Post by JP Vilela on Mar 2, 2013 9:27:36 GMT -5
Olá pessoal. Isto não é nada de mais, apenas abri um novo tópico para postar a versão revisada dos capítulos antigos da minha história.
O que é Rune:
Uma história de fantasia, ambientada em uma época vitoriana. É um projeto no minimo ambicioso da minha parte, por que praticamente ainda não fiz nada parecido e bem. É isso. xD
Gostaria de pedir que caso forem comentar, o façam no outro tópico, para este ficar bem organizadinho. Obrigado e boa leitura. xD
Rune - Capitulo 1 - O Fim do Treinamento.
Parte 1:
Parte 2:
Parte 3
Rune Capitulo 1 - parte 3
Em seu quarto, o recruta Aerieerf reunia coisas para a viagem. Uma humilde bolsa de couro, um tanto mal costurada, com roupas e algumas quinquilharias que gostava de ter consigo quando saia para passar uns dias fora, como sua luneta. Tirava do armário seus pertences: uma apertada cota de malha , uma espada longa com cabo metálico surrado, tinha a pegada envolvida em um tecido rubro macio. Uma adaga simples, caso precisasse cortar algo rapidamente, e um velho mosquete. Era o equipamento básico que os recrutas recebiam durante o treinamento.
O rapaz vestiu a cota por cima da camisa de manga longa cinzenta que já vinha usando, por cima desta, ele veste a camiseta de lã branca, ocultando a área do torço protegida pela cota, mas deixando as mangas curtas metálicas aparentes. Procurava no armário um grande cinto que possuía duas bainhas, uma para a espada outra para a arma de fogo. O encontrando com facilidade o vestiu sobre do ombro direito e passando pelo abdome, o prendendo firmemente. Encaixou as duas armas aos seus respectivos suportes que pendiam os cabos em direção ao sem ombro direito, Joga a alça da mochila sobre o ombro esquerdo e prendeu um cinturão repleto de pequenos bolsos envolta da pélvis. Estava pronto.
Já faria o movimento para sair do seu pequeno cômodo quando se lembrou de algo. O rapaz puxou as golas das vestimentas para tirar um colar que estava usando. Olhou para a joia alguns instantes, de deu um beijo em seu pingente de falando para si mesmo: "Quando voltar as coisas estarão mudadas." O guardou dentro do armário e finalmente saiu do quarto, trancando a porta com sua chave logo em seguida.
Já nas escadas do segundo para o primeiro andar, ele se encontra com o amigo com o qual conversara no jantar do dia anterior. Este estava carregando duas maletas de madeira bem finas. Parecia muito distraído nos seus próprios pensamentos, aparecia até estar tendo um dialogo consigo mesmo, a distração era tanta que quase trombou com o moreno rapaz. Por questão de reflexo não o fez.
- Ah! Dami... – Falou o loiro homem, completamente pego de surpresa - Para onde vo... Ah sim, a viagem. - Logo abrindo um sorrido orgulhoso pelo camarada.
- Hã? Já está sabendo? – indagou um tanto perdido - Perai... Você já tá sabendo?
- Claro, o pessoal no laboratório lá embaixo estavam muito animados hoje cedo. – falou enquanto dirigia-se para a parede adjacente - Eles provavelmente ficaram sabendo antes de vocês.
- Hu.... Certo... se incomoda de acompanhar até os estábulos? – perguntou apontando com o dedão em direção aos lances superiores da escadaria.
- Estábulos? Hu...Eh... Elas não são tão pesadas assim. - O amigável rapaz olhou para as maletas, e de volta para Aerieerf.
- Então, vamos subindo. – falou o rapaz dando um tapa nas costas do amigo, amigavelmente o empurrando e escada acima - Então... o pessoal do laboratório... quer dizer que o Jotun é para lá.
- Provavelmente. Não que eu me envolva diretamente com o setor deles, mas parece que o que havia lá morreu há alguns meses.
- Morreu? Espera um momento. Havia uma dessas coisas lá em baixo? – perguntou surpreso e com a voz mais baixa.
- Havia... Mas eu não cheguei a ver. Mas sei que tinha um por que podia escutar alguns sons muito estranhos nas noites mais silenciosas, coisa de dar medo.
- P*** m****...
Os dois rumaram para fora do complexo.
A noite estava agradável, a lua cheia brilhava com intensidade no céu. E o caminho até o estábulo era bem iluminado com postes com robustas lâmpadas a óleo e algumas tochas lá e cá. Mesmo a noite muita gente ainda transportava mercadorias, arrumando as coisas para o final do expediente, o "Armazém" fechava as oito.
Os viajantes já estavam quase todos reunidos no local designado, ainda faltava um tempo para a hora combinada, e lá estava Angus, pontual como sempre, escorado no mesmo local no qual havia aguardado o grupo de recrutas mais cedo naquele dia, agora fumando tranquilamente um costumeiro cigarro enquanto observava o movimento, seus óculos refletiam as luzes amareladas através do vidro de seus óculos, o deixando com um ar mais canastra do que o que já possuía naturalmente.
As carruagens e carroças estavam sendo preparadas para partir por alguns ajudantes. Os cavalos sendo posicionados, com celas sendo presas as costas, rédeas e cabrestos sendo fixados na cabeça dos animas. Havia algumas pessoas colocando os suprimentos e bagagens dentro dos veículos. Os transportes seriam três ao total: A carroça que já transportava a enorme jaula, outra carroça semelhante com uma caixa de madeira igualmente grande e alguns sacos e mochilas empilhadas, e por fim, uma carruagem que transportaria a maioria dos viajantes.
Quase todos os recrutas presentes tinham as mesmas vestimentas, salve aqueles que possuíam uma maior condição financeira e podiam bancar seus próprios equipamentos e roupas. Esse era o caso de Damon, que vestia uma elegante peça de peitoral leve feita de placas de aço escovado e couro azulado que brilhava reluzente a luz do fogo. Seu mosquete e espada também contavam com detalhes prateados nos cabos e guarda. Ele estava sozinho, sentado em uma caixa lendo algum livro. Não parecia muito empolgado com a viagem. Quando Arrierref e seu loiro amigo chegaram lá, a maioria já estava toda reunida. Angus falava algumas coisas sobre o que os recrutas teriam de fazer durante a viagem, como não o perturbar por exemplo.
- Pff... idiota... – Aerieerf observava o discurso do instrutor ao longe se juntando a mais três recrutas. Voltando a atenção a estes perguntou:
– Então senhores, todos prontos?
- Claro que sim – Respondeu o veterano do grupo. – Eu já estou farto de tentar sair dessa condição de recruta, mas todo ano faço...
- Heitor, você é surpreendente... – brincou Aerieerf com o veterano.
- Ei, vai viajar mais gente? – Perguntou o loiro estudioso enquanto notava a aproximação de mais pessoas.
- Não sei, quem é? – Perguntou Aerieerf, girando a cabeça quase ao mesmo tempo que os outro da rodinha de conversa, para ver quem vinha.
Era um grupo de quatro pessoas que estavam vindo em direção a eles, três com mochilas nas costas e algumas maletas nas mãos, o que indicavam que eram viajantes. Uma era uma senhora, devia ter uns quarenta anos de idade. Ela era uma das enfermeiras do complexo. Junto havia um guerreiro barbudo e mal encarado que poucos conheciam, ele vivia fora, viajando em outras tarefas. Trajava uma pesada armadura de couro embaixo de um sobretudo semelhante ao que Angus vestia. E por fim um casal, um homem bastante alto e muito forte, travava roupas casuais e acompanhava uma moça bem mais baixa que vinha segurando a sua mão.
- Ah, vejamos – comentou o veterano Heitor - Enfermeira Aline, a senhorinha chata... O cara que só aparece para desaparecer novamente, Capitão Gregório e...
- Enfermeira Rachel – Aerieerf cortou a fala do amigo quase que sem perceber.
- Faz sentido levar gente que entende de medicina caso alguém se machuque – comentou o sujeito loiro - principalmente, se tratando de recrutas, mas quem é o anão das montanhas? – brincou.
O novo grupo de viajantes se dirigiu para a carroça que transportaria as bagagens, colocam seus pertences dentro dela. A senhora e o homem barbudo se dirigem para falar com Angus, a moça e o rapaz trocam um rápido beijo e ficam lá escorados na carroça conversando e esperando pela hora da partida.
- Ah, por um segundo, pensava que Gregório iria também – Comentou o Veterano.
- Não teria graça nenhuma a viagem com um animal feito ele ajudando – falou Aerieerf - só iriamos ver ele e o Cicatriz caçando o Jotun... ele só... veio deixar as coisas da enfermeira Rachel.
- Engraçado, ver como um cara feito ele consegue pegar uma moça como a enfermeira. Eles estão juntos a quan...
- Quatro messes, três semanas e cinco dias. - Suspirou profundamente desanimado Aerieerf.
Os dois amigos saem de perto dos outros, o loiro branquelo queria falar alguma coisa para o camarada.
- Dami... já que eu estou com essas maletas aqui... eu já ia esquecendo.
- Esquecendo? O que? – perguntou o moreno rapaz enquanto observava o ambiente.
- Espera um segundo. – o estudioso abriu uma das maletas que carregava e de lá tirou um pequeno e comprido frasco tampado por uma rolha, contia um curioso liquido amarelado que brilhava contra a luz das tochas mais próximas.
O rapaz olhou para o frasquinho e instantaneamente fez uma cara de repulsa.
- Ah... a não. Láu, não...
- Vamos Dami, é um presente de boa sorte. -sorria gentilmente o loiro sujeito, entendendo a mão na qual o pequeno frasco repousava centrado em sua palma.
Aerieerf o encarava com desaprovação.
- Láu, você por acaso se lembra o que aconteceu quando eu fui cobaia dessas suas malditas formulas malucas? – falava enquanto cruzava os braços e dava um passo para trás.
- Dessa vez vai ser diferente! Eu prometo. Já testei esta nova fórmula em mim mesmo. – falava orgulhoso de sua pesquisa.
- Sei, e por acaso você ficou de cama por três semanas? – indagou inda bravo.
- Não, funcionou! – falou o loiro sujeito, mas agora desviando o olhar do amigo - Mas com a metade da eficiência planejada.
- Humhum.... – continuava descrente.
E, bem... Você se recuperou rapidamente da ultima vez. – ria um tanto constrangido – Vamos lá, não se esqueça que você vai encontrar um Jotum. Toda ajuda é bem vinda nessas horas Dami...
Pff... – riu o rapaz ainda se fazendo de durão – Três semanas, não se esqueça disso. - Falou enquanto pegava o pequeno frasco com raiva, um tanto relutante, ainda lembrando-se dos problemas em que havia entrado por causa da alquimia do amigo.
