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Post by JP Vilela on May 4, 2012 21:55:44 GMT -5
Então pessoal, que vergonha. Mas vamos lá. xD
As pessoas que me conhecem um pouco mais podem, ou não saber que eu tenho uma historinha em mente. Fruto da minha imaginação de moleque malemolente e... estudada, adaptada, reformulada, adaptada denovo, melhorada... em seguida adaptada... bem, vamos dizer que já trabalho nela a alguns anos. Por enquanto chamo só de Rune por que gosto de nomes simples para histórias. xD
Bem, um pouco do que existe nela: Muitas referências e influências de mundos fantásticos, e do bom e velho RPG. Sério, não consigo me afastar do gênero fantástico, é algo que tenho muita paixão. E também referências de períodos históricos do nosso mundo.
O gênero predominante seria aventura, mas não gosto de me limitar apenas a focar nele, quero que a aventura seja o alicerce, mas a ação, romance, suspense.. comédia... e... terror façam parte da mistura também.
Isso que vou postar seria.. o equivalente a um cap 1? Acho que sim. Porém, tive preguiça de escrever ele todo, então digamos que isso é a primeira parte do primeiro capítulo. xD
Em breve atualizarei.
Então pessoal. Não sou bom escritor. Nem manjo muito da parada. Mas por favor. Convido todos a criticarem, opinarem... xingar, etc.. etc... Sua opinião é importante.
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Post by midori on May 5, 2012 7:40:53 GMT -5
Vou ler assim que terminar de ler os trocentos roteiros/textos/etc que estão na frente LOL... Mas leio sim xD
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Post by Anselmo on May 6, 2012 19:02:19 GMT -5
Terror = Dungeons escuras e templos assustadores? MUAHAHAHAHAHHA *u*
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Post by JP Vilela on May 7, 2012 11:50:05 GMT -5
Terror = Dungeons escuras e templos assustadores? MUAHAHAHAHAHHA *u* Na verdade, locações como cavernas e templos sinistros vão existir sim. Mas o terror seria mais em ambientes um tico mais abertos, como cidades. Ainda preciso melhorar nesse quesito. Existe um grande abismo entre o terror genuíno... e coisas gore galhofais...
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Post by Dona Ursa on May 7, 2012 12:48:24 GMT -5
Oh.. Não tinha visto que vc já tinha postado :x. Mas eu li. Eu acredito ter visto certos erros de concordancia temporal (ora aparece frases no presente e hora no passado), mas eu teria q marcar todo o texto pra ter certeza de que é erro mesmo. Uns erros de gramática "desde" "mofar" etc. Você pode fazer as descrições dos personagens menos direta, não que seja realmente necessário, mas ai parece que vc está baixando a ficha de cada um deles (ou sei lá kk). Dá pra integrar as caracteristicas com alguma outra coisa, ou fazer um texto meio tolkien e ficar meia hora só pra dizer que o cara tem cabelos bagunçados kkk (kidding).
É basicamente só a introdução de cenário e personagens, portanto quanto a história ainda não tem nada o que dizer... Só que teve algumas descrições que eu achei que ficaram um pouquinho estranhas, talvez os termos usados poderiam ter sido outros, não sei.
Oh... Eles moram em uma toca de toupeira e dividem território com anões XDD?
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Post by JP Vilela on May 7, 2012 14:51:47 GMT -5
Maldita escrita! Mal consigo acompanhar seus tempos verbais!
Qual as passagens que você achou mais toscas shuu?
Eles não dividem território com anões. Pelo menos não no momento xD
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Post by JP Vilela on May 20, 2012 20:17:11 GMT -5
Doublepost. xD
Peço desculpa por possíveis erros de português.
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Post by Dona Ursa on May 21, 2012 8:46:16 GMT -5
Eu já comentei. Mas vou postar também..... Alguma coisa. AINDA acho cedo dizer algo, não aconteceu muita coisa XD. Só reclamo de ter chamado de "defeito" o pobre menino ser novo demais!! (vai q ele se irrita, treina muito, fica melhor q todo mundo e vira um vilão LOL xD).
