem ou talento para tentar! Que ele fique na lama conosco! Para um quadrinhista brasileiro superar este sistema medonho, ele teria que desenhar MELHOR e criar estórias MELHORES AINDA, contar com o apoio de uma grande editora nacional, mais a simpatia e apoio dos leitores brasileiros para ter uma mínima chance de dar certo! Sonhar todo mundo pode né? - Inveja dos Próprios Editores – Mesmo publicando uma revista que vende bem e dá lucro, conheci alguns donos de editora que ficam com inveja da “fama” do editor/redator/desenhista . Note bem: o sujeito está LUCRANDO com o trabalho do artista, e mesmo assim o inveja a ponto de “pisotear” (ou humilhar, ou esnobar, ou desprezar – use o termo que mais lhe agrada) quem está lhe ajudando a pagar as contas! Falo de experiência própria, acreditem. E a maioria dos editores NÃO LÊ O QUE PUBLICA – conheci poucos que fazem isso, todos estão firmes no mercado até hoje! Os demais com quem trabalhei só querem saber de vender papel colorido. Eles não tem nenhum interesse no conteúdo de suas revistas – querem saber apenas o quanto elas vendem. E se interessam menos ainda em projetos de longo prazo. Muitos editores só quer saber de lucro rápido, imediato e com pouco ou nenhum investimento. Então, porque iriam investir numa revista de HQ/Mangá Nacional, que vai dar muito trabalho e pouco retorno, já que o público não se interessa em comprar? É um desinteresse duplo - dos editores e dos leitores. Jogo duro, gente, jogo duro!
Sergio Peixoto Silva
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Post by Anselmo on Aug 27, 2012 9:44:51 GMT -5
Texto muito legal Jet, obrigado por compartilhar ele conosco!
Bom, como o próprio Sérgio falou, foi o que ele ACHOU e VIVEU. Mesmo não tendo vivência alguma nessa área ( não é minha área de atuação também ) essa é a impressão que ela já passa até pros menos entendidos do negócio ( como eu ), então, imagino se a situação não esteja até pior do que o que ele descreveu acima né...
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Post by moonlance on Aug 28, 2012 19:34:58 GMT -5
Legal, Jet; obrigado por citar isso. Mas esperaí... de quando data esse texto?Considerando que seja atual: Justamente porque partindo do ponto de vista de um indivíduo que trabalhou tanto tempo na área, é um texto que vale a pena conhecer.
No entanto, até onde vejo, muitas pessoas já parecem saber dessa miserável situação no país e não é de hoje. Então, apesar de ser ainda um ensaio, o que isso realmente quer acrescentar? Até mesmo você poderia ter escrito esse ensaio, Jet..., e não necessariamente não seria uma opinião valorizada.
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Post by Zinid on Aug 30, 2012 12:07:33 GMT -5
Bem, já fiz alguns comentários em relação a este texto por outros lugares por ai, os problemas realmente existem, mas a meu ver são totalmente diferentes do que a maioria costuma "ver". Do meu ponto de vista de leitor, é certo que temos uma extrema carência de qualidade no quadrinho BR, problema que passa desde autores até editores de baixa competência, um problema cronico que como o moonlance disse, é uma miserável situação que muitos de nos já sabemos. Mas os seguidos fracassos nas vendas a meu ver são impulsionados por três fatores primordiais, falhas na analise de mercado em busca do perfil de potenciais compradores, falhas na divulgação que tem ficado restrito ao nicho dos leitores tradicionais de quadrinhos que em grande parte preferem material estrangeiro com o qual já estão acostumados, e a outra falha é de logística, onde o "produto" não chega até o leitor que estaria disposto a compra-lo, mas está largamente acessível aos leitores, citados anteriormente, que viram a cara para o produto. Com um trabalho competente nos quesitos Mercado, Marketing e Logística, a meu ver, mesmo um produto de qualidade duvidosa conseguiria alcançar seu lugar no mercado, há tantos exemplos disso em outros setores, então nos quadrinhos provavelmente funcionaria.
