Post by jpaiva on Jan 30, 2014 9:56:08 GMT -5
Hello jovens,
Esse é meu primeiro projeto depois da minha volta do limbo. Já esta semi lapidado, preciso da opinião e comentários de vossas senhorias para possíveis erros, furos e coisas do gênero.
A história tem cunho histórico fictício brasileiro. Como pano de fundo retrata a época dos coronéis nordestinos e sua influencia e crueldade com a massa desprivilegiada, e como história principal a busca de um baiano atrás da sua vingança ao estilo Kill Bill (Tarantino).
Ato – I
O baiano peregrino
Ato – II
O baiano vingador
Ato – III
O baiano que reza
Ato – IV
O Baiano sedento
Esse é meu primeiro projeto depois da minha volta do limbo. Já esta semi lapidado, preciso da opinião e comentários de vossas senhorias para possíveis erros, furos e coisas do gênero.
A história tem cunho histórico fictício brasileiro. Como pano de fundo retrata a época dos coronéis nordestinos e sua influencia e crueldade com a massa desprivilegiada, e como história principal a busca de um baiano atrás da sua vingança ao estilo Kill Bill (Tarantino).
Ato – I
O baiano peregrino
Em uma área seca, aspecto do sertão nordestino brasileiro, com o sol a pino, ao longe um homem vem caminhando acompanhado de um jegue. Suas vestes assemelham-se a dos peruanos, aparenta-se 40 anos de idade, uma barba rala e um bigode acentuado, um rosto impenetrável, enrugado pelo tempo e de pouca expressão, o calor árido parece não o afetar, como se fossem amigos de velha data. Com seu chapéu à moda “mexicana” na cabeça vem andando, a passos curtos, sem preocupações, talvez, ou sem destino. Por uma cordinha vem puxando um jegue que quase como o dono parece ter desdém ao calor infernal desse ambiente semidesértico.
A paisagem selvagem ao seu redor, quase imutável, vai mostrando sinais de civilização que por ali já existira. O baiano passa por casebres de barro abandonados já caindo aos pedaços, de famílias que já não mais habitam ali. O motivo da mudança é quase óbvio, mas pouco interessa ao baiano, que continua sua caminhada, sem parar ou pestanejar, seu olhar severo e pesado avista algo ao longe, algo vindo em sua direção, uma criança, um menino de 10 anos, mais ou menos, vem correndo, chorando. O baiano para sua caminhada, a criança agarra-se as pernas dele, em prantos:
- Tão machucando ela, moço! Tão machucando minha mãe! – Diz o menino com os olhos em lágrimas, olhando para cima.
Mal o menino acaba de falar, ao longe, surge montado num cavalo, um sujeito portando uma espingarda, aproxima-se dos dois, a criança se esconde atrás do baiano, com medo. O sujeito, montado no cavalo, troca olhares nada amigáveis com o baiano, e diz:
- O moleque aí vem comigo.
- Ele num tá muito a fim de ir – Rebate o baiano.
- Isso não é assunto teu! Melhor não te meter e entregar logo o moleque.
- Ele vai me matar, moço! Como ele fez com a mamãe – Diz o menino agarrando-se mais na perna do baiano.
- Oxê! A gente ainda não brincou com ela, só depois a gente vai matar e jogar pros urubu comer. São ordens do Coronel Barata. Agora, facilita meu serviço e vem logo, moleque! – Responde o sujeito com a malícia no sorriso.
- Não fui com a tua cara – Fala o baiano fitando, severamente, o sujeito.
- Que se dane! Vô acabar com os dois é aqui mesmo! – O sujeito puxa a espingarda que estava presa nas costas e mira no baiano.
- Te afasta um pouco, filho e fecha os olhos – Diz o baiano e da um passo pra frente.
- Já era, ô velho de merd*!
Quando ia apertar no gatilho e descarregar a bala, o baiano suspende a túnica peruana que vinha cobrindo o seu corpo, e saca sua faca peixeira, fazendo com que a luz do sol refletisse nela e fosse na cara do sujeito que perdeu o foco e errou o tiro. Ao recobrar a visão, no outro segundo, a mão do baiano já estava no seu pescoço e o arremessava para o chão, fora do seu cavalo. Com a faca contra o pescoço do sujeito, ele começou a gritar:
- Maldito! Não sabe com quem tá mexendo, vão mandar te meter o cacet...
A lâmina deslizou pela garganta, o corte foi fatal, ouviram-se uns grunhidos, mas já estava morto, quando o baiano levantou-se e foi em direção ao menino, que estava com as mãos no rosto, o segurou e o montou em seu jegue e disse:
- Onde tua mãe tá?
- Lá na minha casa, bem aqui perto – Falou o menino, segurando-se melhor no jegue.
O baiano pegou a arma do sujeito, verificou o estado dela, e colocou nas costas, montou no cavalo do falecido e olhou para o menino:
- Vô indo na frente. Jericó consegue sentir meu cheiro, ele vai me encontrar depois. Toma conta dele.
Dizendo isto, o baiano saiu a toda velocidade que o cavalo podia chegar e logo sumiu no horizonte.
A paisagem selvagem ao seu redor, quase imutável, vai mostrando sinais de civilização que por ali já existira. O baiano passa por casebres de barro abandonados já caindo aos pedaços, de famílias que já não mais habitam ali. O motivo da mudança é quase óbvio, mas pouco interessa ao baiano, que continua sua caminhada, sem parar ou pestanejar, seu olhar severo e pesado avista algo ao longe, algo vindo em sua direção, uma criança, um menino de 10 anos, mais ou menos, vem correndo, chorando. O baiano para sua caminhada, a criança agarra-se as pernas dele, em prantos:
- Tão machucando ela, moço! Tão machucando minha mãe! – Diz o menino com os olhos em lágrimas, olhando para cima.
Mal o menino acaba de falar, ao longe, surge montado num cavalo, um sujeito portando uma espingarda, aproxima-se dos dois, a criança se esconde atrás do baiano, com medo. O sujeito, montado no cavalo, troca olhares nada amigáveis com o baiano, e diz:
- O moleque aí vem comigo.
- Ele num tá muito a fim de ir – Rebate o baiano.
- Isso não é assunto teu! Melhor não te meter e entregar logo o moleque.
- Ele vai me matar, moço! Como ele fez com a mamãe – Diz o menino agarrando-se mais na perna do baiano.
- Oxê! A gente ainda não brincou com ela, só depois a gente vai matar e jogar pros urubu comer. São ordens do Coronel Barata. Agora, facilita meu serviço e vem logo, moleque! – Responde o sujeito com a malícia no sorriso.
- Não fui com a tua cara – Fala o baiano fitando, severamente, o sujeito.
- Que se dane! Vô acabar com os dois é aqui mesmo! – O sujeito puxa a espingarda que estava presa nas costas e mira no baiano.