Eu ainda preciso q vc explique na história o que é um Jotun, para entender exatamente o que significa a missão deles. Ainda acredito que esse capitulo (ou parte) seja uma apresentação de personagens, o que é ótimo (pra mim XD), eu pessoalmente gosto de desenvolver bastante os personagens (o que algumas pessoas, acham que é enrolação kkk, por isso minha narrativa é lenta (NÉ MIDORI!XD)). Eu acho importante esse processo de demonstrar o personagem e mostrar sua consistência.
O mais interessante é que dá pra resumir esse cap em uma frase XD, mas todos detalhes, pelo q vc me falou da história até então, são importantes. (e eu vou parar por hora de falar besteira).
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Post by JP Vilela on May 22, 2012 20:19:20 GMT -5
Eu já comentei. Mas vou postar também..... Alguma coisa. AINDA acho cedo dizer algo, não aconteceu muita coisa XD. Só reclamo de ter chamado de "defeito" o pobre menino ser novo demais!! (vai q ele se irrita, treina muito, fica melhor q todo mundo e vira um vilão LOL xD). Eu ainda preciso q vc explique na história o que é um Jotun, para entender exatamente o que significa a missão deles. Ainda acredito que esse capitulo (ou parte) seja uma apresentação de personagens, o que é ótimo (pra mim XD), eu pessoalmente gosto de desenvolver bastante os personagens (o que algumas pessoas, acham que é enrolação kkk, por isso minha narrativa é lenta (NÉ MIDORI!XD)). Eu acho importante esse processo de demonstrar o personagem e mostrar sua consistência. O mais interessante é que dá pra resumir esse cap em uma frase XD, mas todos detalhes, pelo q vc me falou da história até então, são importantes. (e eu vou parar por hora de falar besteira). Vamos ver se o foi só sacanagem do cara ter dispensado o moleque. xD Mas o que você falou até que ficou bem interessante, acho que vou usar isso de um jeito mais para frente. -----------------------------
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Post by midori on May 23, 2012 9:55:23 GMT -5
Eu já comentei no za ^^! Palavrão não, pls! XDDDDDDDDD
True, Shuu... Mas como eu já disse, quando é para uma longa saga ou um romance não é ruim fazer uma apresentação detalhada e tudo mais... mas não significa que não vai cansar no começo XDDDDDDD... o que não significa que seja ruim. Ainda que para mim as vezes é um sacrifício começar a ler justamente porque eu sei que vai demorar até acontecer algo de interessante xD. (Eu sou do tipo que prefere jogar uma situação de cara, depois explica xD)...
Mas é questão de gosto. Mas eu, por exemplo, leio vários tipos de textos. Desde romances até essas crônicas que saem em jornal XDDDDDD... O que varia é eu começar a ler XDDDDD... Tem gente que vai gostar, tem gente que não vai gostar xD... normal. XDDDD
O estranho é se nenhuma alma viva gostar do seu texto... aí sim seria um problema xD... (O que não acho que seja os casos daqui xD)
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Post by JP Vilela on May 24, 2012 20:41:02 GMT -5
Eu já comentei no za ^^! Palavrão não, pls! XDDDDDDDDD True, Shuu... Mas como eu já disse, quando é para uma longa saga ou um romance não é ruim fazer uma apresentação detalhada e tudo mais... mas não significa que não vai cansar no começo XDDDDDDD... o que não significa que seja ruim. Ainda que para mim as vezes é um sacrifício começar a ler justamente porque eu sei que vai demorar até acontecer algo de interessante xD. (Eu sou do tipo que prefere jogar uma situação de cara, depois explica xD)... Mas é questão de gosto. Mas eu, por exemplo, leio vários tipos de textos. Desde romances até essas crônicas que saem em jornal XDDDDDD... O que varia é eu começar a ler XDDDDD... Tem gente que vai gostar, tem gente que não vai gostar xD... normal. XDDDD O estranho é se nenhuma alma viva gostar do seu texto... aí sim seria um problema xD... (O que não acho que seja os casos daqui xD) Sei como é. Antes de começar eu até pensei em retratar uma situação mais animada, mas preferi sair mais devagar e tal. Sei lá, foi questão de escolha momentânea. Espero conseguir manter um bom ritmo. xDD
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Post by goblinmkt on Aug 20, 2012 22:29:00 GMT -5
Interessante. Talvez os entremeios estejam muito extensos (demorando para alguma coisa acontecer), mas pode ser só uma percepção errada. Não tome como uma crítica (a menos que mais alguém comente isso).