Alguns minutos se passam até que todos estejam prontos. Vagalumes agora brilhavam diminutos naquela quente noite. Vendo que já estava na hora, Angus arrumou a postura e começando a falar:
- Bem, todos aqui. Como podem ver, teremos companheiros de viagem – estendeu a mão em direção ao pequeno grupo de pessoas - Provavelmente todos conhecem a senhora Aline, nossa enfermeira chefe. Nacasiba insistiu que eu a levasse caso algum acidente ocorra. Esta é a Senhorita Yara
Angus apontou para a moça que estava de mãos dadas com o enorme homem, junto da enfermeira chefe. Rachel Yara era uma jovem e bela enfermeira. Sua pele “vermelha” e cabelos de um castanho escuro eram traços de uma verdadeira nativa das tribos selvagens das matas de Lyverith, mas os bonitos olhos azuis criavam um exótico contraste, já que o povo daquela etnia sempre possuía íris de um negro muito profundo.
Angus só chamava as outras pessoas pelos seus sobrenomes, ele continuava:
- O senhor Gonzalo também nos ajudará, com armadilhas e coisas do tipo – agora se dirigindo ao misterioso barbudo - Espero que todos estejam com tudo que precisam na mochila. Não vou esperar mais ninguém, partiremos imediatamente, como eu disse, oito horas. Se alguém tiver de voltar para pegar algo, fará mais um ano de treinamento. – deu uma pausa para jogar a bituca de cigarro longe. - Se acomodem na carruagem, ou na carroça. Vou precisar de mais alguns cavalos adicionais então quem quiser pode escolher um daqueles - apontou para alguns animais prontos para a viagem amarrados a uma viga - Não mais que quatro. Estamos entendidos?
Sem muita cerimônia e depois de uma breve despedida, todos se acomodaram e os transportes começaram a rumar noite a fora, saindo dos muros do complexo.
O que é Rune:
Uma história de fantasia, ambientada em uma época vitoriana. É um projeto no minimo ambicioso da minha parte, por que praticamente ainda não fiz nada parecido e bem. É isso. xD
Gostaria de pedir que caso forem comentar, o façam no outro tópico, para este ficar bem organizadinho. Obrigado e boa leitura. xD
Rune - Capitulo 1 - O Fim do Treinamento.
Parte 1:
Rune - Capitulo 1 - parte 1
Um novo dia começa.
Os primeiros raios de sol começavam a perfurar a irregular linha do horizonte salpicada de morros, montanhas e árvores quase sem folhagem, a neblina da madrugada ainda era densa em vários lugares, criando diminutos lagos de bruma em algumas depressões. Em quanto no topo de uma pequena torre, um pombo voa assustado com o repentino movimento do que há alguns segundos atrás era quase imóvel. Acordado pela ave que despreocupadamente havia pousado sobre sua encoberta nuca, uma pessoa sentada em uma cadeira e apoiada no parapeito da torre se descobre de uma suja manta de lã remendada desbotada, se espreguiçando.
Era um jovem na casa dos vinte anos de idade, coçava o queixo pontilhado por uma rala barba recém aparada com bastante sono enquanto tentava descobrir o que diabos havia o despertado do preguiçosos sono em que se encontrava momentos antes. Olhava para a bela paisagem a sua volta com seus olhos castanhos ainda entreabertos e cheios de remela, circundados por escuras olheiras, um tanto quanto doidos pela claridade. A brisa matinal soprava refrescante, bagunçando o seus já desarrumados e crespos cabelos amarronzados, o animando um pouco mais. A sua expressão cansada era a de quem não havia dormido nem um pouco durante ultimas noites. Com movimentos preguiçosos ele alcança uma luneta de madeira adornada com pequenos desenhos em prata, que estava escorada próxima a suas pernas. Direcionando o objeto para a entrada da cidade e após alguns segundos de varredura, sua expressão rapidamente muda, abrindo um sorriso nos lábios, que tinham uma cicatriz que subia cortando uma parte de sua bochecha esquerda. Falando com sigo mesmo balbuciou algo como:
- Bem na hora.
Levantou-se da cadeira espreguiçando-se, agora revelando sua estatura, que era bem normal, não muito baixo, nem muito alto. As roupagens que vestia eram uma grossa camiseta sem mangas de lã, por cima de uma camisa de manga longa cinzenta, sua calça era de couro decorada por finas listras de outro tecido amarelado. Dava para se dizer apenas por olhar que jovem era do tipo atlético, nem muito magro, nem musculoso de mais.
Lançando o cobertor para lá, dirigiu-se em ao companheiro de vigia.
- Damon... Damon... Acorda, eles estão chegando – falou tentando manter o tom de voz baixo.
O outro rapaz que estava no topo da torre estava sentado em uma cadeira, com os pés apoiados contra o parapeito e coberto com o mesmo tipo de cobertor, um tanto mais limpo do que o outro. Sem abrir os olhos, Damon responde ao colega com um tom seco e igualmente cansado de voz:
- Que ótimo... tá, mas deixa eu aqui – bocejou - Mal terminei meu turno, Aerieerf – falou enquanto puxava sua coberta até encobrir o rosto, voltando a cochilar.
Esse era um jovem com quase a mesma idade. Pele escura e cabelos um pouco mais escuros do que os do colega de vigila revelavam etnias distintas.
- Bem, você arruma tudo depois. - comentou o rapaz de cabelos amarronzados, agora retrucando com o mesmo tom seco do companheiro Damon.
Aerieerf dobrou de maneira apressada a coberta com a qual tinha se protegido do frio noturno. Pegou uma mochila que estava encima de algumas caixas, prendeu uma de suas alças em um dos ombros e então se pôs sobre parapeito da torre. O começo da manhã tinha um aroma de terra molhada, a madrugada havia sido fria com um incessante sereno. Enquanto inspira um pouco desse ar o rapaz olhou para baixo enquanto, sem esforço algum, se equilibrava na estreita amurada. Uma queda de nove metros de altura até o telhado do mercado municipal, que era uma estrutura com dois andares de altura, da onde a torre onde estava ele e o colega projetava-se aos céus. Sem fazer muito drama o rapaz se lançou para baixo, após um segundo de queda aterrissou firmemente na laje do grande prédio em um abafado baque. Logo em seguida, ergueu-se sem dificuldade começou a correr pelo telhado como se não tivesse feito aquele saldo suicida ou se machucado com a altura.
O que o rapaz tinha avistado entrando na cidade era uma grande carroça puxada por seis fortes cavalos negros. Uma grande forma retangular coberta com um pano remendado era transportada, dois homens ocupavam os assentos do veículo. Um mascava alguma planta enquanto calmamente lia a um livro, e o outro tinha as rédeas do transporte a suas mãos.
Saltando do telhado de uma casa até a calçada o rapaz fez seu caminho de maneira extremamente ágil até a carruagem. Cruzando com facilidade por grupos de pessoas que carregavam sacos com alimentos, caixotes com mercadorias, carroças e pedestres. Finalmente a alcançando, o rapaz para em frente à carruagem. O homem que estava a conduzindo rapidamente faz o transporte cessar o movimento puxando as rédeas. Este olhou nos olhos do rapaz com uma expressão de surpresa e levantou-se, então enquanto descia rapidamente de seu assento falou:
- Ah! Que bom que... Pelo visto ainda estão mantendo os horários de patrulha nos pontos de observação... Mesmo sem nós por aqui para dar as ordens.
O sujeito abriu um sorrio amigável ao fim da fala, estendendo a mão direita para cumprimentar o rapaz.
- Humm. Você sabe que o Velhote não deixaria ninguém abandonar as tarefas mais chatas. Nem que você tivesse saído por um milhão de anos Alexis. – O rapaz retribui o gesto em um caloroso aperto de mão seguido de um fraternal abraço.
- Ah, é verdade. - O homem faz uma pausa para coçar a barba, enquanto acenava positivamente com a cabeça.
Este era um sujeito maduro, de média estatura, com barba cheia e desarrumada. Seu cabelo castanho era amarrado atrás, sua pele era clara, mas um pouco bronzeada, seus olhos eram de um castanho muito claro, cor de âmbar e seu olhar inspirava confiança em qualquer um que falasse com ele. Vestia um sobretudo de couro surrado com capuz, assim como o outro sujeito que estava sentado no topo da carroça distraído. Mas não dava para não notar a quantidade peculiar de adagas que ele carrega em um adornado cinturão, salpicado de pedras preciosas. Todas as armas estavam firmemente penduradas para o lado esquerdo, com cabos que possuíam acabamentos únicos e bem brilhantes, dos quais era possível ver letras e símbolos de alguma linguagem antiga.
Enquanto gesticulava para o rapaz, Alexis subiu sem esforço na carruagem:
- Bem, a quanto tempo está lá olhando paro ar? - perguntou calmamente botando os cavalos para andar novamente e balançando a cabeça em direção a torre do mercado.
- Dois dias e algumas horas – respondeu de bate pronto o rapaz - e se me perguntar como foi... preferia ter tirado o dever de limpar os banheiros. Aquilo ali sim, é um inferno. - balançava negativamente a cabeça - Se eu já tivesse pego esse tralho teria pelo menos levado um livro!
- Pior do que os banheiros? - sorria Alexis - Ei... você não gosta nem de ler... é tão ruim assim Dami? - olhou desconfiado para o rapaz.
- É. - suspirou o rapaz desconfortado.
Passaram algum tempo em silêncio, o sujeito barbudo sacou um cantil de dentro de seu sobretudo e tomou um gole de alguma bebida amarga. A carruagem seguia tranquila o seu trajeto pela cidade, trafegando entre pedestres e outros transportes de tração animal.
- Bem... - continuou Alexis, fazendo uma pausa para verificar se o cantil estava realmente seco - Poderia ter sido pior...
- Ah... tá bom. – riu, o rapaz tentava prosseguir com a conversa sem parecer cansado - Hhumm... O negocio é que você voltou, e agora vou poder pegar as tarefas normais. Chega de mofar na torre!
- Não sabia que sentiu tanta saudade de mim. - Respondeu Alexis ironizando.
Após alguns segundos ele voltou a encarar o rapaz, e com sarcasmo estampado na cara perguntou:
- E quanto a seu instrutor? Sentiu falta dele também? - falou baixinho.
Apontando com o dedão para o outro sujeito que estava sentado ao lado, centrado lendo um livro.
O rapaz respondeu apenas fazendo uma cara de repulsa.