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Post by yumi moony on Aug 30, 2012 21:04:37 GMT -5
Concordo com as colocações do Zinid, mas também acredito que o problema seja o público, que foi citado no texto do Peixoto. Aqui não temos uma NECESSIDADE de ler quadrinhos, quadrinhos não agregam todas as parcelas da população. Muita gente ainda acha que HQ é coisa pra criança, que fica restrita somente a turma da monica, disney e afins.
Quem consome mangá é uma parcela muito pequena da população (é pessoal de nicho, quem já conhece e talz), aqui não temos o hábito de ler como na Europa e em outros países. No japão, mangá é visto como PRODUTO COMERCIAL, aqui no Brasil muitos autores não possuem essa visão. Querem que o mangá deles dê certo e que renda grana, mas não acata críticas de um editor, por exemplo.
Mas eu acredito que a intenção desse texto, além de apontar todos os prolemas do quadrinho nacional, é fazer a gente, como produtores de material (HQ) e leitores, refletir. Há algo que possamos fazer pra mudar essa situação? Ou vamos passar o resto da vida nos conformando e aceitar que o quadrinho nacional nunca dará certo em nosso país?
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Vanny
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Post by Vanny on Nov 6, 2012 20:42:51 GMT -5
Pessoalmente gosto do texto porque ele fala a verdade claramente e sem rodeios sobre a inveja maldita que rola entre desenhistas e todo o desdém pelo sucesso que é cultivado por quadrinistas, desenhistas e roteiristas (assim como em todas as areas artísticas por aui, em geral). Não tenho muito o que acrescentar, a não ser numa discussão mais direta, com diálogo. São tópicos que devem ser discutidos com mais frequência e defeitos que devem ser assumidos, e não maquiados, ignorados e negados por quem pretende alguma coisa nessa area. Mas eu acredito que a intenção desse texto, além de apontar todos os prolemas do quadrinho nacional, é fazer a gente, como produtores de material (HQ) e leitores, refletir. Há algo que possamos fazer pra mudar essa situação? Ou vamos passar o resto da vida nos conformando e aceitar que o quadrinho nacional nunca dará certo em nosso país? Concordo plenamente que a intenção é refletir sobre as questões apresentadas. Quem passar o resto da vida se conformando com situações atuais e "aceitar que o quadrinho nacional nunca dará certo em nosso país", o que é uma afirmação derrotista e triste, vai simplesmente chegar a lugar nenhum e manter o caminho livre para quem quer fazer acontecer. Ah, e depois vai ficar com inveja de quem fez. O que podemos fazer para mudar a situação, no entanto, tem limites. E para mudar alguma coisa, a pessoa precisa decidir qual é o objetivo que quer alcançar. Caso, como a maioria dos usuários aqui, a pessoa queira publicar seu material e se comunicar com o público, o negócio é correr atrás, praticar, produzir material de qualidade, se arriscar, se expôr, fazer contatos, aprender e aprimorar constantemente suas técnicas, e ter uma noção clara de suas metas. Quem sabe o que quer, não se perde no caminho, nao se desmotiva à toa, não arranja desculpas para fugir do próprio sonho. Tópico interessante, devia estar mais movimentado!
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Post by moonlance on Nov 6, 2012 21:45:55 GMT -5
Vanny, concordo com tudo o que você escreveu.
Mas tenho coisas a acrescentar:
Pelo menos falando no Brasil, posso garantir que não é apenas no universo da criação artística e autoral que existe eventualmente esse desprezo "sobrenatural" pelo outro. Mas isso é só uma observação secundária.
O que quero mesmo acrescentar é o seguinte:
Eu vou partir da seguinte premissa (que é questionável claro, mas ainda assim vale considerar): um autor, para se destacar e se manter proativo numa dada cultura, ele precisa produzir (moderadamente), e continuar produzindo (moderadamente) ao longo do tempo. No entanto, para manter tal ritmo ("industrial") de produção, a priori ele ter que:
1. OU Ser muito dedicado (ou talvez ter um gênio obsessivo) de modo que ele consegue sustentar-se paralelamente com outra atividade, e, no tempo-que-sobra, consiga produz sua real obra sistematicamente (existem diversos casos assim hoje por sinal, eu sei por exemplo o caso de um escritor famoso de Fantasy que é advogado); mas haja gênio obsessivo e criativo nisso...!