Mas achei curioso. Vamos ver onde vai dar...
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Post by JP Vilela on Aug 26, 2012 17:55:18 GMT -5
Interessante. Talvez os entremeios estejam muito extensos (demorando para alguma coisa acontecer), mas pode ser só uma percepção errada. Não tome como uma crítica (a menos que mais alguém comente isso). Mas achei curioso. Vamos ver onde vai dar... Obrigado pela critica. Muita gente comentou a questão destas primeiras partes serem monótonas, estou procurado melhorar neste aspecto. Escrevi bastante depois disso ai acima, só esqueci de postar por aqui xD Capitulo 2 - Um Vilarejo e uma Besta - parte 2 Capitulo 2 - Um Vilarejo e uma Besta - parte 2:
- Estamos quase prontos senhores - Angus desenrolava de uma capa de couro surrada uma bela lança prateada maior que sua própria estatura, parecia uma Pique, só que um pouco menor e bem adornada. A apoiando em seu ombro direito, ele continuava - quero que cada um dos recrutas estejam posicionados nos telhados dessas casas aqui. - o instrutor aponta para o alto de moradias espalhadas ao redor da jaula. - O resto de vocês sabem o que fazer. Vou iniciar a distração, caso o alvo apareça. - E apagando uma bituca de cigarro com os próprios dedos, concluía - Bem, façam seu treinamento valer a pena!
As enfermeiras se dirigiram para dentro da estalagem que estava por detrás da balista. Os recrutas se posicionaram nos improvisados pontos de observação e Angus e o Sr. Gonzalo ficaram próximos do maquinário, no alto da estalagem. Não era a melhor ideia deixar alguém posicionado na balista a princípio, era uma posição muito chamativa.
Os cavalos que sobraram, meia dúzia, estavam amarrados a uma viga de madeira fincada durante a preparação do terreno. Nenhuma luz foi permitida pelo instrutor, eles ficariam espreitando atentos, qualquer sinal de suas presenças poderia estragar uma possível aparição do alvo.
Uma, duas três horas se passaram, e apenas os sons noturnos eram ouvidos. O zunido dos mosquitos, o cricrilar dos grilos, e o vento forte soprando contra as árvores. Os moradores foram colaborativos, se mantiveram trancados dentro de suas residências. Tudo estava calmo, alguns dos cavalos já começavam a dormir até certo ponto onde, por um momento, tudo se tornou estranhamente calmo demais, e os animais subitamente começaram a ficar inquietos.
Os viajantes se alertaram. Algo estava para acontecer quando, do meio de um bocado de árvores sai uma figura assustadora. Quem avistou primeiro foi uma das moças que estavam em um telhado a noroeste da estalagem. Ela quase pulou de susto, mas felizmente se controlou. Não demorou mais do que frações de segundos para todos presenciarem o ataque. Em um piscar de olhos um cavalo foi abatido por garras negras robustas e uma selvageria descomunal. O animal foi dilacerado com tamanha força, que uma de suas patas foi arremessada ao ar, caindo em um dos telhados após o golpe.
- Mas que... p**** é essa... - Falou baixo Arrieref consigo mesmo.