- Te afasta um pouco, filho e fecha os olhos – Diz o baiano e da um passo pra frente.
- Já era, ô velho de merd*!
Quando ia apertar no gatilho e descarregar a bala, o baiano suspende a túnica peruana que vinha cobrindo o seu corpo, e saca sua faca peixeira, fazendo com que a luz do sol refletisse nela e fosse na cara do sujeito que perdeu o foco e errou o tiro. Ao recobrar a visão, no outro segundo, a mão do baiano já estava no seu pescoço e o arremessava para o chão, fora do seu cavalo. Com a faca contra o pescoço do sujeito, ele começou a gritar:
- Maldito! Não sabe com quem tá mexendo, vão mandar te meter o cacet...
A lâmina deslizou pela garganta, o corte foi fatal, ouviram-se uns grunhidos, mas já estava morto, quando o baiano levantou-se e foi em direção ao menino, que estava com as mãos no rosto, o segurou e o montou em seu jegue e disse:
- Onde tua mãe tá?
- Lá na minha casa, bem aqui perto – Falou o menino, segurando-se melhor no jegue.
O baiano pegou a arma do sujeito, verificou o estado dela, e colocou nas costas, montou no cavalo do falecido e olhou para o menino:
- Vô indo na frente. Jericó consegue sentir meu cheiro, ele vai me encontrar depois. Toma conta dele.
Dizendo isto, o baiano saiu a toda velocidade que o cavalo podia chegar e logo sumiu no horizonte.
Ato – II
O baiano vingador
De um casebre, saem dois jagunços, um deles levantando as calças, os dois rindo, satisfeitos. Ouvisse um tiro, um dos jagunços cai, já morto, a bala saiu da espingarda do baiano, montado no cavalo. Ele bota o outro na mira.
- Ei!Ei! Espera! O que tu tá fazendo?! – Diz o jagunço com as mãos para frente
O baiano olha para dentro do casebre, pela porta semi-aberta ele vê a cabeça de uma mulher no chão, imóvel, seus cabelos estão banhados de sangue.
- Aquilo?! Mandaram a gente fazer aquilo! Não foi... – O jagunço tenta sacar sua arma, mas vão. Leva um tiro no ombro e cai em prantos
O baiano desce do cavalo, e fica parado na frente do jagunço jogado no chão. O sol enegrece o rosto do baiano, fazendo com que ele fique com aparência tenebrosa. Então, o baiano puxa o jagunço pela roupa e o olha nos olhos.
- O que tu vai fazê, maldito! – Diz o jagunço com o rosto mergulhado em enorme medo
- Fazê tu pagar, cabra – Fala o baiano.
O menino, montado no jegue Jericó, chega naquilo que ele conhece como casa. Ele desce do jegue. Ele vê um dos homens que violentaram sua mãe amarrado pelas mãos, no chão, preso a cela do cavalo. O baiano está na frente do casebre, sentado no chão, com a cabeça baixa, seu chapéu cobrindo a metade do rosto, fumando com uma espécie de cachimbo. O menino ouve gritos vindos de trás da sua casa, mas ele quer ver mesmo como esta sua mãe. Ele entra. Sua mãe esta morta, seu corpo sobre a mesa, coberto por um lençol. A criança se põe a chorar. O baiano do lado de fora, levanta o rosto para cima, existe urubus já perto dali, seu rosto encoberto por uma densa fumaça do seu cachimbo, encobre seus olhos distantes e vidrados, a mente do baiano não esta mais ali com seu corpo.
Mas, então onde raios ela está?
(flashback)
Existe uma criança caída no chão árido do sertão. Uma criatura se aproxima para verificar o corpo, ela olha e dá uma bicada. É um urubu. O corpo do menino esta imóvel, com sinais de sangue, desde a cintura até a cabeça.
- Ogun, venha! – Alguém diz.
O dono da voz aparece, é de um homem. Um homem mulato. Suas vestimentas são uma simples camisa clara aberta no meio, uma calça (ou o que restou dela), e uma espécie de sapato de couro, aparentemente feitos à mão. Com ele vem um jegue, carregando suas poucas coisas. O urubu que bicava o menino voa na direção do mulato que logo põe a criança em seus braços.
- O que tu achaste agora, ogun... – Diz o mulato examinando a criança.
O homem coloca as mãos sobre a cabeça do menino, e começa uma pequena e baixa prece, em uma língua estranha. Antes de terminar sua reza, uma mão pega a faca que o mulato carregava na cintura. A mão é do menino.
- Pelos deuses! – Fala o homem
O menino então levanta com a faca na mão e começa a andar pelo caminho que o mulato havia vindo. O rosto da criança demonstrava que ela ainda não estava lúcida e ainda em estado de choque.
- Entendo... Diz o homem se levantando e indo em direção ao menino.
Ele então segura a mão da criança que segurava a faca e olha para ela.
- Queres tanto vingança, moleque?Ou, só findar mesmo tua vida inútil. Porque se voltar, de certo, que te matarão, assim como fizeram com os outros.
O homem se afasta e pega a cordinha do jegue, o menino fica a fitar o mulato.
- Vá e morra, ou venha comigo e te fortalecerei para que cumpra seu destino, qualquer que seja ele.
O menino fica parado, enquanto vê o homem, o urubu e seu jegue se afastarem dele, lentamente. Ele fica a olhar a faca em sua mão. O mulato segue seu caminho sem olhar para trás, até que percebe que seu novo companheiro esta andando ao seu lado, o menino caminha sem olhar para trás também, mas sabe que, um dia, voltará. Pra cumprir seu destino, qualquer que seja ele.
-Tens nome, moleque? – Pergunta o homem, mas o menino fica em silêncio.
- Te chamarei de “baiano” para assim confundir teus inimigos.
(fim do flashback)
Então algo puxa a mente do baiano de volta ao corpo, porém não sabe se foi pela falta de fumo ou se foi pelo choro do menino que ainda estava agarrado ao cadáver da mãe. Ele então levanta, entra no casebre, e pega o menino pelo braço, olha pra ele e diz:
- Um deles tu já viu lá na frente. És homem pra terminar com o outro?
O baiano leva a criança ate o quintal onde esta o outro jagunço amarrado nú e de costa para um cacto, ele esta semimorto, só se ouvi alguns gemidos vindo dele. O baiano pega a espingarda que carregava nas costas e coloca nas mãos do menino.
- Tá carregada, é só mira e sentar o dedo – Fala o baiano colocando o menino de frente para o jagunço amarrado.
O menino em estado de choque, mal consegue segurar a arma firmemente, começa a tremer diante da situação, ele olha para o jagunço, e depois para o baiano.
- Não consigo... Não consigo, moço! - Fala o menino chorando.