2. OU Só produzir. Sim, o autor encerrando-se numa Torre de Marfim. Mas daí entra a problemática típica: quem poderia ser o mecenas do autor e de sua obra num mundo como este? O Estado com incentivos fiscais à cultura? Uma empresa (ex: editora, distribuidora)? O público consumidor? Os próprios fãs? Uma comunidade apoiadora? Clientes? Os amigos e a família? O próprio autor?... Eventualmente, o "mecenas" pode ser qualquer um. Mas essa figura tem que existir para o caso #2!
Então, essas são questões que eu considero relevantes quando estamos falando da questão mais básica da produção autoral por essas bandas atualmente. Acho que existe sim uma decisão primordial do indivíduo-autor, sobre essas escolhas, mas frequentemente elas não são discutidas; talvez porque passam por maior maturidade autoral.
No meu caso particular, enquanto autor e indivíduo, eu considero que o caminho #2 é muito ousado. Não serve para mim; então o descartei de minha existência. Isso fecha muitas portas; por outro lado, ilumina outro caminho; pois agora sei que só me resta o caminho #1, e eventualmente é um caminho-das-pedras, mas em que, com sorte, o principal problema é "apenas" a falta de um tempo ideal para dedicar a sua criação autoral.
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Post by moonlance on Nov 6, 2012 22:42:01 GMT -5
yumi e Zinid,
Penso que a falta de planejamento técnico e a falta de capital inicial para investir resumem os principais problemas da produção comercial de HQ no Brasil. Se não fosse isso, acho que Maurício de Souza nunca teria conseguido gerar a Turma da Mônica Jovem num momento crítico que foi o da invasão dos mangás nas bancas de jornais do Brasil.
Daí, eu ponho a seguinte questão: será que hoje, no Brasil, um projeto de HQ comercial com um excelente planejamento técnico, desenvolvido sistematicamente possivelmente em anos, porém sem o devido capital inicial para investir mais profundamente em desenvolvimento, distribuição e marketing, conseguiria crescer e se manter direito?
E é claro, se existir uma resposta positiva para essa pergunta e se existir também alguém capaz de respondê-la com o embasamento técnico e teórico de que isso necessita, esse indivíduo estaria provavelmente com esse nicho de mercado "como um queijo e a faca na outra mão".
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Post by Zinid on Nov 7, 2012 11:42:17 GMT -5
Bem, Moon, minha resposta para essa pergunta seria obviamente Não.
Assumirei que seria um destes projetos que partem da iniciativa pessoal de um ou mais autores, criando-se uma editora para dar suporte a própria publicação, neste caso teria diversas variáveis a ser levadas em conta, como a competência administrativa dos envolvidos no projeto, o quanto de capital com o qual o projeto se iniciaria, a periodicidade da publicação em questão, a área de atuação, a escolha de um modelo de negócios, entre outras. Mas de qualquer forma, não vejo como um projeto a nível nacional poderia sobreviver sem uma quantidade considerável de dinheiro envolvido, e veja, estou falando de algo pelo menos na casa dos seis dígitos, ou então uma das grandes editoras nacionais por trás do mesmo.
Claro que, com o devido capital, haveria formas de uma pessoa estruturar uma empresa para dar suporte a projetos deste tipo, com menores custos através de uma atuação a nível regional, mas um único projeto por si só dificilmente conseguiria atingir a lucratividade necessária para manter seus autores assim como todo o pessoal envolvido nas diferentes etapas do mesmo, ao menos que se tornasse do dia para a noite um fenômeno de vendas e licenciamento igual ou superior a turma da Mônica por exemplo.