O Rapaz estava com o Veterano e outro recruta em um telhado lá no lado oposto da estrada. Ele nunca havia visto uma coisa assim, na verdade nenhum dos recrutas tinha e talvez até as enfermeiras. O rapaz sentia um calafrio na espinha e muito nevrosismo a ver a criatura ao longe. Retirou seu mosquete e fez por pouco tempo a mira, e depois o guardou vendo que era desperdício atirar com uma arma daquela contra um animal daquele tamanho, em seus estudos ele aprendeu que os Jotuns tinham pele muito resistente. Então enfiou os dedos em um dos bolsos da cinta que cruzava seu peito e retirou o pequeno frasco com liquido amarelo. Poderia precisar.
O predador devorava o equino que guinchava de desespero ainda vivo, enquanto os outros presos próximos se debatiam e relinchavam com o maior terror imaginável. O velho entrevistado pelo instrutor não estava errado, a criatura era de fato maior que um cavalo. Sem preder tempo, Angus faz a mira e arremessou sua lança contra a fera com uma força anormal. A arma pontuda vai zunindo cortando o ar e a acerta em cheio. Sua ponta o perfura bem no meio das costas, penetrando a carne até ficar fincada lá quase estática. A criatura solta um alto urro, assustador, como se fosse a combinação do barulho de várias criaturas diferentes, um eco horripilante retumbou pela vila . A besta gira com violência arremessando o cadáver do cavalo em uma das casas próximas, destruindo sua entrada e instantaneamente avança em direção a Angus.
A medida que esta se aproxima, torna-se mais fácil se notar seus bizarros detalhes: Era um grande ser cinzento, com uma cabeça que lembrava vagamente um ser humano com dentes protuberantes se lançando para fora das mandíbulas pintadas de sangue. Possuía braços e pernas musculosos, que usava para correr como um quadrupede. Tinha uma pele e cabelos ralos de mesma cor muito curtos. Mas uma das características mais peculiares era que seus olhos e alguns pontos na epiderme quase escamosa, brilhavam levemente em um tom azul muito fraco. Era maior que um cavalo apoiada sobre suas quatro patas, passaria dos três metros com facilidade se erguesse-se apenas nas traseiras.
Angus se joga para a direita com velocidade, arrancando a sua arma das costas do animal da criatura enquanto essa passava perigosamente perto dele. Enquanto isso, Gonzalo manuseava a balista, fazendo a mira na criatura. Os recrutas acendiam suas tochas, pobremente iluminando os telhados e o ambiente de uma maneira geral. A fera finca suas garras posteriores contra o chão girando o corpo a alavancando conta Angus, que usa sua lança como um apoio para saltar mais alto sobre o inimigo quando este se aproxima embalado. Em pleno ar, desfere uma estocada contra as costas expostas, perfurando perto da outra recém-feita ferida. Estava cada vez mais evidente em seu jeito de mover, que o homem também não era um mero mercenário, ou coisa do tipo. Seus movimentos eram ágeis de mias, sua força era estranha para sua constituição física atlética.
A ação não foi rápida o suficiente para evitar que a besta girasse com violência o fazendo perder o equilíbrio, caindo em um rolamento. Sua lança voou longe, e instantânea mente, a fera salta contra ele, passando suas mão grossas e garras rombudas a milímetros de sua testa. Ao aterrizar, a criatura gira com força focando agora mais uma investida contra o desarmado guerreiro. Ela levanta seus grossos braços para cima fechando os punhos, os fazendo parecer dois martelos feitos de garras e couro. Quando faria o movimento para descer os braços, um alto som corta seu rugido. O arpão da balista passa de raspão em seu braço esquerdo, arrancando um grande naco de carne cinzenta. Com um espasmo de dor, ela gira o membro direito acertando Angus em cheio, o fazendo voar por alguns poucos metros mole como um boneco de pano.