- Seja homem!! – Grita o baiano.
O menino larga a arma e se encolhe no chão. O baiano então observa um urubu que pousou em uma arvore próxima. Ele ajeita o chapéu e solta uma bufada.
- Tá certo, mestre. – bufou pra si mesmo.
Ele pega arma do chão, o menino enxuga as lágrimas e olha para o baiano que diz:
- Pego tua vingança pra mim. Esse é meu destino. Sou o baiano e trago a morte.
Dizendo isso, ele acerta um tiro no jagunço. Depois, o baiano amarra os corpos dos dois cadáveres a uma corda prende ao cavalo e da uma tapa na traseira do mesmo, o fazendo correr para longe. Longo em seguida, ele parte com Jericó e o menino montado nele.
- Ei!Ei! Espera! O que tu tá fazendo?! – Diz o jagunço com as mãos para frente
O baiano olha para dentro do casebre, pela porta semi-aberta ele vê a cabeça de uma mulher no chão, imóvel, seus cabelos estão banhados de sangue.
- Aquilo?! Mandaram a gente fazer aquilo! Não foi... – O jagunço tenta sacar sua arma, mas vão. Leva um tiro no ombro e cai em prantos
O baiano desce do cavalo, e fica parado na frente do jagunço jogado no chão. O sol enegrece o rosto do baiano, fazendo com que ele fique com aparência tenebrosa. Então, o baiano puxa o jagunço pela roupa e o olha nos olhos.
- O que tu vai fazê, maldito! – Diz o jagunço com o rosto mergulhado em enorme medo
- Fazê tu pagar, cabra – Fala o baiano.
O menino, montado no jegue Jericó, chega naquilo que ele conhece como casa. Ele desce do jegue. Ele vê um dos homens que violentaram sua mãe amarrado pelas mãos, no chão, preso a cela do cavalo. O baiano está na frente do casebre, sentado no chão, com a cabeça baixa, seu chapéu cobrindo a metade do rosto, fumando com uma espécie de cachimbo. O menino ouve gritos vindos de trás da sua casa, mas ele quer ver mesmo como esta sua mãe. Ele entra. Sua mãe esta morta, seu corpo sobre a mesa, coberto por um lençol. A criança se põe a chorar. O baiano do lado de fora, levanta o rosto para cima, existe urubus já perto dali, seu rosto encoberto por uma densa fumaça do seu cachimbo, encobre seus olhos distantes e vidrados, a mente do baiano não esta mais ali com seu corpo.
Mas, então onde raios ela está?
(flashback)
Existe uma criança caída no chão árido do sertão. Uma criatura se aproxima para verificar o corpo, ela olha e dá uma bicada. É um urubu. O corpo do menino esta imóvel, com sinais de sangue, desde a cintura até a cabeça.
- Ogun, venha! – Alguém diz.
O dono da voz aparece, é de um homem. Um homem mulato. Suas vestimentas são uma simples camisa clara aberta no meio, uma calça (ou o que restou dela), e uma espécie de sapato de couro, aparentemente feitos à mão. Com ele vem um jegue, carregando suas poucas coisas. O urubu que bicava o menino voa na direção do mulato que logo põe a criança em seus braços.
- O que tu achaste agora, ogun... – Diz o mulato examinando a criança.
O homem coloca as mãos sobre a cabeça do menino, e começa uma pequena e baixa prece, em uma língua estranha. Antes de terminar sua reza, uma mão pega a faca que o mulato carregava na cintura. A mão é do menino.
- Pelos deuses! – Fala o homem
O menino então levanta com a faca na mão e começa a andar pelo caminho que o mulato havia vindo. O rosto da criança demonstrava que ela ainda não estava lúcida e ainda em estado de choque.
- Entendo... Diz o homem se levantando e indo em direção ao menino.
Ele então segura a mão da criança que segurava a faca e olha para ela.
- Queres tanto vingança, moleque?Ou, só findar mesmo tua vida inútil. Porque se voltar, de certo, que te matarão, assim como fizeram com os outros.
O homem se afasta e pega a cordinha do jegue, o menino fica a fitar o mulato.
- Vá e morra, ou venha comigo e te fortalecerei para que cumpra seu destino, qualquer que seja ele.
O menino fica parado, enquanto vê o homem, o urubu e seu jegue se afastarem dele, lentamente. Ele fica a olhar a faca em sua mão. O mulato segue seu caminho sem olhar para trás, até que percebe que seu novo companheiro esta andando ao seu lado, o menino caminha sem olhar para trás também, mas sabe que, um dia, voltará. Pra cumprir seu destino, qualquer que seja ele.
-Tens nome, moleque? – Pergunta o homem, mas o menino fica em silêncio.
- Te chamarei de “baiano” para assim confundir teus inimigos.
(fim do flashback)
Então algo puxa a mente do baiano de volta ao corpo, porém não sabe se foi pela falta de fumo ou se foi pelo choro do menino que ainda estava agarrado ao cadáver da mãe. Ele então levanta, entra no casebre, e pega o menino pelo braço, olha pra ele e diz:
- Um deles tu já viu lá na frente. És homem pra terminar com o outro?
O baiano leva a criança ate o quintal onde esta o outro jagunço amarrado nú e de costa para um cacto, ele esta semimorto, só se ouvi alguns gemidos vindo dele. O baiano pega a espingarda que carregava nas costas e coloca nas mãos do menino.
- Tá carregada, é só mira e sentar o dedo – Fala o baiano colocando o menino de frente para o jagunço amarrado.
O menino em estado de choque, mal consegue segurar a arma firmemente, começa a tremer diante da situação, ele olha para o jagunço, e depois para o baiano.
- Não consigo... Não consigo, moço! - Fala o menino chorando.
- Seja homem!! – Grita o baiano.
O menino larga a arma e se encolhe no chão. O baiano então observa um urubu que pousou em uma arvore próxima. Ele ajeita o chapéu e solta uma bufada.
- Tá certo, mestre. – bufou pra si mesmo.
Ele pega arma do chão, o menino enxuga as lágrimas e olha para o baiano que diz:
- Pego tua vingança pra mim. Esse é meu destino. Sou o baiano e trago a morte.
Dizendo isso, ele acerta um tiro no jagunço. Depois, o baiano amarra os corpos dos dois cadáveres a uma corda prende ao cavalo e da uma tapa na traseira do mesmo, o fazendo correr para longe. Longo em seguida, ele parte com Jericó e o menino montado nele.
Ato – III
O baiano que reza
Fim de tarde. O baiano chega a uma pequena e humilde cidade. Ele continua sua caminhada, adentrando pela rua principal daquele lugar. Bares, hotéis, residências simples e humildes, comércios dos mais variados tipos formam essa rua. De certo, aquela seria a parte mais movimentada da cidade, um lugar ideal para nosso andarilho talvez descansar e arejar a cabeça com um bom copo da mais pura cachaça. Entretanto, ele segue acompanhado por seu fiel companheiro de viagem, Jericó e pelo garoto ainda em estado de choque pelo que passou até ali.