A cidade já era bem crescida, em comparação com o seu tempo de fundação. Exatamente cento e vinte e seis anos atrás, no ano de quatrocentos e vinte e sete do primeiro ciclo, o lugar não passava de uma área coberta por mato, breves fluxos fluviais e infestada de animais selvagens. Atualmente, havia luxuosos prédios com três andares em volta do agitado mercado municipal, que era o coração do lugar. Enfeitado por coloridas flâmulas saltava aos olhos dos que o viam pela primeira vez. Por lá as ruas já eram calçadas com pedras e se tinha até um pequeno sistema de esgotos em um quarteirão onde as casas mais ricas se encontravam. Grande parte se devia a sua privilegiada localização centralizada e ao bom clima, Setecolians era um ponto estratégico para o comercio de toda a região norte da colônia de Lyverith. A fazendo crescer com o rico fluxo de mercadores que iam e vinham para o local, alguns chegavam investir pesado na região, compravam terras e propriedade, se fixando como suas ricas famílias. De todas as partes até de colônias vizinhas comerciantes vinham para trocar produtos.
Seguindo o caminho a grande carroça cruzou praticamente toda a cidade. O trajeto durou quase duas horas, muito devido à tranquilidade do condutor, outra parte devido ao relevo repleto de ladeiras que cansava os cavalos que arrastavam a pesada carroça e seu misterioso conteúdo.
O homem de barba e o rapaz conversavam distraídos até que chegaram no lado oposto ao qual o transporte havia entrado em Setecolinas, em uma área mais rural, chegaram a um lugar que de longe mais parecia uma pequena fortaleza. Grossas paredes com cinco metros de altura e três de espessura repletas de guaritas, algumas equipadas com rústicos canhões, e alguns homens com rifles observando o movimento lá de cima rodeavam uma grande propriedade no topo de uma colina. Mais parecia uma pequena muralha que guarnecia o que parecia um armazém fortificado.
Passando pelos portões reforçados do lugar eles chegaram aos fundos, deixando a carruagem nos estábulos. O homem que se manteve silencioso durante todo o percurso fala ao longe com o rapaz que já estava se despedindo de Alexis:
- Sr. Aerieerf, amanhã ao nascer do sol, quero você e os outros recrutas no terceiro andar. Esteja avisado. – falou em tom extremamente autoritário.
Esse sujeito era um pouco mais jovem que o colega de viagem e um tanto mais alto, tinha a pele escura, seus lábios eram grossos e reforçavam sua etnia. Usava óculos com aros redondos com pequenos detalhes prateados em alguns pontos da armação de madeira, seus crespos cabelos eram muito curtos. Mas sem sombra de dúvidas o que mais chamava atenção ao se olhar para este individuo era uma brutal cicatriz esbranquiçada que cortava sua testa do topo do lado direito, um pouco adentrando seus cabelos, até a ponta da sobrancelha esquerda. Uma profunda laceração no mínimo dolorosa até de se observar.
- Como quiser... - Responde o rapaz em tom indiferente.
Sem sequer olhar nos olhos do homem de pele escura. Ele se dirigiu os enormes portões entreabertos do armazém, cumprimentando uma ou outra pessoa que encontrava no caminho.
Do lado de dentro do local, havia um monte de caixas dos mais variados tamanhos. Armas para tudo quanto era lado, espadas, adagas, lanças, arcos e mosquetes. Sacos com batatas, entre outros vegetais e caixotes com diversas especiarias também se encontravam empilhados aos montes em várias partes. Ao fundo, havia forjas, e pessoas trabalhado com ferro dentre outros metais, fazendo destes ferraduras, vigas, encanações, malhas metálicas, capacetes dentre outras peças. A fumaça das forjas criava um cone negro que ascendia sobre as chaminés, tornando a locação ainda mais chamativa. Era como um agitado formigueiro, pessoas ocupadas em seus ofícios iam e viam transportando mercadorias e matérias primas fazendo bastante barulho.
Lá dentro, aos fundos o rapaz fazia a curva em uma escada escondida de qualquer um que tentasse espiar para lá de fora do armazém.
Essa escada era grande e levava para baixo, para baixo da terra. Cinquenta espaçosos degraus de uma pedra escura em um caminho pobremente iluminado por fracas lâmpadas a óleo. Ele chegou a uma porta metálica reforçada ao fim da escadaria, com apenas uma fresta pela qual se dava para ver quem descia pelas escadarias. Na frente desta havia um senhor com barba preta comprida, e cabelos curtos meio grisalhos nos lados, lia tranquilamente um livro, enquanto fazia bolinhas de fumaça com um cachimbo. O rapaz saca uma peça de metal do bolso, do tamanho de uma laranja, só que achatada, com um símbolo simples que lembrava um raio, e algumas letras em um idioma estranho. Ele fala:
- Recruta DeValence, voltando do posto de observação do mercado - Com um tom mecânico que faz transparecer que isso já era parte da rotina.
Demorou-se alguns segundos para o rapaz perceber que parecia não ter sido ouvido pelo senhor a sua frente.
RHhumm... – pigarreou alto o rapaz.
Com meio que um breve susto o porteiro deu um diminuto salto do acento, fechando o livro que lia e deixando seu cachimbo quase que escapar dos lábios. Este olha para o rapaz forçando a vista para reconhecê-lo.
- DeValence? – perguntou arrumando o cachimbo.
- Sim – voltou a mostrar a peça de metal para o porteiro – Estava de vigia na torre do mercado, faz dois dias.
O senhor o olhou mais um momento, reparando no que o rapaz trazia consigo, vendo que tudo estava de acordo, levantou-se lentamente:
- Bem vindo garoto.
Este pôs-se de pé e puxou a pesada porta para o lado, abrindo passagem para um corredor largo de pedra pobremente iluminado por tochas.
Um novo dia começa.
Os primeiros raios de sol começavam a perfurar a irregular linha do horizonte salpicada de morros, montanhas e árvores quase sem folhagem, a neblina da madrugada ainda era densa em vários lugares, criando diminutos lagos de bruma em algumas depressões. Em quanto no topo de uma pequena torre, um pombo voa assustado com o repentino movimento do que há alguns segundos atrás era quase imóvel. Acordado pela ave que despreocupadamente havia pousado sobre sua encoberta nuca, uma pessoa sentada em uma cadeira e apoiada no parapeito da torre se descobre de uma suja manta de lã remendada desbotada, se espreguiçando.
Era um jovem na casa dos vinte anos de idade, coçava o queixo pontilhado por uma rala barba recém aparada com bastante sono enquanto tentava descobrir o que diabos havia o despertado do preguiçosos sono em que se encontrava momentos antes. Olhava para a bela paisagem a sua volta com seus olhos castanhos ainda entreabertos e cheios de remela, circundados por escuras olheiras, um tanto quanto doidos pela claridade. A brisa matinal soprava refrescante, bagunçando o seus já desarrumados e crespos cabelos amarronzados, o animando um pouco mais. A sua expressão cansada era a de quem não havia dormido nem um pouco durante ultimas noites. Com movimentos preguiçosos ele alcança uma luneta de madeira adornada com pequenos desenhos em prata, que estava escorada próxima a suas pernas. Direcionando o objeto para a entrada da cidade e após alguns segundos de varredura, sua expressão rapidamente muda, abrindo um sorriso nos lábios, que tinham uma cicatriz que subia cortando uma parte de sua bochecha esquerda. Falando com sigo mesmo balbuciou algo como:
- Bem na hora.
Levantou-se da cadeira espreguiçando-se, agora revelando sua estatura, que era bem normal, não muito baixo, nem muito alto. As roupagens que vestia eram uma grossa camiseta sem mangas de lã, por cima de uma camisa de manga longa cinzenta, sua calça era de couro decorada por finas listras de outro tecido amarelado. Dava para se dizer apenas por olhar que jovem era do tipo atlético, nem muito magro, nem musculoso de mais.
Lançando o cobertor para lá, dirigiu-se em ao companheiro de vigia.
- Damon... Damon... Acorda, eles estão chegando – falou tentando manter o tom de voz baixo.
O outro rapaz que estava no topo da torre estava sentado em uma cadeira, com os pés apoiados contra o parapeito e coberto com o mesmo tipo de cobertor, um tanto mais limpo do que o outro. Sem abrir os olhos, Damon responde ao colega com um tom seco e igualmente cansado de voz:
- Que ótimo... tá, mas deixa eu aqui – bocejou - Mal terminei meu turno, Aerieerf – falou enquanto puxava sua coberta até encobrir o rosto, voltando a cochilar.
Esse era um jovem com quase a mesma idade. Pele escura e cabelos um pouco mais escuros do que os do colega de vigila revelavam etnias distintas.
- Bem, você arruma tudo depois. - comentou o rapaz de cabelos amarronzados, agora retrucando com o mesmo tom seco do companheiro Damon.
Aerieerf dobrou de maneira apressada a coberta com a qual tinha se protegido do frio noturno. Pegou uma mochila que estava encima de algumas caixas, prendeu uma de suas alças em um dos ombros e então se pôs sobre parapeito da torre. O começo da manhã tinha um aroma de terra molhada, a madrugada havia sido fria com um incessante sereno. Enquanto inspira um pouco desse ar o rapaz olhou para baixo enquanto, sem esforço algum, se equilibrava na estreita amurada. Uma queda de nove metros de altura até o telhado do mercado municipal, que era uma estrutura com dois andares de altura, da onde a torre onde estava ele e o colega projetava-se aos céus. Sem fazer muito drama o rapaz se lançou para baixo, após um segundo de queda aterrissou firmemente na laje do grande prédio em um abafado baque. Logo em seguida, ergueu-se sem dificuldade começou a correr pelo telhado como se não tivesse feito aquele saldo suicida ou se machucado com a altura.
O que o rapaz tinha avistado entrando na cidade era uma grande carroça puxada por seis fortes cavalos negros. Uma grande forma retangular coberta com um pano remendado era transportada, dois homens ocupavam os assentos do veículo. Um mascava alguma planta enquanto calmamente lia a um livro, e o outro tinha as rédeas do transporte a suas mãos.
Saltando do telhado de uma casa até a calçada o rapaz fez seu caminho de maneira extremamente ágil até a carruagem. Cruzando com facilidade por grupos de pessoas que carregavam sacos com alimentos, caixotes com mercadorias, carroças e pedestres. Finalmente a alcançando, o rapaz para em frente à carruagem. O homem que estava a conduzindo rapidamente faz o transporte cessar o movimento puxando as rédeas. Este olhou nos olhos do rapaz com uma expressão de surpresa e levantou-se, então enquanto descia rapidamente de seu assento falou:
- Ah! Que bom que... Pelo visto ainda estão mantendo os horários de patrulha nos pontos de observação... Mesmo sem nós por aqui para dar as ordens.
O sujeito abriu um sorrio amigável ao fim da fala, estendendo a mão direita para cumprimentar o rapaz.
- Humm. Você sabe que o Velhote não deixaria ninguém abandonar as tarefas mais chatas. Nem que você tivesse saído por um milhão de anos Alexis. – O rapaz retribui o gesto em um caloroso aperto de mão seguido de um fraternal abraço.
- Ah, é verdade. - O homem faz uma pausa para coçar a barba, enquanto acenava positivamente com a cabeça.