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Post by moonlance on Nov 7, 2012 16:14:23 GMT -5
Zinid,
Sua observações me parecem bem razoáveis.
A partir disso, se considerarmos fatalmente esses impedimentos, então, quando se trata de HQ impressa no Brasil hoje, parece que a opção #2 não é bem uma alternativa viável para uma produção autoral sistemática de HQ. Em outras palavras, sem os recursos adequados, a improbabilidade de sucesso é tamanha que não valeria a pena qualquer risco e investimento.
A partir disso, não é equivocado estabelecer o seguinte: se a HQ impressa já não serve como modelo para a absurda maior parte dos autores no país, então não restam dúvidas de que é melhor adotar outro(s) modelo(s)! E aí assunto é o que não deveria faltar! E no entanto falta...! Mas então eu não sei porque perde-se tempo ainda considerando a respeito do desastroso mercado de HQ impressa no Brasil!! E vejam, o tópico começou com esse fracasso. Isso me dá o direito de explicitar: "Jet, mas onde você estava com seu cérebro quando resolveu citar essa matéria antiquérrima?" hehe
Ao mesmo tempo, talvez eu esteja desinformado sobre algumas novas revistas impressas de mangá nacional (ex: Ação Magazine).
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Vanny
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Post by Vanny on Nov 7, 2012 17:37:26 GMT -5
Vanny, concordo com tudo o que você escreveu. Mas tenho coisas a acrescentar: Pelo menos falando no Brasil, posso garantir que não é apenas no universo da criação artística e autoral que existe eventualmente esse desprezo "sobrenatural" pelo outro. Mas isso é só uma observação secundária. Sim, isso é mais do que claro, mas estamos falando de produção artística, por isso comentei apenas a esse respeito. Sair do tópico não colaboraria com evolução do argumento. Essa "premissa" depende do que você define como " destacar", " se manter proativo" e a que se refere exatamente com " ao longo do tempo". Você usa termos vagos sem esclarecer qual seu conceito para cada um e depois comenta sobre o " tal ritmo de produção", mas não define que ritmo de produção é esse, desse modo não há uma premissa estabelecida. Discordo dessa "afirmação". Não é preciso hiper dedicação para ter trabalhos paralelos, basta haver necessidade. Quem realmente vê a necessidade de se sustentar com um trabalho para perseguir um outro no meio-tempo não se questiona, simplesmente faz o que for preciso. "Sistematicamente" é exagero absoluto, o que é indispensável é disciplina e compromisso, mas sistematicidade é coisa de comportamento obsessivo-compulsivo, que não deve ser incentivado. "Gênio obsessivo" me fez rir. Muito. Essas hipérboles cansam... mas sim, existe a possibilidade de reclusão, pela qual vários artistas optam. No geral os que fazem essa opção logo no começo de carreira tem "paitrocíno". Por outro lado, maior parte dos artistas que escolhem esse isolamento criativo já tem uma carreira lançada ou estabelecida, e desse modo esse método funciona sim, e muito bem. Você menciona um mecenas, mas precisa entender que essa possibilidade de formato de produção criativa (sua "Torre de Marfim") só existe caso o artista não precise pagar suas próprias contas enquanto a executa. Portanto as perguntas sobre quem financia são obsoletas. Não importa " quem", se a pessoa opta por esse caminho, ela tem de achar seu "mecenas", seja ele qualquer uma das opções que você cita. Isso volta ao que eu comentei no post anterior, porque falei diretamente sobre como conseguir esse apoio, mas a maioria das pessoas simplesmente ignora o fato de que suas ações fazem toda a diferença, e só esperam patrocínio, apoio, investimento etc. cair do céu, ficam desapontados, e decidem que já que nada aconteceu milagrosamente, esse caminho não deve ser o certo. Espero ter acrescentado às questões, então. Mas me explique essa última frase: "Acho que existe sim uma decisão primordial do indivíduo-autor, sobre essas escolhas, mas frequentemente elas não são discutidas; talvez porque passam por maior maturidade autoral." não faço ideia do que ela quer dizer. O seu "Caminho nº2" só é ousado caso o indivíduo não tenha liberdade total para se dedicar 100% ao tal trabalho, como você definiu sendo o objetivo desse "Caminho". Porque nesse caso exigiria que a pessoa se lançasse e conquistasse esse apoio, e sim, isso requer fibra, carisma e determinação. E sim, isso é visto como ousadia por muitos. Mas os seus dois "Caminhos" são ousados, no sentido de que a pessoa vai apostar no que ela realmente quer, vai se dedicar e se superar em ambos. Isso também se estabelecem como atos de ousadia. Por isso não acho que sua escolha pelo seu "Caminho nº1" feche portas, há apenas sua escolha por manter algumas portas fechadas, e abrir outras. Os dois "Caminhos" tem suas dificuldades e o termo "caminho-das-pedras" se aplica nos dois casos. O negócio é ver o que se adapta melhor ao seu estilo de vida e personalidade, e lembrar que na verdade, são partes de um todo, portanto você pode começar de um jeito, passar para outro, e eventualmente entender que há muitos outros.