No final da rua principal desta cidade, que por sinal se chama Santa Maria, existe uma igreja e é para lá que se dirige o baiano. Ele desce o menino do jegue e entra no santo lugar. Longos bancos de madeira em todo o lugar, um humilde altar permeado de velas que iluminam todo o salão e a imagem da santa. O baiano se agacha e presta reverencia. Não existe ninguém ali. Ao chegar mais próximo do altar, alguém sai de uma sala adjacente ao salão principal e vem ao encontro do baiano e do menino. O homem é um padre e fala:
- Bom tarde, senhor, posso ajuda-lo em alguma coisa?
O padre veste uma roupa típica de mosteiros, uma bata de uma cor escura, uma corda amarrada na cintura, sandálias bem gastas. Ele já aparenta ter uma idade considerável, mas em seus olhos você percebe que o vigor da juventude ainda vive naquele homem. Ouvindo isso, o baiano puxa algo que esta amarrado no pescoço, um colar bem simples, nele existe uma espécie de figura de uma divindade africana. O padre chega mais perto do baiano para olhar melhor aquilo que ele segura. Ele se assusta.
- Você...?! Como arranjou isso?
- Zulu está morto.
- Oh! Por Cristo... – O padre medita um pouco sobre as palavras do baiano - Vamos, entre, vou da-los algo para comer e beber.
Ele abriu umas das salas adjacentes ao salão principal. Nisso, o menino já comia com voracidade pães e bebia leite que o padre trouxera. Mas, o baiano nada comia. Então o padre sentou-se e passou a mão na cara como se fosse conversar algo difícil. Estava nervoso.
- Quero que me diga e lembre-se: Deus não aceita mentiras na sua casa. Você é mesmo aprendiz de Zulu? – O padre fitava sem cessar os olhos do baiano.
- Sim. Juro por seu deus e pelos deuses do meu mestre que eles o tenham.
- Então é verdade que ele esta morto mesmo... Como o acharam? Como isso é possível? – Pergunta o padre com o rosto aflito.
- Ele foi morto por Corcel Negro.
O padre passa novamente a mão pelo rosto.
- Cristo... Corcel Negro é fazendeiro agora, possui muita terra e amigos poderosos graças ao Coronel Barata. Foi o Corcel que dedurou o atentado, anos atrás, contra o Coronel. Toda noite lembro-me daquele dia, todos os envolvidos foram mortos, mulheres foram jogadas para fora de suas casas e foram violentadas, suas crianças foram queimadas ou espancadas até perderem a consciência e deixadas a sorte pra sobreviverem. Poucas pessoas deram sorte, Zulu foi um deles. Fizemos de tudo pra que ele conseguisse fugir, mas eu sabia que ele não desistiria, ele se recolheria pra algum lugar mais voltaria pra nos ajudar a lutar contra a tirania do Coronel.
O padre encheu um copo de água, bebeu e limpou um pouco que escorria pelo canto da boca.
- Mantive contato com Zulu por um tempo, sabe quando você é da igreja você consegue isso. Mas, eu sabia que o coronel não descansaria até findar com a vida dele. Cheguei a alertar Zulu várias vezes, mas vejo que foi em vão.
O baiano encostado na parede da sala, tudo ouvia, porém nada falava. Houve uma pausa no monologo do padre, ele olhou o garoto e a pergunta se fez na boca.
- E esse jovem, quem ele é?
- Ele vai ficar aqui com o senhor – Disse o baiano colocando o chapéu na cabeça e indo em direção da porta.
- O quê? Espere, aonde vai?
O baiano então para na porta da sala, olha para trás e encara o padre.
- Vô encontrar meus inimigos e minha peixeira será a ultima coisa que verão.
O padre vai em direção ao baiano e o vê depositando o colar sobre o altar e fazendo uma oração.
- Pensei que não fosse cristão. – Diz o padre
- Meu mestre ensinou a respeitar todos os deuses – Fala o baiano – Deixo Jericó com o senhor também.
O baiano sai da igreja.
- Mas, quem é Jericó? – Indaga o padre
- É o jegue dele. – Responde o menino com um pão na mão – Ele sempre sabe onde ele tá.
No final da rua principal desta cidade, que por sinal se chama Santa Maria, existe uma igreja e é para lá que se dirige o baiano. Ele desce o menino do jegue e entra no santo lugar. Longos bancos de madeira em todo o lugar, um humilde altar permeado de velas que iluminam todo o salão e a imagem da santa. O baiano se agacha e presta reverencia. Não existe ninguém ali. Ao chegar mais próximo do altar, alguém sai de uma sala adjacente ao salão principal e vem ao encontro do baiano e do menino. O homem é um padre e fala:
- Bom tarde, senhor, posso ajuda-lo em alguma coisa?
O padre veste uma roupa típica de mosteiros, uma bata de uma cor escura, uma corda amarrada na cintura, sandálias bem gastas. Ele já aparenta ter uma idade considerável, mas em seus olhos você percebe que o vigor da juventude ainda vive naquele homem. Ouvindo isso, o baiano puxa algo que esta amarrado no pescoço, um colar bem simples, nele existe uma espécie de figura de uma divindade africana. O padre chega mais perto do baiano para olhar melhor aquilo que ele segura. Ele se assusta.
- Você...?! Como arranjou isso?
- Zulu está morto.
- Oh! Por Cristo... – O padre medita um pouco sobre as palavras do baiano - Vamos, entre, vou da-los algo para comer e beber.
Ele abriu umas das salas adjacentes ao salão principal. Nisso, o menino já comia com voracidade pães e bebia leite que o padre trouxera. Mas, o baiano nada comia. Então o padre sentou-se e passou a mão na cara como se fosse conversar algo difícil. Estava nervoso.
- Quero que me diga e lembre-se: Deus não aceita mentiras na sua casa. Você é mesmo aprendiz de Zulu? – O padre fitava sem cessar os olhos do baiano.
- Sim. Juro por seu deus e pelos deuses do meu mestre que eles o tenham.
- Então é verdade que ele esta morto mesmo... Como o acharam? Como isso é possível? – Pergunta o padre com o rosto aflito.
- Ele foi morto por Corcel Negro.
O padre passa novamente a mão pelo rosto.