Este era um sujeito maduro, de média estatura, com barba cheia e desarrumada. Seu cabelo castanho era amarrado atrás, sua pele era clara, mas um pouco bronzeada, seus olhos eram de um castanho muito claro, cor de âmbar e seu olhar inspirava confiança em qualquer um que falasse com ele. Vestia um sobretudo de couro surrado com capuz, assim como o outro sujeito que estava sentado no topo da carroça distraído. Mas não dava para não notar a quantidade peculiar de adagas que ele carrega em um adornado cinturão, salpicado de pedras preciosas. Todas as armas estavam firmemente penduradas para o lado esquerdo, com cabos que possuíam acabamentos únicos e bem brilhantes, dos quais era possível ver letras e símbolos de alguma linguagem antiga.
Enquanto gesticulava para o rapaz, Alexis subiu sem esforço na carruagem:
- Bem, a quanto tempo está lá olhando paro ar? - perguntou calmamente botando os cavalos para andar novamente e balançando a cabeça em direção a torre do mercado.
- Dois dias e algumas horas – respondeu de bate pronto o rapaz - e se me perguntar como foi... preferia ter tirado o dever de limpar os banheiros. Aquilo ali sim, é um inferno. - balançava negativamente a cabeça - Se eu já tivesse pego esse tralho teria pelo menos levado um livro!
- Pior do que os banheiros? - sorria Alexis - Ei... você não gosta nem de ler... é tão ruim assim Dami? - olhou desconfiado para o rapaz.
- É. - suspirou o rapaz desconfortado.
Passaram algum tempo em silêncio, o sujeito barbudo sacou um cantil de dentro de seu sobretudo e tomou um gole de alguma bebida amarga. A carruagem seguia tranquila o seu trajeto pela cidade, trafegando entre pedestres e outros transportes de tração animal.
- Bem... - continuou Alexis, fazendo uma pausa para verificar se o cantil estava realmente seco - Poderia ter sido pior...
- Ah... tá bom. – riu, o rapaz tentava prosseguir com a conversa sem parecer cansado - Hhumm... O negocio é que você voltou, e agora vou poder pegar as tarefas normais. Chega de mofar na torre!
- Não sabia que sentiu tanta saudade de mim. - Respondeu Alexis ironizando.
Após alguns segundos ele voltou a encarar o rapaz, e com sarcasmo estampado na cara perguntou:
- E quanto a seu instrutor? Sentiu falta dele também? - falou baixinho.
Apontando com o dedão para o outro sujeito que estava sentado ao lado, centrado lendo um livro.
O rapaz respondeu apenas fazendo uma cara de repulsa.
A cidade já era bem crescida, em comparação com o seu tempo de fundação. Exatamente cento e vinte e seis anos atrás, no ano de quatrocentos e vinte e sete do primeiro ciclo, o lugar não passava de uma área coberta por mato, breves fluxos fluviais e infestada de animais selvagens. Atualmente, havia luxuosos prédios com três andares em volta do agitado mercado municipal, que era o coração do lugar. Enfeitado por coloridas flâmulas saltava aos olhos dos que o viam pela primeira vez. Por lá as ruas já eram calçadas com pedras e se tinha até um pequeno sistema de esgotos em um quarteirão onde as casas mais ricas se encontravam. Grande parte se devia a sua privilegiada localização centralizada e ao bom clima, Setecolians era um ponto estratégico para o comercio de toda a região norte da colônia de Lyverith. A fazendo crescer com o rico fluxo de mercadores que iam e vinham para o local, alguns chegavam investir pesado na região, compravam terras e propriedade, se fixando como suas ricas famílias. De todas as partes até de colônias vizinhas comerciantes vinham para trocar produtos.
Seguindo o caminho a grande carroça cruzou praticamente toda a cidade. O trajeto durou quase duas horas, muito devido à tranquilidade do condutor, outra parte devido ao relevo repleto de ladeiras que cansava os cavalos que arrastavam a pesada carroça e seu misterioso conteúdo.
O homem de barba e o rapaz conversavam distraídos até que chegaram no lado oposto ao qual o transporte havia entrado em Setecolinas, em uma área mais rural, chegaram a um lugar que de longe mais parecia uma pequena fortaleza. Grossas paredes com cinco metros de altura e três de espessura repletas de guaritas, algumas equipadas com rústicos canhões, e alguns homens com rifles observando o movimento lá de cima rodeavam uma grande propriedade no topo de uma colina. Mais parecia uma pequena muralha que guarnecia o que parecia um armazém fortificado.
Passando pelos portões reforçados do lugar eles chegaram aos fundos, deixando a carruagem nos estábulos. O homem que se manteve silencioso durante todo o percurso fala ao longe com o rapaz que já estava se despedindo de Alexis:
- Sr. Aerieerf, amanhã ao nascer do sol, quero você e os outros recrutas no terceiro andar. Esteja avisado. – falou em tom extremamente autoritário.
Esse sujeito era um pouco mais jovem que o colega de viagem e um tanto mais alto, tinha a pele escura, seus lábios eram grossos e reforçavam sua etnia. Usava óculos com aros redondos com pequenos detalhes prateados em alguns pontos da armação de madeira, seus crespos cabelos eram muito curtos. Mas sem sombra de dúvidas o que mais chamava atenção ao se olhar para este individuo era uma brutal cicatriz esbranquiçada que cortava sua testa do topo do lado direito, um pouco adentrando seus cabelos, até a ponta da sobrancelha esquerda. Uma profunda laceração no mínimo dolorosa até de se observar.
- Como quiser... - Responde o rapaz em tom indiferente.
Sem sequer olhar nos olhos do homem de pele escura. Ele se dirigiu os enormes portões entreabertos do armazém, cumprimentando uma ou outra pessoa que encontrava no caminho.
Do lado de dentro do local, havia um monte de caixas dos mais variados tamanhos. Armas para tudo quanto era lado, espadas, adagas, lanças, arcos e mosquetes. Sacos com batatas, entre outros vegetais e caixotes com diversas especiarias também se encontravam empilhados aos montes em várias partes. Ao fundo, havia forjas, e pessoas trabalhado com ferro dentre outros metais, fazendo destes ferraduras, vigas, encanações, malhas metálicas, capacetes dentre outras peças. A fumaça das forjas criava um cone negro que ascendia sobre as chaminés, tornando a locação ainda mais chamativa. Era como um agitado formigueiro, pessoas ocupadas em seus ofícios iam e viam transportando mercadorias e matérias primas fazendo bastante barulho.
Lá dentro, aos fundos o rapaz fazia a curva em uma escada escondida de qualquer um que tentasse espiar para lá de fora do armazém.
Essa escada era grande e levava para baixo, para baixo da terra. Cinquenta espaçosos degraus de uma pedra escura em um caminho pobremente iluminado por fracas lâmpadas a óleo. Ele chegou a uma porta metálica reforçada ao fim da escadaria, com apenas uma fresta pela qual se dava para ver quem descia pelas escadarias. Na frente desta havia um senhor com barba preta comprida, e cabelos curtos meio grisalhos nos lados, lia tranquilamente um livro, enquanto fazia bolinhas de fumaça com um cachimbo. O rapaz saca uma peça de metal do bolso, do tamanho de uma laranja, só que achatada, com um símbolo simples que lembrava um raio, e algumas letras em um idioma estranho. Ele fala:
- Recruta DeValence, voltando do posto de observação do mercado - Com um tom mecânico que faz transparecer que isso já era parte da rotina.
Demorou-se alguns segundos para o rapaz perceber que parecia não ter sido ouvido pelo senhor a sua frente.
RHhumm... – pigarreou alto o rapaz.
Com meio que um breve susto o porteiro deu um diminuto salto do acento, fechando o livro que lia e deixando seu cachimbo quase que escapar dos lábios. Este olha para o rapaz forçando a vista para reconhecê-lo.
- DeValence? – perguntou arrumando o cachimbo.
- Sim – voltou a mostrar a peça de metal para o porteiro – Estava de vigia na torre do mercado, faz dois dias.
O senhor o olhou mais um momento, reparando no que o rapaz trazia consigo, vendo que tudo estava de acordo, levantou-se lentamente:
- Bem vindo garoto.
Este pôs-se de pé e puxou a pesada porta para o lado, abrindo passagem para um corredor largo de pedra pobremente iluminado por tochas.
Parte 2:
Rune - Capitulo 1 - parte 2
O rapaz continuou seu trajeto, passando por uma câmara na qual deixou alguns papéis que trazia em seus bolsos a uma senhora, saindo de lá desceu mais quatro lances de escada, cada um com seus cento e cinquenta escuros degraus até um andar onde havia um corredor com várias portas em cada um dos lados, os lances de escadas prosseguiam para baixo, deixado evidente que aquilo era apenas mais um de vários andares daquele lugar, que casa vez mais penetrava no subsolo da propriedade do grande armazém na superfície.
O rapaz para enfrente a uma humilde porta de madeira, com uma placa de metal exibindo uma numeração, vinte e sete. Ele saca uma chave e abre a fechadura. O local estava completamente frio e escuro, então o rapaz como quem não quer nada olhou para o corredor a sua direita, lá não havia ninguém. olhou para a esquerda e não viu sequer uma viva alma passando por lá também. Com isso virou-se e retirou de uma parede próxima uma lâmpada a óleo para iluminar a escuridão.
Era um quarto simples e bem pequeno. Uma cama, um armário, um espelho embasado e uma escrivaninha com vários livros abertos, papéis amassados e pergaminhos bagunçados. Sobre a mesma escrivaninha havia um pequeno castiçal com uma grossa vela apagada, parcialmente já derretida, do tipo que é feita para durar dias. Com cuidado, o jovem a acendeu com a lâmpada a olho que carregava com sigo, iluminando um pouco mais.
Toda a mobila do local era velha e um tanto empoeirada, coisa de décadas, ou talvez mais. O rapaz trancou a porta e largou sua mochila no canto da parede. Colocou a peça de metal com a qual havia se apresentado ao porteiro sobre a mesa e com os pés tirou as rústicas botas de couro que calçava, após isso se jogou todo mole em sua cama desarrumada. Era bom deitar em algo macio depois de ficar feito uma gárgula por mais de dois dias no alto daquele ponto de observação.
O quinto andar daquele complexo subterrâneo era um local imenso, quase uma caverna dessas que se encontra em locais remotos, se não fosse evidente que ali o ambiente era todo contado e esculpido artificialmente, as pedras que compunham o chão, as paredes e o teto eram todas cortadas de maneira a ficaram incrivelmente lizas e uniformes, era bem óbvio que aquele local não foi nada fácil de ser construído até pelos mais habilidosos e inventivos pedreiros e arquitetos.