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Post by moonlance on Nov 7, 2012 20:05:42 GMT -5
Essa "premissa" depende do que você define como " destacar", " se manter proativo" e a que se refere exatamente com " ao longo do tempo". Você usa termos vagos sem esclarecer qual seu conceito para cada um e depois comenta sobre o " tal ritmo de produção", mas não define que ritmo de produção é esse, desse modo não há uma premissa estabelecida. São provavelmente termos vagos, ainda assim, esperava que fosse possível ser compreendido na essência através deles. Mas vamos definir melhor então a minha idéia original sobre esses conceitos aplicados no tópico (é bom que você pergunte porque geralmente ninguém me pergunta nada e daí parece que houve entendimento total de idéias expostas): autor se destacar: autor ter conquistado algum espaço junto a um público, editora, mercado, etc., em função de seus esforços e trabalho criativo. O autor então conquista um espaço, e a partir disso ele se destaca (obtém um capital social junto ao meio; de modo que provavelmente poderá encontrar com maior facilidade mais e melhores oportunidades a seguir). Dá pra acrescentar também aqui o seguinte: qualquer grau de conquista gerando destaque pode vir a ser motivo de inveja por parte de colegas. o autor se manter proativo: significa pra mim o autor manter-se no jogo da publicação de obras atuais, relevantes, ainda que "não seja mais o seu tempo". Eu não estou sugerindo que toda obra autoral comercializada precise seguir a moda do dia, do mês, do ano...; se fosse assim, inovações não ocorreriam nunca; mas que existe moda na produção cultural, isso é uma realidade irrefutável e que ocorre em diversos mercados de HQ (se não em todos); acontece que, se um autor quer publicar uma obra, mas não segue tendências culturais (o que está em voga), provavelmente vai ser mais difícil obter qualquer tipo de apoio a sua produção. Eu não preciso discutir isso: é um fato, e ele aparece com diferentes faces em diferentes países do mundo. Evidentemente, essas ondas têm seu lado bom e lado ruim. Não estou discutindo se são boas ou ruins; estou apresentando aqui como elas são capazes de AFETAR o próprio destino de um autor, se ele não seguir uma moda. Nesse sentido, a presença dos mangás nas bancas de jornais brasileiras é algo relativamente recente, e veio como uma "onda"; agora ler mangá no Brasil é "moda" (para um determinado setor da sociedade pelo menos). Maurício de Souza viu na "perigosa" concorrência de vendas de HQ nipônicas no Brasil uma oportunidade para desenvolver Turma da Mônica Jovem; assim como hoje, diversos autores e artistas projetam a possibilidade de produzir mangás "nacionais" com vendas paralelas às vendas de mangás nipônicos, porque é lógico que, se mangás estão vendendo bastante no Brasil, então o seu trabalho também poderia estar lá, contanto que tivesse um desenvolvimento mais ou menos equivalente. Voltando ao assunto de "um autor ser proativo". É estar sempre criando, oras! Que isso seja rentável ou não! Mas aí vem a questão... existem autores que não são proativos? Eu considero que sim. um ritmo de produção "industrial": O que é um ritmo de produção industrial de uma obra cultural? Veja como funcionam os prazos de entrega para a produção mais geral de mangás, comics, Turma da Mônica, e assim por diante. ao longo do tempo: só faz sentido no contexto da frase. A princípio, é ao longo do tempo da vida ativa do autor. A frase essa da premissa, então na verdade é muito óbvia; não é pra ter mistério! Ela só diz o básicão que todo mundo já deve saber; não é a toa eu chamei de premissa. O que importa é o que vem depois (#1 e #2). De tão básica a premissa, eu poderia até a ter cortado, que acredito vocês não iriam deixar de entender a razão de ter as possibilidades #1 e #2 que enunciei.