- Cristo... Corcel Negro é fazendeiro agora, possui muita terra e amigos poderosos graças ao Coronel Barata. Foi o Corcel que dedurou o atentado, anos atrás, contra o Coronel. Toda noite lembro-me daquele dia, todos os envolvidos foram mortos, mulheres foram jogadas para fora de suas casas e foram violentadas, suas crianças foram queimadas ou espancadas até perderem a consciência e deixadas a sorte pra sobreviverem. Poucas pessoas deram sorte, Zulu foi um deles. Fizemos de tudo pra que ele conseguisse fugir, mas eu sabia que ele não desistiria, ele se recolheria pra algum lugar mais voltaria pra nos ajudar a lutar contra a tirania do Coronel.
O padre encheu um copo de água, bebeu e limpou um pouco que escorria pelo canto da boca.
- Mantive contato com Zulu por um tempo, sabe quando você é da igreja você consegue isso. Mas, eu sabia que o coronel não descansaria até findar com a vida dele. Cheguei a alertar Zulu várias vezes, mas vejo que foi em vão.
O baiano encostado na parede da sala, tudo ouvia, porém nada falava. Houve uma pausa no monologo do padre, ele olhou o garoto e a pergunta se fez na boca.
- E esse jovem, quem ele é?
- Ele vai ficar aqui com o senhor – Disse o baiano colocando o chapéu na cabeça e indo em direção da porta.
- O quê? Espere, aonde vai?
O baiano então para na porta da sala, olha para trás e encara o padre.
- Vô encontrar meus inimigos e minha peixeira será a ultima coisa que verão.
O padre vai em direção ao baiano e o vê depositando o colar sobre o altar e fazendo uma oração.
- Pensei que não fosse cristão. – Diz o padre
- Meu mestre ensinou a respeitar todos os deuses – Fala o baiano – Deixo Jericó com o senhor também.
O baiano sai da igreja.
- Mas, quem é Jericó? – Indaga o padre
- É o jegue dele. – Responde o menino com um pão na mão – Ele sempre sabe onde ele tá.
Ato – IV
O Baiano sedento
Aconteceu que o baiano sentiu sede e foi em direção ao único bar da cidade, ou pelo menos, o mais movimentado daquele pacato lugar. Já estava anoitecendo e o bar já se encontrava cheio de gente de todo tipo, homens, mulheres, bebedeira, jogatina e gritaria. Era uma pequena Sodoma que ali se formava. Então, o baiano adentra no recinto sob olhares curiosos e desconfiados, outros nem perceberam, já estavam absortos com álcool nos seus copos e mulheres em seus colos. Uma das mulheres parecia incomodada com aquilo, tentava sair das presas do seu raptor, mas sem sucesso, o mesmo tinha planos mais maliciosas pra ela.
- Me deixa ir, por favor – dizia ela - Preciso atender outros clientes.
- Tudo que tu precisa tá bem aqui comigo, mulher – falava o homem apertando mais a garçonete contra o corpo, deslizando a mão pela sua perna.
Todos os que estavam na mesa, o que era num total de quatro contando com nosso “bom moço” aí, se acabavam em risos.
- Hoje tem! – gritavam eles, e era seguido por mais um acesso de gargalhada.
O baiano já se encontrava no balcão, e o balconista, um cara de meia idade um pouco gorducho, se aproximou e perguntou:
- Vai querer o quê?
O baiano apontou pra uma garrafa de pinga que estava na estante, o garçom a trouxe com um pequeno copo.
- Tem como pagar? – O garçom perguntou olhando para o estado do baiano.
O baiano tirou o chapéu e retirou um saquinho de dentro, tirou um maço de dinheiro e botou no balcão.
- Deixa a garrafa – disse o baiano.
O garçom pegou o dinheiro satisfeito. Então entrou um homem nervoso dentro do bar e foi em direção à mesa dos marmanjos beberrões. O baiano virou o primeiro copo de cachaça pra dentro.
- Chefe! Chefe, a gente encontrou o Zé e o Jair – falou quase sem fôlego o homem que acabara de entrar no bar.
O suposto chefe parou um pouco de alisar a garçonete e olhou para o rapaz. O baiano virou o segundo copo.
- E onde esses cabras se meteram que até agora não vieram se reportar a mim?
O baiano virou o terceiro copo.
- Eles estão mortos, senhor! – Disse o rapaz – Foram encontrados amarrados pelos braços na cela de um cavalo nos arredores de Santa Maria.
O baiano virou o quarto copo.
- Mas quem diabos fez isso? – Disse o chefe se levantando em ira e cólera.
- Ainda não sabemos, senhor.
Virou o quinto copo.
– Quero o nome desse cão que eu vou mandar espanca-lo ate a morte... – Virou o sexto copo – e amarrar o cadáver desse cabra filho da mãe na frente de Santa Maria pelo saco!
Virou o sétimo.
- Ele não sabe com quem mexeu esse filho da put*?!
- Chefe, tenha calma, vamos achar o responsável – disse um dos que estavam na mesa. Nesse momento a garçonete já havia saído, com medo. Todos do bar já observavam a pequena explosão de raiva. Menos o baiano que virava o oitavo copo, deixando a garrafa com cinco dedos de pinga sobrando.
- Se ele é tão macho assim quero que ele venha aqui me peitar, quero só ver! – Disse segurando uma pistola e apontando pra rua – Eu sou braço direito do Corcel Negro! Mexeu comigo, mexeu com a fera!
O copo que o baiano segurava trincou. Ora, sabe-se que o bar era iluminado por apenas uma grande lamparina que ficava no centro do estabelecimento. Desse modo, não foi suficiente pra iluminar o rosto do baiano que aparecera em pé atrás do cara escandaloso do bar. Ao se virar, o homem encarou o ser que estava em pé bem próximo dele. O ser segurava uma garrafa de pinga com cinco dedos pra acabar, uma cara fechada, com olhos, que no intimo, pensou consigo mesmo, eram olhos vermelhos, vermelhos como os olhos do cão dos infernos.
- Quem és tu, cabra? – Disse o homem apontando a pistola pra barriga do baiano – Segue teu caminho antes que eu resolva descontar minha raiva em ti.
O baiano bebeu mais um pouco de pinga.
- Era tu que tava me chamando, seu p*rra – Com uma mão segurou a pistola emperrando-a evitando seu disparo com a outra sentou o fundo da garrafa na cara do homem, quebrando seu nariz.
Os outros três se levantaram, mas antes que sacassem suas armas, o baiano arremessou a garrafa na grande lamparina, que explodiu, formando um rápido clarão, porém mais rápido que isso foi o baiano pegando a pistola do homem agora em agonia por causa do nariz, e o segurando com a outra mão, usando o corpo dele como escudo. O primeiro disparo do baiano acertou em cheio um deles. Os dois que ficaram levantaram a mesa pra fazer uma barricada. O resto do pessoal começou a sair desesperados, pela porta, janela, por onde desse. Os tiros eram as únicas forma de luz que iluminavam o lugar agora, de fora só se via os rápidos clarões e escutava a barulheira de vidro quebrando e mulheres gritando. O baiano empurrou o seu “escudo humano” que agora já era um cadáver com violência pra cima da barricada dos três, mas com tanta força que a mesa quebrou ao meio, fazendo com que os dispersassem no escuro do salão. Na escuridão, o baiano desapareceu.