Iluminado por várias tochas e velas, era uma grande câmara sombria e bem fria, por estar a tantos metros dentro da terra. Possuía furos em seu chão e paredes, os quais eram bem elaborados dutos para passagem de ar e sistema de escoamento de líquidos, tanto para os andares superiores quanto para os inferiores, todos trancafiados por grossas barras de metal negro que evitariam qualquer manobra de intrusão por tais passagens. Robustos encanamentos projetavam-se para fora em alguns pontos das paredes e adentravam no teto ou no chão, alguns vazando gotejamentos de água, outros deixando um pouco de vapor escapar, quebrando o silêncio do escuro lugar.
- Muito bem recrutas. – pronunciou-se o homem de pele escura e cicatriz na testa.
Este se encontrava bem no centro da grande câmara. Estava encostado em uma conjunto de encanações que cruzavam verticalmente o ambiente. Tinha uma pequena lâmpada a óleo próxima a seus pés, o iluminando. Ele continuou:
- Tenho boas notícias para vocês. Depois de do jantar de ontem, eu e Nacasiba entramos em consenso. O treinamento de vocês acaba hoje.
Aquele pronunciamento gerou olhares dos mais variados tipos vindos do grupo de dezessete jovens que, conforme o ordenado, lá se encontravam a sua frente. As idades variavam, o mais novo era quase um adolescente, o mais velho tinha cara de trinta, aproximadamente. O grupo era composto por quatorze homens e três mulheres.
O homem com cicatriz continuava:
- Amanhã, sairemos em viagem. Será o primeiro trabalho em campo de quase todos vocês, não é mesmo? – e sem esperar por qualquer resposta continuou - Um trabalho de verdade. – falou enquanto seu olhar sondava o grupo - Bem, como instrutor estarei disponível para consultas durante toda à tarde de hoje. Se decidirem não comparecerem amanhã. Farão mais um ano de treinamento. Quando falo um trabalho de verdade é por que ninguém vai garantir que todos voltem sãos e salvos, lembrem-se disso. Não posso revelar mais detalhes. - coçou o queixo com indiferença. Isso é tudo. Hoje vocês tem o dia livre. Perguntas?
Um dos recrutas, Damon, o rapaz de cabelo curto e pele escura que estava dormindo na torre, levantou a mão.
- Sim Sr. Damon? – falou o instrutor.
- Por que todo o segredo? Por que não informar os riscos agora? – era um dos que estavam mais próximos do instrutor.
- Bem... – falou Angus, mas parou um pouco, arrumando os óculos - Por que amanhã eu quero apenas aqueles que vão ter certeza de que são capazes de fazer um trabalho em nome do Sedoc, senhor Damon... – sorriu cinicamente - Capazes de assumir os riscos e responsabilidades. Não quero nem ver a cara dos relutantes. Bem, além do fato de que eu não recebi os detalhes de qualquer forma... – pausou novamente, agora olhando para os desconfiados recrutas – Sabem? Posso bem estar arrastando todos vocês para uma morte lenta e dolorosa, então... não quero ter ninguém choramingando por que “inda não estão prontos” – ria consigo mesmo, a ideia de ter alguns recrutas mortos parecia o animar, ou ao menos foi isso que fez transparecer.
- Angus, senhor... isso não faz sentido, se aparecermos amanhã sem saber o que nos aguarda. – falou Damon com o devido respeito, contestando a controversa resposta do instrutor.
- Bem, veja por este lado senhor Damon: A vida é como uma caixinha de surpresas! – sorriu cinicamente - E quando você aceita viver sobre o estilo de vida do Sedoc, de um soldado do Sedoc, um verdadeiro Aesir, é preciso estar pronto para tudo que seus superiores ordenarem.
- Argh...Isso é uma idiotice - resmungou o recruta Aerieerf, que estava entre os últimos, no fundo da grande sala.
Era perceptível que Angus havia o escutado de alguma maneira, pois agora encarava diretamente o rapaz com um olhar desafiador, mesmo que o rabugento comentário tenha sido proferido como murmúrio.
-Mais perguntas? – e mais uma vez não esperou por qualquer resposta - Não? Ótimo! Estão dispensados. – falou puxando bruscamente um cigarro de seu bolso, o qual foi logo prendendo ente os grossos lábios. - Ah sim... eu ouvi seu comentário senhor Aerieerf – completou sorrindo maldosamente.
Aerieerf o encarou por uma fração de segundo.
- Que bom Cicatriz, já sabe minha opinião. – falou o rapaz em um tom seco, enquanto se virava retirando-se lentamente do local.
Nada fez o instrutor, apenas o observou o zangado rapaz partir. Voltou a observar calmamente o grupo a sua frente acendendo o cigarro e gesticulando com a mão livre para debandarem dali. Era evidente que Angus detestava aquele trabalho e não tinha um pingo só de paciência com os recrutas.
Quem diria que um complexo daquele tamanho se esconderia em baixo de um armazém? O andar número dois também era aonde se encontrava o salão comunal, onde todo o pessoal que habitava o complexo comia, bebia e algumas vezes perdidas havia comemorações. Era um salão com várias mesas de madeira bem rústicas, que comportaria facilmente duzentas pessoas sentadas. Possuía locais para se cozinhar alimentos em quase todas as quinas, era local de grandes festas. Muito embora a imensa cozinha que se escondia nos fundos da câmara dessa conta da demanda de comida de todos que lá se alimentavam pro si só.
- Então, quer dizer que...
- Que o Cicatriz é um idiota, sim isso eu já te falei assim que olhei para a cara dele, na primeira vez que nos encontramos... Além de ser um péssimo instrutor... - falava Aerieerf . Tomou uma golada de água para refrescar a boca e garganta. - Queria ter tido Alexis como meu instrutor, ou alguém com o mínimo de habilidade para transferir conhecimento... – estava a tomar um ensopado - Ele te treinou não foi Láu?
O rapaz conversava com outro sujeito que estava sentado na mesma mesa na qual jantava. Este era jovem, loiro, de cabelo bem liso e penteado, um tanto mais velho que o moreno de cabelos desarrumados.
- Foi sim... Alexis Baltazar. É... Ele é boa gente, muito bom no que faz e tudo mais, é bem paciente... e tem um grande conhecimento de quase tudo que se precisa transmitir para os recrutas. Isso tudo antes mesmo dele ter virado um dos Jarls. - responde o jovem homem, já tinha acabado sua refeição então apenas observava o amigo comer enquanto jogavam conversa fora.
- Tsh... sortudo. – respondeu Aerieerf , um tanto desanimado . Tomou uma colherada do ensopado fumegante, demorou um pouco e então falou:
- Se o cicatriz é tão importante a ponto de ser um Jarl, por que diabos ele ficou de nos treinar!? – indagou enquanto olhava envolta para ver se não havia ninguém espiando a conversa deles.
- Humm, Dami, quem decide quem vai ser o instrutor, assim como qualquer outro cargo aqui dentro é o nosso Grão-mestre.
O Velhote? – tomava outra colherada – E eu que pensava que ele sabia das coisas – suspirou, pensando em algo para mudar o assunto da conversa - Olha, Láu, qual foi sua primeira missão?
- Ah... Vejamos – falou olhando para o nada tentando lembrar-se - Foi uma viagem, faz um tempo já, cinco anos... eu acho... – sorria ao relembrar - tive que pegar uma carga com suprimentos de alquimia para os laboratórios. Foi bem tranquila, nada aconteceu. E... bem... dormi a maioria do tempo, um outro cara que conduziu a carruagem a viagem toda. Depois disso quase não sai mais, sempre gostei de estudar aqui.
Dava para ver só de se olhar para o jovem homem que o que ele falava era verdade, parecia mais um daqueles estudiosos de monastério, magrelo, pálido e com óculos de aro grosso, apresentava escuras olheiras de noites em claro lendo, estudando e aprendendo compulsivamente.
Os dois conversavam sentados em uma das mesas afastados das demais pessoas que lá estavam almoçando. O barulho no lugar era grande, o que de certa forma, os dava privacidade.
- Ah é? Hhumm... Deve ter sido... Emocionante – sem pressa o rapaz rasgou um pedaço de pão e molhou no ensopado. - Hummm... Quer saber, não importa o que o idiota do Cicatriz queria que façamos amanhã, não ligo, eu vou deixar de ser recruta de uma vez por todas, chaga dessa vida, chega de ser o inferior... Depois vou pedir para trabalhar com Alexis e nunca mais dever favor a aquele outro miserável. – falou Aerieerf com um tanto de ódio em seus olhos.
- Dami, quando você não gosta de alguém você não gosta mesmo né? - perguntava gentil jovem o encarando através dos grossos óculos.
- Harg... Tento não deixar tão aparente. – respondeu Aerieerf , desviando o olhar.
Logo o amigo retribui a resposta com uma risada.
O dia seguinte chegou. O fundo do “Armazém” era enorme, muitas árvores enfeitavam o ambiente aqui e ali. Algumas muito velhas, outras muito novas, criando agradáveis sombras contornando os caminhos de terra do interior murado da propriedade. Por lá, pessoas iam e vinham, transportando mercadorias e armas, comida e animais. Caixas e mais caixas se amontoavam em vários lugares em torno do grande estábulo próximo aos muros do local.
Na frente de um grande estábulo de madeira estava Angus que pontualmente esperava seus “pupilos”, escorado em uma das vigas de madeira da construção. Um ou outro iam chegando, mas ninguém tão cedo quanto ele.
Duas das moças, o caçula do grupo, o mais velho também, depois de alguns minutos, nove dos dezessete estavam presentes, dentre eles, Aerieerf e Damon.
Angus limpava seus óculos com o tecido de sua blusa enquanto bocejava despreocupado, rapidamente passou uma vista nos que apareceram. Sem perder muito tempo ele começou:
- Muito bem, vejo que terei que perder meu tempo com muita gente por mais um ano – esta afirmação soou mais como um pensamento que acabou por ser alto demais, começou a rir e balançar a cabeça negativamente - Vejamos, gostaria de dar meus parabéns aos que compareceram, muito embora ninguém veio me consultar ontem. O que foi bom, pude terminar um livro... – mais uma vez pôs seus olhos julgadores sobre o pessoal recém agrupado - Um, dois, três, cinco, sete. Bem é um bom número.
- Nove, Sr. Angus. - Corrigiu Damon.
- Bem, não exatamente, senhor Damon. Estou dispensando dois recrutas. – esta frase acabou gerando surpresa imediata vinda do grupo - Sr. Rufhalo, você está dispensado por ser muito jovem - agora bem mais serio e usando um tom autoritário - Não quero um moleque feito você em trabalho de campo. É agitado de mias, ou eu poderia dizer... Desajeitado de mais. Pode comprometer todo o grupo – falava enquanto encarava muito sério o jovem - Quase reprovado nos exames físicos no ultimo mês... hhum... é isso, vá embora.