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Post by moonlance on Nov 7, 2012 20:45:34 GMT -5
Eu não sei sobre você, mas eu não consigo chegar em casa de noite, depois de atividades externas praticamente o dia todo (atividade não ligadas ao meu trabalho puramente autoral), e me concentrar em minha criação autoral quando eu quero nesses espaços de tempo livre entre um dia e outro. Eventualmente, nem em finais de semana.
Nesse sentido, um autor que tem um "gênio obsessivo" [notadamente pela realização de sua obra] é um elogio da minha parte.
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Post by moonlance on Nov 7, 2012 20:50:17 GMT -5
Não entendi bem essa sua frase, Vanny.
Como assim um indivíduo que escolhe trabalhar com uma outra atividade para seu sustento econômico neste sistema, e no tempo livre tenta realizar o que realmente almeja, não se questiona?
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Post by moonlance on Nov 7, 2012 21:06:54 GMT -5
"Acho que existe sim uma decisão primordial do indivíduo-autor, sobre essas escolhas, mas frequentemente elas não são discutidas; talvez porque passam por maior maturidade autoral." não faço ideia do que ela quer dizer."
"Tradução":
Eu conheço e já conheci muitos autores; pessoalmente.
E me fascina observar como existem "padrões", dentro das condições da sociedade atual, que direcionam os autores para soluções específicas a suas necessidades autorais.*
Nesse sentido, o que quero dizer é que o problema original tratado nesse tópico (problemas referentes à cultura brasileira e ao mercado de HQ no Brasil) é relativo para os autores, dependendo das escolhas que o autor pode fazer em relação à sua criação autoral. Assim, afirmo que o problema original do tópico é um problema especialmente difícil de resolver para o autor que se dispõe realmente a sobreviver exclusivamente de sua própria obra, ou algo próximo a isso. Mas ele é um problema insignificante, para o autor que decide que não precisa do mercado da produção cultural. O que é interessante ao meu ver é que são todos autores, mas será que em função de suas escolhas fundamentais, cada cidadão não está propício, senão condicionado, a desenvolver determinados pontos de vista significativamente distintos em relação à realização autoral? E se isso influenciaria suas obras, ou quiçá o próprio caráter do indivíduo?
*Então, não existem muitos caminhos diferentes como você sugeriu. Eles podem parecer muito diferentes em seu fenótipo, mas estruturalmente (genótipo) poderiam ser reunidos em um número extremamente limitado de grandes grupos muito específicos, que foi o que eu tentei apresentar aqui: as escolhas do autor. Isso demonstra que você mais provavelmente não captou realmente a essência de minha mensagem. Ao mesmo tempo, não posso dizer que fui o mais lúcido possível. Além disso, deve ser mais fácil "decifrar" o que eu escrevi aqui para quem já conhece um pouco melhor sobre minha trajetória e meus pontos de vista, como por exemplo o Jet, mas acho que principalmente o Zinid (visto que bastante já abordamos esse tipo de assunto antes). É realmente mais difícil compreender pontos de vista alheios, se não se conhece melhor o interlocutor. Isso é empírico da minha parte.
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