- Onde esse está esse maldito!! – Gritou um deles.
- Filho duma jument* - Antes que completasse a frase levou um corte na garganta de uma criatura que saiu de trás do balcão. Caiu no chão em sangue e agonia. O último que ficou conseguiu enxerga-lo em meio aquele breu e mirou no baiano, porém num movimento rápido ele tirou seu poncho estilo peruano e arremessou na direção do homem armado. Houve disparos, mas o pano atrapalhou, o alvo era rápido e foi com tudo pra cima do ultimo capanga, e com um pisão o arremessou para fora do bar com violência. Do lado de fora, curiosos foram se aproximando, o baiano saiu a passos lentos de dentro do bar, agora sem seu poncho, mostrava uma simples camisa de botão gasta aberta na região do peito, na cintura, seu cinto com compartimento pra sua pistola e também pra sua faca peixeira, um sapato simples feito de couro costurado, e claro, seu chapéu que produzia uma escuridão no seu rosto tenebrosa, sob a luz do luar. O capanga tentou encontrar sua arma, mas em vão, ele e o baiano estavam parados, um olhando para o outro. Então, lentamente, o baiano tirou seu fumo, já enrolado num papel, e botou na boca.
- Tem fogo aí? – perguntou com toda a naturalidade que naquele momento era inapropriada.
- Vai te danar! – Disse o capanga indo agora em direção do baiano, com velocidade e raiva.
A sequencia de socos foi facilmente desviadas pelo baiano, o capanga tentou agarra-lo, mas foi surpreendido por um movimento de braços que desfez o agarrão. O baiano, então, aplicou um soco no rosto do capanga que o fez recuar um pouco, dando espaço para o baiano assumir uma postura que somente os que estão familiarizados com a arte da capoeira, conseguiram perceber. Aplicou um chute na cabeça, outro no tórax, o terceiro foi uma rasteira que fez o capanga cair. Do chão, o capanga olhou para o rosto oculto pela escuridão do baiano, seus olhos vermelhos, entrava em contraste com o sangue na sua camisa.
- Eu só perguntei se tinha fogo – Disse o baiano ainda com o cigarro na boca.
- Enfia esse cigarro n*... – antes de o capanga terminar, o baiano sacou sua pistola e atirou no saco dele. Sim, ele gritou, gritou bastante.
O show de horror e sangue deixou alguns curiosos com medo e esses fugiram, outros ficaram temerosos mais curiosamente não queriam sair dali e perder o “espetáculo”. O baiano entrou no bar novamente e ao sair, seu cigarro estava acesso, ele sentou no rodapé da porta, fumando, bufando fumaça e meditando sobre a vida, o universo e tudo o mais. Ou não.
(flashback)
Favela baiana. Aglomerações de pessoas, comércio e residências irregulares, algo parecido com a Índia na hora do rush, ou seja, toda hora. No meio da massa de gente, um garoto, adolescente, roupas surradas, com vários salgados e pães nas mãos. Dois homens o perseguem, eles não aparentam estar felizes e nem brincando.
- Pega, ladrão! – Grita o primeiro.
- Segura esse moleque! – Grita o segundo.
Para a infelicidade do menino que acabou esbarrando em um ambulante e acabou caindo derrubando a comida e sendo soterrado por vários produtos piratas de segunda, mas que quebram um galho e imitam com perfeição os originais.
- Peguei, seu pilantrinha! – Disse um dos perseguidores levantando o menino pelo cabelo.
- Já é a terceira vez, seu pivete! – Disse o segundo espremendo as mãos – Tá na hora de te dar uma surra pra aprender!
Alguém arremessa uma pedra e acerta a cabeça do homem que estava segurando o menino.
- Mas quem foi o filho da p*ta?! – Diz botando a mão no local do ferimento.
Os olhos dos envolvidos avistam, então, outro adolescente, parado, com uma pedra na mão. Ele é magro, roupas surradas, cabelo crespo e sujo.
- Baiano! – Grita o menino.
- Sai dai – Diz o jovem baiano.
O menino percebeu que já estava livre e se pôs a correr, o homem ainda tentou segurá-lo, mas levou outra pedrada.
- Vamos, foge também baiano! – Disse o menino ao passar correndo pelo baiano.
Mas, o baiano não fugiu, e nem sequer pensou na hipótese de fugir. Os homens se aproximaram, não ia ter muito papo, e nem precisava, os socos e pontapés são mais expressivos que palavras em uma discussão, e quem achar o contrário, é porque nunca ganhou um hematoma ou cicatriz pra se orgulhar.
- Perdeu a noção, moleque – Disse o homem com a cabeça sangrando.
- Não fui com a tua cara – Respondeu o baiano.
Num movimento rápido, o baiano, com uma pedra na mão, sentou com toda força na cabeça desse sujeito que saiu cambaleando enquanto o segundo vinha como um centauro ensandecido. A surra que o baiano levou foi severa, mas é de se salientar que ele deu umas também, a mordida no braço desse segundo, de certo, não vai sumir tão cedo. Por fim, surgiram pessoas de bem que apartaram a briga.
Sentado na areia, o baiano observava o oceano, do seu lado se senta um homem, mulato, roupas simples, no pescoço, um colar com uma figura de uma divindade africana.
- Fiquei sabendo da briga que te meteste, baiano.
O baiano nada respondeu.
- Sei que foi por uma boa causa, és um bom garoto, disciplinado, já domina as artes da capoeira e do mandigo quase tão bem como eu. Só me prometa uma coisa.
O baiano olhou profundamente para seu mestre.
- Não te deixa corromper por nada. Nunca esqueça quem és. Força, dinheiro, ódio... são coisas que nos mudam, nos influenciam a esquecermos nossa essência.
O mestre então tocou no braço do seu pupilo.
- Aprenda a controlar isso para te tornar um verdadeiro guerreiro.
Zulu então tirou um maço de fumo, acendeu e deu uma longa tragada.
-‘Bora tratar essas feridas – disse se levantando e tirando a areia da calça dando tapinhas.
Estranhamente, ocorrem flashs esquisitos, cenas de um futuro não tão distante daquela lembrança, algo sombrio e sangrento. Imagens da cena do crime onde seu mestre falecera, ou melhor, onde ele foi brutalmente assassinado, o cadáver cheio de buracos de tiro e a cabeça cortada fora. Choque.