O jovem Rufhalo imediatamente demonstrou uma expressão de raiva e desapontamento. Era muito enérgico, aplicado e esforçado, mas era de fato, muito novo no grupo não só na idade, mas em tempo de treinamento, havia se unido a turma a apenas um ano, ao passo que os outros já estavam a pelo menos o dobro de tempo. Não era nenhum recruta genial para se destacar com sua idade e querendo ou não, sabia disso.
- Sr. Angelo, você está dispensado por ser inexperiente, e de longe o menos condicionado fisicamente do grupo.
Embora o instrutor Angus fosse direto, ele falava a verdade, os dois possuíam estas deficiências, e não só era evidente para o instrutor, mas para todos os outros recrutas a dura realidade destes fatos.
- Vamos, podem se retirar. – insistiu o instrutor - Estão dispensados. Se insistirem, vou castigá-los. - falava enquanto acenava para irem embora.
Nenhum dos dois contestou verbalmente, Angelo parecia mais conformado. Ele era tímido demais para falar qualquer coisa na cara de Angus. Muito diferente de Ruffalo, que parecia que iria sair esmurrando as árvores no caminho de volta.
-Melhor sorte ano que vem Pirralho – Aerieerf em tom amigável. Tentou por sua mão no ombro do colega recruta. Mas este desviou-se enquanto passa ele, que estava afastado do resto do grupo.
Angus esperou até que os dois dispensados saíssem de sua vista, acenou para a turma entrar no estábulo, então todos o acompanharam com ansiedade. Arrumou os óculos enquanto virava-se novamente para encarar a turma, então começou:
- Bem, vamos ao assunto. Estão vendo essa carroça?
Estava próximo a grande carroça coberta que ele trouxe de viagem juntamente com seu colega Alexis. O transporte estava no momento sem nenhum cavalo amarrado ao seu eixo. Angus puxa a coberta de couro revelando a enorme forma retangular que estava até então oculta: Uma estrutura metálica que na verdade era uma enorme jaula, com barras de metal negro muito grossas. Seu mecanismo de trava era altamente complexo, não havia cadeado, apenas um grande buraco, onde entraria uma chave e uma barra com vários aros que possuíam correntes igualmente grossas, algo para abrir as duas portas da jaula. Alguém no meio dos recrutas perguntou o óbvio:
- Uma jaula Senhor?
Angus revirou os olhos.
- Bem, como vocês já devem ter estudado. Algumas “coisas” que não são daqui estão aparecendo já a um tempo. E com cada vez mais frequência.
Alguns se impressionaram pelo rabugento instrutor não ter respondido algo como: “Sim, é uma jaula para prender animais, pode entrar por favor...” Ao recruta que havia o questionado.
- Jotuns? – indagou Damon sem pestanejar.
- Exato. - Confirmava Angus sem muita emoção. Seguido de uma grande comoção dos outros presentes.- Fui designado por Nacasiba para caçar um possível Jotun que relataram aparecer em um vilarejo a três dias de viajem.
- Então está explicado por que todo o segredo. Esperei muito tempo para ver um. - Comenta uma das moças para a sua amiga.
- Vocês vão me ajudar a montar a armadilha e transportá-lo de volta para cá... se é que encontraremos realmente ume. Preciso também de mais gente para transportar suprimentos e equipamentos, estas serão suas tarefas. Iremos usar uma rota pouco movimentada e por isso a viagem irá demorar mais um ou dois dias. Quero todos prontos aqui, prontos, ao escurecer. Partiremos às oito horas. – e com pressa concluiu - Estão dispensados.
Os recrutas foram voltando para o complexo, alguns animados, outros assustados, mas com certeza todos os sete estavam muito ansiosos.
O rapaz continuou seu trajeto, passando por uma câmara na qual deixou alguns papéis que trazia em seus bolsos a uma senhora, saindo de lá desceu mais quatro lances de escada, cada um com seus cento e cinquenta escuros degraus até um andar onde havia um corredor com várias portas em cada um dos lados, os lances de escadas prosseguiam para baixo, deixado evidente que aquilo era apenas mais um de vários andares daquele lugar, que casa vez mais penetrava no subsolo da propriedade do grande armazém na superfície.
O rapaz para enfrente a uma humilde porta de madeira, com uma placa de metal exibindo uma numeração, vinte e sete. Ele saca uma chave e abre a fechadura. O local estava completamente frio e escuro, então o rapaz como quem não quer nada olhou para o corredor a sua direita, lá não havia ninguém. olhou para a esquerda e não viu sequer uma viva alma passando por lá também. Com isso virou-se e retirou de uma parede próxima uma lâmpada a óleo para iluminar a escuridão.
Era um quarto simples e bem pequeno. Uma cama, um armário, um espelho embasado e uma escrivaninha com vários livros abertos, papéis amassados e pergaminhos bagunçados. Sobre a mesma escrivaninha havia um pequeno castiçal com uma grossa vela apagada, parcialmente já derretida, do tipo que é feita para durar dias. Com cuidado, o jovem a acendeu com a lâmpada a olho que carregava com sigo, iluminando um pouco mais.
Toda a mobila do local era velha e um tanto empoeirada, coisa de décadas, ou talvez mais. O rapaz trancou a porta e largou sua mochila no canto da parede. Colocou a peça de metal com a qual havia se apresentado ao porteiro sobre a mesa e com os pés tirou as rústicas botas de couro que calçava, após isso se jogou todo mole em sua cama desarrumada. Era bom deitar em algo macio depois de ficar feito uma gárgula por mais de dois dias no alto daquele ponto de observação.
O quinto andar daquele complexo subterrâneo era um local imenso, quase uma caverna dessas que se encontra em locais remotos, se não fosse evidente que ali o ambiente era todo contado e esculpido artificialmente, as pedras que compunham o chão, as paredes e o teto eram todas cortadas de maneira a ficaram incrivelmente lizas e uniformes, era bem óbvio que aquele local não foi nada fácil de ser construído até pelos mais habilidosos e inventivos pedreiros e arquitetos.
Iluminado por várias tochas e velas, era uma grande câmara sombria e bem fria, por estar a tantos metros dentro da terra. Possuía furos em seu chão e paredes, os quais eram bem elaborados dutos para passagem de ar e sistema de escoamento de líquidos, tanto para os andares superiores quanto para os inferiores, todos trancafiados por grossas barras de metal negro que evitariam qualquer manobra de intrusão por tais passagens. Robustos encanamentos projetavam-se para fora em alguns pontos das paredes e adentravam no teto ou no chão, alguns vazando gotejamentos de água, outros deixando um pouco de vapor escapar, quebrando o silêncio do escuro lugar.
- Muito bem recrutas. – pronunciou-se o homem de pele escura e cicatriz na testa.
Este se encontrava bem no centro da grande câmara. Estava encostado em uma conjunto de encanações que cruzavam verticalmente o ambiente. Tinha uma pequena lâmpada a óleo próxima a seus pés, o iluminando. Ele continuou:
- Tenho boas notícias para vocês. Depois de do jantar de ontem, eu e Nacasiba entramos em consenso. O treinamento de vocês acaba hoje.
Aquele pronunciamento gerou olhares dos mais variados tipos vindos do grupo de dezessete jovens que, conforme o ordenado, lá se encontravam a sua frente. As idades variavam, o mais novo era quase um adolescente, o mais velho tinha cara de trinta, aproximadamente. O grupo era composto por quatorze homens e três mulheres.
O homem com cicatriz continuava:
- Amanhã, sairemos em viagem. Será o primeiro trabalho em campo de quase todos vocês, não é mesmo? – e sem esperar por qualquer resposta continuou - Um trabalho de verdade. – falou enquanto seu olhar sondava o grupo - Bem, como instrutor estarei disponível para consultas durante toda à tarde de hoje. Se decidirem não comparecerem amanhã. Farão mais um ano de treinamento. Quando falo um trabalho de verdade é por que ninguém vai garantir que todos voltem sãos e salvos, lembrem-se disso. Não posso revelar mais detalhes. - coçou o queixo com indiferença. Isso é tudo. Hoje vocês tem o dia livre. Perguntas?
Um dos recrutas, Damon, o rapaz de cabelo curto e pele escura que estava dormindo na torre, levantou a mão.
- Sim Sr. Damon? – falou o instrutor.
- Por que todo o segredo? Por que não informar os riscos agora? – era um dos que estavam mais próximos do instrutor.
- Bem... – falou Angus, mas parou um pouco, arrumando os óculos - Por que amanhã eu quero apenas aqueles que vão ter certeza de que são capazes de fazer um trabalho em nome do Sedoc, senhor Damon... – sorriu cinicamente - Capazes de assumir os riscos e responsabilidades. Não quero nem ver a cara dos relutantes. Bem, além do fato de que eu não recebi os detalhes de qualquer forma... – pausou novamente, agora olhando para os desconfiados recrutas – Sabem? Posso bem estar arrastando todos vocês para uma morte lenta e dolorosa, então... não quero ter ninguém choramingando por que “inda não estão prontos” – ria consigo mesmo, a ideia de ter alguns recrutas mortos parecia o animar, ou ao menos foi isso que fez transparecer.
- Angus, senhor... isso não faz sentido, se aparecermos amanhã sem saber o que nos aguarda. – falou Damon com o devido respeito, contestando a controversa resposta do instrutor.
- Bem, veja por este lado senhor Damon: A vida é como uma caixinha de surpresas! – sorriu cinicamente - E quando você aceita viver sobre o estilo de vida do Sedoc, de um soldado do Sedoc, um verdadeiro Aesir, é preciso estar pronto para tudo que seus superiores ordenarem.
- Argh...Isso é uma idiotice - resmungou o recruta Aerieerf, que estava entre os últimos, no fundo da grande sala.
Era perceptível que Angus havia o escutado de alguma maneira, pois agora encarava diretamente o rapaz com um olhar desafiador, mesmo que o rabugento comentário tenha sido proferido como murmúrio.
-Mais perguntas? – e mais uma vez não esperou por qualquer resposta - Não? Ótimo! Estão dispensados. – falou puxando bruscamente um cigarro de seu bolso, o qual foi logo prendendo ente os grossos lábios. - Ah sim... eu ouvi seu comentário senhor Aerieerf – completou sorrindo maldosamente.
Aerieerf o encarou por uma fração de segundo.
- Que bom Cicatriz, já sabe minha opinião. – falou o rapaz em um tom seco, enquanto se virava retirando-se lentamente do local.
Nada fez o instrutor, apenas o observou o zangado rapaz partir. Voltou a observar calmamente o grupo a sua frente acendendo o cigarro e gesticulando com a mão livre para debandarem dali. Era evidente que Angus detestava aquele trabalho e não tinha um pingo só de paciência com os recrutas.