Ela instintivamente olha na direção da balista, e de seu atirador. Agora não com a velocidade assustadora de antes, mas ainda sim com um manquejar veloz, ela se dirige ao instrumento, o Sr. Gonzalo não perde tempo e saca da bolsa presa ao seu tronco algumas esferas metálicas, com pavios que são acesos com uma brasa da fornalha. Ele recua um pouco arremessando três bombas do tamanho de limões, que explodem no rosto da fera. Seu urro é estrondoso. E ela sai correndo da nuvem de fumaça sem direção e se choca contra uma das casas mais simples que estava por perto, abrindo um buraco em sua frágil parede. Sobre o telhado desta, se encontrava a dupla de recrutas Arrieref e o veterano. Ambos apavorados pela inexperiência.
A criatura abre os estranhos olhos brilhantes, vendo uma família horrorizada com sua presença. Ela se levanta com rapidez espirrando com a poeira que havia levantado e na hora em que iria usar suas garras para um ataque, mais uma explosão atropela o som de seu rugido, era um mosquete disparado a queima roupa contra as costas feridas do animal, com isso ela vira para ver Arrieref já usando sua espada na mão esquerda para desferir um corte contra seu nariz. Mais um rugido bizarro, o rapaz faz um desesperado rolamento para o lado, abandonando a arma de fogo para evitar um ataque da criatura, que varre o chão cheio de escombros com suas patas. Ao menos, agora tinha desviado a atenção da descontrolada besta para si. O recruta com rapidez se levanta para ver que o monstro estava perseguindo com aqueles olhos maliciosos fixados nele e imediatamente começa uma corrida contra sua atual posição. O recruta se joga para o lado, fazendo com que a besta desse de frente com um outro muro de pedra, dessa vez mais resistente, a machucando por mais incrível que isso pareça. Os recrutas mais próximos abriam fogo contra esta com seus rilfes, as balas acertavam nos mais diversos pontos da besta, mas não chegavam a penetrar muito mais do que sua grossa pele. Estavam ajudando, mas era quase inútil. Isto erra o que os locais teriam tendado, abrir fogo.
O rapaz não tem tempo para pensar. E salta para agarrar na borda de um telhado e sem muito esforço se puxa para cima. Olha para a balista, que estava lá a uns duzentos metros de distância com o Sr. Gonzalo prendendo mais um arpão a correntes. Ele vê Damon se aproximado também do local, Arrieref deduz por extinto que o colega iria preparar a arma para mais um disparo a tempo com a ajuda do mestre engenheiro. Ele contava com isso, só precisava chegar a linha de fogo. O teto onde está treme e com um grande estrondo, a besta destrói a metade da pequena casa, surgindo de baixo para cima, arrebentando o plano no qual o rapaz se encontrava, o lançando para fora. Manobrando o peso do corpo para cair com um desengonçado rolamento no chão, sentindo pequenos pedaços de telhado se cocarem contra sua cabeça. Sem perder tempo algum, Arrieref começa a correr com toda sua força. Um pesado pedaço do teto cai a centímetros dele, pura sorte. A criatura o persegue enquanto foge até o ponto.
Cada passo era feito com toda a força que tinha em seus músculos. Vendo Damon girando a base da balista em sua direção ele imediatamente sabia o que teria de fazer. Se jogou com toda a energia restante para frente, o fazendo deslizar de peito contra a areia seca do chão. Mais um alto disparo é efetuado no mesmo instante, e o rapaz vê o grande arco da balista se destorcer fazendo o veloz arpão passar por cima de seu corpo, a adrenalina era tamanha que a cena pareceu acontecer em um rítmo mais lento do que realmente era.
O projétil acabou por atingir um pouco abaixo do ombro direito da criatura, que quase escapava do disparo. A dor a faz tropeçar em suas próprias pernas, mas essa não desacelera, caindo com brutalidade contra o chão, deslizando todo seu peso e indo de encontro ao recruta, que se rastejava para trás, com desespero no olhar. O Sr. Gonzalo com astúcia ativa os pistões da balista, que aciona um mecanismo de tração que puxam o cabo metálico preso ao arpão com força. Este estava engenhosamente posicionado em paralelo as barras do fundo da Jaula.