(fim do flashback)
-Arranjar briga com os homens do Corcel Negro não é algo muito inteligente a se fazer – Disse um homem que estava encostado na parede do bar próximo ao baiano que ainda estava sentado no rodapé da porta do estabelecimento – Corcel Negro é o prefeito daqui, caso você não saiba, ele e o Coronel Barata são como unha e carne. Puxou briga com um, é mexer com a mãe do outro.
O baiano jogou o que restou do cigarro fora e levantou-se.
-Nem me apresentei, sou Pedro, trabalho no centro comunitário de Santa Maria, o senhor é de onde?
O baiano começou a andar, desprezando totalmente a existência de Pedro. Andava meio tonto, seria pela bebida? Pedro começou a seguir o baiano.
- Eu estava no bar, vi o que o senhor fez, incrível, incrível mesmo – Pedro percebeu que o baiano cambaleava muito – O senhor esta se sentindo bem?
Foi então que o baiano percebeu três coisas: a primeira era que Pedro falava muito e a vontade de soca-lo na cara era grande, a segunda era que o sangue em sua camisa não era proveniente somente dos homens do Corcel, e sim dele também, e a terceira coisa era que o efeito do álcool havia passado e ele começou a sentir dor, muita dor. Desprezando a primeira coisa, e focando nas duas ultimas, o baiano concluiu que estava ferido, precisava fazer alguma coisa. Tarde demais. Desmaiou.
- Me deixa ir, por favor – dizia ela - Preciso atender outros clientes.
- Tudo que tu precisa tá bem aqui comigo, mulher – falava o homem apertando mais a garçonete contra o corpo, deslizando a mão pela sua perna.
Todos os que estavam na mesa, o que era num total de quatro contando com nosso “bom moço” aí, se acabavam em risos.
- Hoje tem! – gritavam eles, e era seguido por mais um acesso de gargalhada.
O baiano já se encontrava no balcão, e o balconista, um cara de meia idade um pouco gorducho, se aproximou e perguntou:
- Vai querer o quê?
O baiano apontou pra uma garrafa de pinga que estava na estante, o garçom a trouxe com um pequeno copo.
- Tem como pagar? – O garçom perguntou olhando para o estado do baiano.
O baiano tirou o chapéu e retirou um saquinho de dentro, tirou um maço de dinheiro e botou no balcão.
- Deixa a garrafa – disse o baiano.
O garçom pegou o dinheiro satisfeito. Então entrou um homem nervoso dentro do bar e foi em direção à mesa dos marmanjos beberrões. O baiano virou o primeiro copo de cachaça pra dentro.
- Chefe! Chefe, a gente encontrou o Zé e o Jair – falou quase sem fôlego o homem que acabara de entrar no bar.
O suposto chefe parou um pouco de alisar a garçonete e olhou para o rapaz. O baiano virou o segundo copo.
- E onde esses cabras se meteram que até agora não vieram se reportar a mim?
O baiano virou o terceiro copo.
- Eles estão mortos, senhor! – Disse o rapaz – Foram encontrados amarrados pelos braços na cela de um cavalo nos arredores de Santa Maria.
O baiano virou o quarto copo.
- Mas quem diabos fez isso? – Disse o chefe se levantando em ira e cólera.
- Ainda não sabemos, senhor.
Virou o quinto copo.
– Quero o nome desse cão que eu vou mandar espanca-lo ate a morte... – Virou o sexto copo – e amarrar o cadáver desse cabra filho da mãe na frente de Santa Maria pelo saco!
Virou o sétimo.
- Ele não sabe com quem mexeu esse filho da put*?!
- Chefe, tenha calma, vamos achar o responsável – disse um dos que estavam na mesa. Nesse momento a garçonete já havia saído, com medo. Todos do bar já observavam a pequena explosão de raiva. Menos o baiano que virava o oitavo copo, deixando a garrafa com cinco dedos de pinga sobrando.
- Se ele é tão macho assim quero que ele venha aqui me peitar, quero só ver! – Disse segurando uma pistola e apontando pra rua – Eu sou braço direito do Corcel Negro! Mexeu comigo, mexeu com a fera!
O copo que o baiano segurava trincou. Ora, sabe-se que o bar era iluminado por apenas uma grande lamparina que ficava no centro do estabelecimento. Desse modo, não foi suficiente pra iluminar o rosto do baiano que aparecera em pé atrás do cara escandaloso do bar. Ao se virar, o homem encarou o ser que estava em pé bem próximo dele. O ser segurava uma garrafa de pinga com cinco dedos pra acabar, uma cara fechada, com olhos, que no intimo, pensou consigo mesmo, eram olhos vermelhos, vermelhos como os olhos do cão dos infernos.
- Quem és tu, cabra? – Disse o homem apontando a pistola pra barriga do baiano – Segue teu caminho antes que eu resolva descontar minha raiva em ti.
O baiano bebeu mais um pouco de pinga.
- Era tu que tava me chamando, seu p*rra – Com uma mão segurou a pistola emperrando-a evitando seu disparo com a outra sentou o fundo da garrafa na cara do homem, quebrando seu nariz.
Os outros três se levantaram, mas antes que sacassem suas armas, o baiano arremessou a garrafa na grande lamparina, que explodiu, formando um rápido clarão, porém mais rápido que isso foi o baiano pegando a pistola do homem agora em agonia por causa do nariz, e o segurando com a outra mão, usando o corpo dele como escudo. O primeiro disparo do baiano acertou em cheio um deles. Os dois que ficaram levantaram a mesa pra fazer uma barricada. O resto do pessoal começou a sair desesperados, pela porta, janela, por onde desse. Os tiros eram as únicas forma de luz que iluminavam o lugar agora, de fora só se via os rápidos clarões e escutava a barulheira de vidro quebrando e mulheres gritando. O baiano empurrou o seu “escudo humano” que agora já era um cadáver com violência pra cima da barricada dos três, mas com tanta força que a mesa quebrou ao meio, fazendo com que os dispersassem no escuro do salão. Na escuridão, o baiano desapareceu.
- Onde esse está esse maldito!! – Gritou um deles.
- Filho duma jument* - Antes que completasse a frase levou um corte na garganta de uma criatura que saiu de trás do balcão. Caiu no chão em sangue e agonia. O último que ficou conseguiu enxerga-lo em meio aquele breu e mirou no baiano, porém num movimento rápido ele tirou seu poncho estilo peruano e arremessou na direção do homem armado. Houve disparos, mas o pano atrapalhou, o alvo era rápido e foi com tudo pra cima do ultimo capanga, e com um pisão o arremessou para fora do bar com violência. Do lado de fora, curiosos foram se aproximando, o baiano saiu a passos lentos de dentro do bar, agora sem seu poncho, mostrava uma simples camisa de botão gasta aberta na região do peito, na cintura, seu cinto com compartimento pra sua pistola e também pra sua faca peixeira, um sapato simples feito de couro costurado, e claro, seu chapéu que produzia uma escuridão no seu rosto tenebrosa, sob a luz do luar. O capanga tentou encontrar sua arma, mas em vão, ele e o baiano estavam parados, um olhando para o outro. Então, lentamente, o baiano tirou seu fumo, já enrolado num papel, e botou na boca.