Quem diria que um complexo daquele tamanho se esconderia em baixo de um armazém? O andar número dois também era aonde se encontrava o salão comunal, onde todo o pessoal que habitava o complexo comia, bebia e algumas vezes perdidas havia comemorações. Era um salão com várias mesas de madeira bem rústicas, que comportaria facilmente duzentas pessoas sentadas. Possuía locais para se cozinhar alimentos em quase todas as quinas, era local de grandes festas. Muito embora a imensa cozinha que se escondia nos fundos da câmara dessa conta da demanda de comida de todos que lá se alimentavam pro si só.
- Então, quer dizer que...
- Que o Cicatriz é um idiota, sim isso eu já te falei assim que olhei para a cara dele, na primeira vez que nos encontramos... Além de ser um péssimo instrutor... - falava Aerieerf . Tomou uma golada de água para refrescar a boca e garganta. - Queria ter tido Alexis como meu instrutor, ou alguém com o mínimo de habilidade para transferir conhecimento... – estava a tomar um ensopado - Ele te treinou não foi Láu?
O rapaz conversava com outro sujeito que estava sentado na mesma mesa na qual jantava. Este era jovem, loiro, de cabelo bem liso e penteado, um tanto mais velho que o moreno de cabelos desarrumados.
- Foi sim... Alexis Baltazar. É... Ele é boa gente, muito bom no que faz e tudo mais, é bem paciente... e tem um grande conhecimento de quase tudo que se precisa transmitir para os recrutas. Isso tudo antes mesmo dele ter virado um dos Jarls. - responde o jovem homem, já tinha acabado sua refeição então apenas observava o amigo comer enquanto jogavam conversa fora.
- Tsh... sortudo. – respondeu Aerieerf , um tanto desanimado . Tomou uma colherada do ensopado fumegante, demorou um pouco e então falou:
- Se o cicatriz é tão importante a ponto de ser um Jarl, por que diabos ele ficou de nos treinar!? – indagou enquanto olhava envolta para ver se não havia ninguém espiando a conversa deles.
- Humm, Dami, quem decide quem vai ser o instrutor, assim como qualquer outro cargo aqui dentro é o nosso Grão-mestre.
O Velhote? – tomava outra colherada – E eu que pensava que ele sabia das coisas – suspirou, pensando em algo para mudar o assunto da conversa - Olha, Láu, qual foi sua primeira missão?
- Ah... Vejamos – falou olhando para o nada tentando lembrar-se - Foi uma viagem, faz um tempo já, cinco anos... eu acho... – sorria ao relembrar - tive que pegar uma carga com suprimentos de alquimia para os laboratórios. Foi bem tranquila, nada aconteceu. E... bem... dormi a maioria do tempo, um outro cara que conduziu a carruagem a viagem toda. Depois disso quase não sai mais, sempre gostei de estudar aqui.
Dava para ver só de se olhar para o jovem homem que o que ele falava era verdade, parecia mais um daqueles estudiosos de monastério, magrelo, pálido e com óculos de aro grosso, apresentava escuras olheiras de noites em claro lendo, estudando e aprendendo compulsivamente.
Os dois conversavam sentados em uma das mesas afastados das demais pessoas que lá estavam almoçando. O barulho no lugar era grande, o que de certa forma, os dava privacidade.
- Ah é? Hhumm... Deve ter sido... Emocionante – sem pressa o rapaz rasgou um pedaço de pão e molhou no ensopado. - Hummm... Quer saber, não importa o que o idiota do Cicatriz queria que façamos amanhã, não ligo, eu vou deixar de ser recruta de uma vez por todas, chaga dessa vida, chega de ser o inferior... Depois vou pedir para trabalhar com Alexis e nunca mais dever favor a aquele outro miserável. – falou Aerieerf com um tanto de ódio em seus olhos.
- Dami, quando você não gosta de alguém você não gosta mesmo né? - perguntava gentil jovem o encarando através dos grossos óculos.
- Harg... Tento não deixar tão aparente. – respondeu Aerieerf , desviando o olhar.
Logo o amigo retribui a resposta com uma risada.
O dia seguinte chegou. O fundo do “Armazém” era enorme, muitas árvores enfeitavam o ambiente aqui e ali. Algumas muito velhas, outras muito novas, criando agradáveis sombras contornando os caminhos de terra do interior murado da propriedade. Por lá, pessoas iam e vinham, transportando mercadorias e armas, comida e animais. Caixas e mais caixas se amontoavam em vários lugares em torno do grande estábulo próximo aos muros do local.
Na frente de um grande estábulo de madeira estava Angus que pontualmente esperava seus “pupilos”, escorado em uma das vigas de madeira da construção. Um ou outro iam chegando, mas ninguém tão cedo quanto ele.
Duas das moças, o caçula do grupo, o mais velho também, depois de alguns minutos, nove dos dezessete estavam presentes, dentre eles, Aerieerf e Damon.
Angus limpava seus óculos com o tecido de sua blusa enquanto bocejava despreocupado, rapidamente passou uma vista nos que apareceram. Sem perder muito tempo ele começou:
- Muito bem, vejo que terei que perder meu tempo com muita gente por mais um ano – esta afirmação soou mais como um pensamento que acabou por ser alto demais, começou a rir e balançar a cabeça negativamente - Vejamos, gostaria de dar meus parabéns aos que compareceram, muito embora ninguém veio me consultar ontem. O que foi bom, pude terminar um livro... – mais uma vez pôs seus olhos julgadores sobre o pessoal recém agrupado - Um, dois, três, cinco, sete. Bem é um bom número.
- Nove, Sr. Angus. - Corrigiu Damon.
- Bem, não exatamente, senhor Damon. Estou dispensando dois recrutas. – esta frase acabou gerando surpresa imediata vinda do grupo - Sr. Rufhalo, você está dispensado por ser muito jovem - agora bem mais serio e usando um tom autoritário - Não quero um moleque feito você em trabalho de campo. É agitado de mias, ou eu poderia dizer... Desajeitado de mais. Pode comprometer todo o grupo – falava enquanto encarava muito sério o jovem - Quase reprovado nos exames físicos no ultimo mês... hhum... é isso, vá embora.
O jovem Rufhalo imediatamente demonstrou uma expressão de raiva e desapontamento. Era muito enérgico, aplicado e esforçado, mas era de fato, muito novo no grupo não só na idade, mas em tempo de treinamento, havia se unido a turma a apenas um ano, ao passo que os outros já estavam a pelo menos o dobro de tempo. Não era nenhum recruta genial para se destacar com sua idade e querendo ou não, sabia disso.
- Sr. Angelo, você está dispensado por ser inexperiente, e de longe o menos condicionado fisicamente do grupo.
Embora o instrutor Angus fosse direto, ele falava a verdade, os dois possuíam estas deficiências, e não só era evidente para o instrutor, mas para todos os outros recrutas a dura realidade destes fatos.
- Vamos, podem se retirar. – insistiu o instrutor - Estão dispensados. Se insistirem, vou castigá-los. - falava enquanto acenava para irem embora.
Nenhum dos dois contestou verbalmente, Angelo parecia mais conformado. Ele era tímido demais para falar qualquer coisa na cara de Angus. Muito diferente de Ruffalo, que parecia que iria sair esmurrando as árvores no caminho de volta.
-Melhor sorte ano que vem Pirralho – Aerieerf em tom amigável. Tentou por sua mão no ombro do colega recruta. Mas este desviou-se enquanto passa ele, que estava afastado do resto do grupo.
Angus esperou até que os dois dispensados saíssem de sua vista, acenou para a turma entrar no estábulo, então todos o acompanharam com ansiedade. Arrumou os óculos enquanto virava-se novamente para encarar a turma, então começou:
- Bem, vamos ao assunto. Estão vendo essa carroça?
Estava próximo a grande carroça coberta que ele trouxe de viagem juntamente com seu colega Alexis. O transporte estava no momento sem nenhum cavalo amarrado ao seu eixo. Angus puxa a coberta de couro revelando a enorme forma retangular que estava até então oculta: Uma estrutura metálica que na verdade era uma enorme jaula, com barras de metal negro muito grossas. Seu mecanismo de trava era altamente complexo, não havia cadeado, apenas um grande buraco, onde entraria uma chave e uma barra com vários aros que possuíam correntes igualmente grossas, algo para abrir as duas portas da jaula. Alguém no meio dos recrutas perguntou o óbvio:
- Uma jaula Senhor?
Angus revirou os olhos.
- Bem, como vocês já devem ter estudado. Algumas “coisas” que não são daqui estão aparecendo já a um tempo. E com cada vez mais frequência.
Alguns se impressionaram pelo rabugento instrutor não ter respondido algo como: “Sim, é uma jaula para prender animais, pode entrar por favor...” Ao recruta que havia o questionado.
- Jotuns? – indagou Damon sem pestanejar.
- Exato. - Confirmava Angus sem muita emoção. Seguido de uma grande comoção dos outros presentes.- Fui designado por Nacasiba para caçar um possível Jotun que relataram aparecer em um vilarejo a três dias de viajem.
- Então está explicado por que todo o segredo. Esperei muito tempo para ver um. - Comenta uma das moças para a sua amiga.
- Vocês vão me ajudar a montar a armadilha e transportá-lo de volta para cá... se é que encontraremos realmente ume. Preciso também de mais gente para transportar suprimentos e equipamentos, estas serão suas tarefas. Iremos usar uma rota pouco movimentada e por isso a viagem irá demorar mais um ou dois dias. Quero todos prontos aqui, prontos, ao escurecer. Partiremos às oito horas. – e com pressa concluiu - Estão dispensados.
Os recrutas foram voltando para o complexo, alguns animados, outros assustados, mas com certeza todos os sete estavam muito ansiosos.
Parte 3
Rune Capitulo 1 - parte 3
Em seu quarto, o recruta Aerieerf reunia coisas para a viagem. Uma humilde bolsa de couro, um tanto mal costurada, com roupas e algumas quinquilharias que gostava de ter consigo quando saia para passar uns dias fora, como sua luneta. Tirava do armário seus pertences: uma apertada cota de malha , uma espada longa com cabo metálico surrado, tinha a pegada envolvida em um tecido rubro macio. Uma adaga simples, caso precisasse cortar algo rapidamente, e um velho mosquete. Era o equipamento básico que os recrutas recebiam durante o treinamento.
O rapaz vestiu a cota por cima da camisa de manga longa cinzenta que já vinha usando, por cima desta, ele veste a camiseta de lã branca, ocultando a área do torço protegida pela cota, mas deixando as mangas curtas metálicas aparentes. Procurava no armário um grande cinto que possuía duas bainhas, uma para a espada outra para a arma de fogo. O encontrando com facilidade o vestiu sobre do ombro direito e passando pelo abdome, o prendendo firmemente. Encaixou as duas armas aos seus respectivos suportes que pendiam os cabos em direção ao sem ombro direito, Joga a alça da mochila sobre o ombro esquerdo e prendeu um cinturão repleto de pequenos bolsos envolta da pélvis. Estava pronto.
Já faria o movimento para sair do seu pequeno cômodo quando se lembrou de algo. O rapaz puxou as golas das vestimentas para tirar um colar que estava usando. Olhou para a joia alguns instantes, de deu um beijo em seu pingente de falando para si mesmo: "Quando voltar as coisas estarão mudadas." O guardou dentro do armário e finalmente saiu do quarto, trancando a porta com sua chave logo em seguida.
Já nas escadas do segundo para o primeiro andar, ele se encontra com o amigo com o qual conversara no jantar do dia anterior. Este estava carregando duas maletas de madeira bem finas. Parecia muito distraído nos seus próprios pensamentos, aparecia até estar tendo um dialogo consigo mesmo, a distração era tanta que quase trombou com o moreno rapaz. Por questão de reflexo não o fez.
- Ah! Dami... – Falou o loiro homem, completamente pego de surpresa - Para onde vo... Ah sim, a viagem. - Logo abrindo um sorrido orgulhoso pelo camarada.
- Hã? Já está sabendo? – indagou um tanto perdido - Perai... Você já tá sabendo?
- Claro, o pessoal no laboratório lá embaixo estavam muito animados hoje cedo. – falou enquanto dirigia-se para a parede adjacente - Eles provavelmente ficaram sabendo antes de vocês.
- Hu.... Certo... se incomoda de acompanhar até os estábulos? – perguntou apontando com o dedão em direção aos lances superiores da escadaria.
- Estábulos? Hu...Eh... Elas não são tão pesadas assim. - O amigável rapaz olhou para as maletas, e de volta para Aerieerf.
- Então, vamos subindo. – falou o rapaz dando um tapa nas costas do amigo, amigavelmente o empurrando e escada acima - Então... o pessoal do laboratório... quer dizer que o Jotun é para lá.
- Provavelmente. Não que eu me envolva diretamente com o setor deles, mas parece que o que havia lá morreu há alguns meses.
- Morreu? Espera um momento. Havia uma dessas coisas lá em baixo? – perguntou surpreso e com a voz mais baixa.
- Havia... Mas eu não cheguei a ver. Mas sei que tinha um por que podia escutar alguns sons muito estranhos nas noites mais silenciosas, coisa de dar medo.
- P*** m****...
Os dois rumaram para fora do complexo.
A noite estava agradável, a lua cheia brilhava com intensidade no céu. E o caminho até o estábulo era bem iluminado com postes com robustas lâmpadas a óleo e algumas tochas lá e cá. Mesmo a noite muita gente ainda transportava mercadorias, arrumando as coisas para o final do expediente, o "Armazém" fechava as oito.
Os viajantes já estavam quase todos reunidos no local designado, ainda faltava um tempo para a hora combinada, e lá estava Angus, pontual como sempre, escorado no mesmo local no qual havia aguardado o grupo de recrutas mais cedo naquele dia, agora fumando tranquilamente um costumeiro cigarro enquanto observava o movimento, seus óculos refletiam as luzes amareladas através do vidro de seus óculos, o deixando com um ar mais canastra do que o que já possuía naturalmente.
As carruagens e carroças estavam sendo preparadas para partir por alguns ajudantes. Os cavalos sendo posicionados, com celas sendo presas as costas, rédeas e cabrestos sendo fixados na cabeça dos animas. Havia algumas pessoas colocando os suprimentos e bagagens dentro dos veículos. Os transportes seriam três ao total: A carroça que já transportava a enorme jaula, outra carroça semelhante com uma caixa de madeira igualmente grande e alguns sacos e mochilas empilhadas, e por fim, uma carruagem que transportaria a maioria dos viajantes.
Quase todos os recrutas presentes tinham as mesmas vestimentas, salve aqueles que possuíam uma maior condição financeira e podiam bancar seus próprios equipamentos e roupas. Esse era o caso de Damon, que vestia uma elegante peça de peitoral leve feita de placas de aço escovado e couro azulado que brilhava reluzente a luz do fogo. Seu mosquete e espada também contavam com detalhes prateados nos cabos e guarda. Ele estava sozinho, sentado em uma caixa lendo algum livro. Não parecia muito empolgado com a viagem. Quando Arrierref e seu loiro amigo chegaram lá, a maioria já estava toda reunida. Angus falava algumas coisas sobre o que os recrutas teriam de fazer durante a viagem, como não o perturbar por exemplo.
- Pff... idiota... – Aerieerf observava o discurso do instrutor ao longe se juntando a mais três recrutas. Voltando a atenção a estes perguntou:
– Então senhores, todos prontos?
- Claro que sim – Respondeu o veterano do grupo. – Eu já estou farto de tentar sair dessa condição de recruta, mas todo ano faço...
- Heitor, você é surpreendente... – brincou Aerieerf com o veterano.
- Ei, vai viajar mais gente? – Perguntou o loiro estudioso enquanto notava a aproximação de mais pessoas.
- Não sei, quem é? – Perguntou Aerieerf, girando a cabeça quase ao mesmo tempo que os outro da rodinha de conversa, para ver quem vinha.
Era um grupo de quatro pessoas que estavam vindo em direção a eles, três com mochilas nas costas e algumas maletas nas mãos, o que indicavam que eram viajantes. Uma era uma senhora, devia ter uns quarenta anos de idade. Ela era uma das enfermeiras do complexo. Junto havia um guerreiro barbudo e mal encarado que poucos conheciam, ele vivia fora, viajando em outras tarefas. Trajava uma pesada armadura de couro embaixo de um sobretudo semelhante ao que Angus vestia. E por fim um casal, um homem bastante alto e muito forte, travava roupas casuais e acompanhava uma moça bem mais baixa que vinha segurando a sua mão.
- Ah, vejamos – comentou o veterano Heitor - Enfermeira Aline, a senhorinha chata... O cara que só aparece para desaparecer novamente, Capitão Gregório e...
- Enfermeira Rachel – Aerieerf cortou a fala do amigo quase que sem perceber.
- Faz sentido levar gente que entende de medicina caso alguém se machuque – comentou o sujeito loiro - principalmente, se tratando de recrutas, mas quem é o anão das montanhas? – brincou.
O novo grupo de viajantes se dirigiu para a carroça que transportaria as bagagens, colocam seus pertences dentro dela. A senhora e o homem barbudo se dirigem para falar com Angus, a moça e o rapaz trocam um rápido beijo e ficam lá escorados na carroça conversando e esperando pela hora da partida.
- Ah, por um segundo, pensava que Gregório iria também – Comentou o Veterano.
- Não teria graça nenhuma a viagem com um animal feito ele ajudando – falou Aerieerf - só iriamos ver ele e o Cicatriz caçando o Jotun... ele só... veio deixar as coisas da enfermeira Rachel.
- Engraçado, ver como um cara feito ele consegue pegar uma moça como a enfermeira. Eles estão juntos a quan...
- Quatro messes, três semanas e cinco dias. - Suspirou profundamente desanimado Aerieerf.
Os dois amigos saem de perto dos outros, o loiro branquelo queria falar alguma coisa para o camarada.
- Dami... já que eu estou com essas maletas aqui... eu já ia esquecendo.
- Esquecendo? O que? – perguntou o moreno rapaz enquanto observava o ambiente.
- Espera um segundo. – o estudioso abriu uma das maletas que carregava e de lá tirou um pequeno e comprido frasco tampado por uma rolha, contia um curioso liquido amarelado que brilhava contra a luz das tochas mais próximas.
O rapaz olhou para o frasquinho e instantaneamente fez uma cara de repulsa.
- Ah... a não. Láu, não...
- Vamos Dami, é um presente de boa sorte. -sorria gentilmente o loiro sujeito, entendendo a mão na qual o pequeno frasco repousava centrado em sua palma.
Aerieerf o encarava com desaprovação.
- Láu, você por acaso se lembra o que aconteceu quando eu fui cobaia dessas suas malditas formulas malucas? – falava enquanto cruzava os braços e dava um passo para trás.
- Dessa vez vai ser diferente! Eu prometo. Já testei esta nova fórmula em mim mesmo. – falava orgulhoso de sua pesquisa.
- Sei, e por acaso você ficou de cama por três semanas? – indagou inda bravo.
- Não, funcionou! – falou o loiro sujeito, mas agora desviando o olhar do amigo - Mas com a metade da eficiência planejada.
- Humhum.... – continuava descrente.
E, bem... Você se recuperou rapidamente da ultima vez. – ria um tanto constrangido – Vamos lá, não se esqueça que você vai encontrar um Jotum. Toda ajuda é bem vinda nessas horas Dami...
Pff... – riu o rapaz ainda se fazendo de durão – Três semanas, não se esqueça disso. - Falou enquanto pegava o pequeno frasco com raiva, um tanto relutante, ainda lembrando-se dos problemas em que havia entrado por causa da alquimia do amigo.
Alguns minutos se passam até que todos estejam prontos. Vagalumes agora brilhavam diminutos naquela quente noite. Vendo que já estava na hora, Angus arrumou a postura e começando a falar:
- Bem, todos aqui. Como podem ver, teremos companheiros de viagem – estendeu a mão em direção ao pequeno grupo de pessoas - Provavelmente todos conhecem a senhora Aline, nossa enfermeira chefe. Nacasiba insistiu que eu a levasse caso algum acidente ocorra. Esta é a Senhorita Yara
Angus apontou para a moça que estava de mãos dadas com o enorme homem, junto da enfermeira chefe. Rachel Yara era uma jovem e bela enfermeira. Sua pele “vermelha” e cabelos de um castanho escuro eram traços de uma verdadeira nativa das tribos selvagens das matas de Lyverith, mas os bonitos olhos azuis criavam um exótico contraste, já que o povo daquela etnia sempre possuía íris de um negro muito profundo.
Angus só chamava as outras pessoas pelos seus sobrenomes, ele continuava:
- O senhor Gonzalo também nos ajudará, com armadilhas e coisas do tipo – agora se dirigindo ao misterioso barbudo - Espero que todos estejam com tudo que precisam na mochila. Não vou esperar mais ninguém, partiremos imediatamente, como eu disse, oito horas. Se alguém tiver de voltar para pegar algo, fará mais um ano de treinamento. – deu uma pausa para jogar a bituca de cigarro longe. - Se acomodem na carruagem, ou na carroça. Vou precisar de mais alguns cavalos adicionais então quem quiser pode escolher um daqueles - apontou para alguns animais prontos para a viagem amarrados a uma viga - Não mais que quatro. Estamos entendidos?
Sem muita cerimônia e depois de uma breve despedida, todos se acomodaram e os transportes começaram a rumar noite a fora, saindo dos muros do complexo.