- Tem fogo aí? – perguntou com toda a naturalidade que naquele momento era inapropriada.
- Vai te danar! – Disse o capanga indo agora em direção do baiano, com velocidade e raiva.
A sequencia de socos foi facilmente desviadas pelo baiano, o capanga tentou agarra-lo, mas foi surpreendido por um movimento de braços que desfez o agarrão. O baiano, então, aplicou um soco no rosto do capanga que o fez recuar um pouco, dando espaço para o baiano assumir uma postura que somente os que estão familiarizados com a arte da capoeira, conseguiram perceber. Aplicou um chute na cabeça, outro no tórax, o terceiro foi uma rasteira que fez o capanga cair. Do chão, o capanga olhou para o rosto oculto pela escuridão do baiano, seus olhos vermelhos, entrava em contraste com o sangue na sua camisa.
- Eu só perguntei se tinha fogo – Disse o baiano ainda com o cigarro na boca.
- Enfia esse cigarro n*... – antes de o capanga terminar, o baiano sacou sua pistola e atirou no saco dele. Sim, ele gritou, gritou bastante.
O show de horror e sangue deixou alguns curiosos com medo e esses fugiram, outros ficaram temerosos mais curiosamente não queriam sair dali e perder o “espetáculo”. O baiano entrou no bar novamente e ao sair, seu cigarro estava acesso, ele sentou no rodapé da porta, fumando, bufando fumaça e meditando sobre a vida, o universo e tudo o mais. Ou não.
(flashback)
Favela baiana. Aglomerações de pessoas, comércio e residências irregulares, algo parecido com a Índia na hora do rush, ou seja, toda hora. No meio da massa de gente, um garoto, adolescente, roupas surradas, com vários salgados e pães nas mãos. Dois homens o perseguem, eles não aparentam estar felizes e nem brincando.
- Pega, ladrão! – Grita o primeiro.
- Segura esse moleque! – Grita o segundo.
Para a infelicidade do menino que acabou esbarrando em um ambulante e acabou caindo derrubando a comida e sendo soterrado por vários produtos piratas de segunda, mas que quebram um galho e imitam com perfeição os originais.
- Peguei, seu pilantrinha! – Disse um dos perseguidores levantando o menino pelo cabelo.
- Já é a terceira vez, seu pivete! – Disse o segundo espremendo as mãos – Tá na hora de te dar uma surra pra aprender!
Alguém arremessa uma pedra e acerta a cabeça do homem que estava segurando o menino.
- Mas quem foi o filho da p*ta?! – Diz botando a mão no local do ferimento.
Os olhos dos envolvidos avistam, então, outro adolescente, parado, com uma pedra na mão. Ele é magro, roupas surradas, cabelo crespo e sujo.
- Baiano! – Grita o menino.
- Sai dai – Diz o jovem baiano.
O menino percebeu que já estava livre e se pôs a correr, o homem ainda tentou segurá-lo, mas levou outra pedrada.
- Vamos, foge também baiano! – Disse o menino ao passar correndo pelo baiano.
Mas, o baiano não fugiu, e nem sequer pensou na hipótese de fugir. Os homens se aproximaram, não ia ter muito papo, e nem precisava, os socos e pontapés são mais expressivos que palavras em uma discussão, e quem achar o contrário, é porque nunca ganhou um hematoma ou cicatriz pra se orgulhar.
- Perdeu a noção, moleque – Disse o homem com a cabeça sangrando.
- Não fui com a tua cara – Respondeu o baiano.
Num movimento rápido, o baiano, com uma pedra na mão, sentou com toda força na cabeça desse sujeito que saiu cambaleando enquanto o segundo vinha como um centauro ensandecido. A surra que o baiano levou foi severa, mas é de se salientar que ele deu umas também, a mordida no braço desse segundo, de certo, não vai sumir tão cedo. Por fim, surgiram pessoas de bem que apartaram a briga.
Sentado na areia, o baiano observava o oceano, do seu lado se senta um homem, mulato, roupas simples, no pescoço, um colar com uma figura de uma divindade africana.
- Fiquei sabendo da briga que te meteste, baiano.
O baiano nada respondeu.
- Sei que foi por uma boa causa, és um bom garoto, disciplinado, já domina as artes da capoeira e do mandigo quase tão bem como eu. Só me prometa uma coisa.
O baiano olhou profundamente para seu mestre.
- Não te deixa corromper por nada. Nunca esqueça quem és. Força, dinheiro, ódio... são coisas que nos mudam, nos influenciam a esquecermos nossa essência.
O mestre então tocou no braço do seu pupilo.
- Aprenda a controlar isso para te tornar um verdadeiro guerreiro.
Zulu então tirou um maço de fumo, acendeu e deu uma longa tragada.
-‘Bora tratar essas feridas – disse se levantando e tirando a areia da calça dando tapinhas.
Estranhamente, ocorrem flashs esquisitos, cenas de um futuro não tão distante daquela lembrança, algo sombrio e sangrento. Imagens da cena do crime onde seu mestre falecera, ou melhor, onde ele foi brutalmente assassinado, o cadáver cheio de buracos de tiro e a cabeça cortada fora. Choque.
(fim do flashback)
-Arranjar briga com os homens do Corcel Negro não é algo muito inteligente a se fazer – Disse um homem que estava encostado na parede do bar próximo ao baiano que ainda estava sentado no rodapé da porta do estabelecimento – Corcel Negro é o prefeito daqui, caso você não saiba, ele e o Coronel Barata são como unha e carne. Puxou briga com um, é mexer com a mãe do outro.
O baiano jogou o que restou do cigarro fora e levantou-se.
-Nem me apresentei, sou Pedro, trabalho no centro comunitário de Santa Maria, o senhor é de onde?
O baiano começou a andar, desprezando totalmente a existência de Pedro. Andava meio tonto, seria pela bebida? Pedro começou a seguir o baiano.
- Eu estava no bar, vi o que o senhor fez, incrível, incrível mesmo – Pedro percebeu que o baiano cambaleava muito – O senhor esta se sentindo bem?
Foi então que o baiano percebeu três coisas: a primeira era que Pedro falava muito e a vontade de soca-lo na cara era grande, a segunda era que o sangue em sua camisa não era proveniente somente dos homens do Corcel, e sim dele também, e a terceira coisa era que o efeito do álcool havia passado e ele começou a sentir dor, muita dor. Desprezando a primeira coisa, e focando nas duas ultimas, o baiano concluiu que estava ferido, precisava fazer alguma coisa. Tarde demais. Desmaiou.