A criatura é puxada, Arrieref faz alguns desesperados rolamentos para o lado, deixando o caminho até a arapuca livre. Sendo arrastada até dentro das grades. Damon não perde tempo e dá a volta e tranca as portas da jaula empurrando-a com força. Os travamentos são acoinado e ela se fecha com solidez, deixando o alvo preso em seu interior. Capitulo 2 - Um Vilarejo e uma Besta - parte 3 Capitulo 2 - Um Vilarejo e uma Besta - parte 3:
Se fez um breve momento de silêncio, atrapalhado apenas com o som bizarro do cativo. Era estranho ver aquela fera presa depois de tudo que foi capaz de fazer, parecia que nem aquelas imensas barras iriam conter sua fúria. Ela até tentava se jogar contra as paredes da jaula, fazendo um grande estardalhaço, mas estas permaneciam sólidas,o metal negro cumpria seu papel. Depois disso, uma celebração mutua, os recrutas desciam dos telhados aliviados.
Aerrierf suava frio, e seus músculos tremiam. Ainda estava processando o que havia acabado de fazer. E que poderia ter acontecido se seus movimentos não tivessem sido exatamente os que foram.
- Você está bem? - A jovem enfermeira se aproximava, pronta para prestar primeiros socorros.
- Eu... eu...estou. - O rapaz percebe que, embora estivesse coberto de poeira, havia saído da frenética perseguição praticamente ileso, apenas com alguns arranhões em seus cotovelos e um corte em sua mão esquerda, que fez quando subia um telhado. Bem diferente do cavalo que foi dilacerado sem a minima chance.
- Deixa eu ver isso aqui. - ela puxa seu braço com delicadeza e pega uma pequena garrafa de antisséptico. Agora tinha percebido que o rapaz não tinha o dedo mindinho daquela mão. Era apensa um cotoco, parecia que foi cortado fora a muito tempo atrás. Sua mão tinha a pele áspera, seus dedos eram grossos, e alguns tinham as unhas machucadas, envoltas em curativos. – Seu nome... é Damião, certo?
- Ah, sim. Mas, por favor, me chame de... Dami. - Sorri sem graça. Uma gota de suor escorre por sua bochecha. Se fossem para o chamar pelo primeiro nome, preferia que esse fosse o apelido.
- Vejamos. – ela o estuda dos pés a cabeça - Espasmos, músculos rígidos, transpiração exagerada. Hum, ou você teve a maior descarga de adrenalina do século, ou tomou um “reforço” para fazer tudo que fez. - sorri gentilmente – Não se preocupe não conto para ninguém. Com ou sem poções você fez uma coisa muito corajosa... Sr. Dami.
- Huum... obrigado Rachel. Eu... eu fiz, o que tive que fazer. Eu acho.
- E de quebra, teve muita sorte, veja como acabou seu instrutor. - Ela aponta para o homem jogado no chão.
Ambos trocam sorrisos.
Depois dos rugidos assustadores, dos sons de destruição e dos guinchos dos cavalos, ouvir o júbilo dos forasteiros foi o suficiente para fazer os residentes mais corajosos botarem seus rostos para fora de suas casas. Ver aquela coisa presa, era muito satisfatório, mas nem para todos, em pouco tempo a maioria dos moradores saíram de suas casas para testemunhar as repercussões das ações dos viajantes. Os recrutas cobriam a estrutura com a longa capa de couro usada em seu trasporte.
- Pelos Antigos, Angus! Deixe de ser infantil, precisamos ver como você está. - a Sra. Aline colocava as mão na cintura enquanto criticava a atitude do instrutor.
- Eu já disse, estou bem – o homem tenta se levantar do local onde está, quando sente uma dor em seu ombro esquerdo – AAHG! M****! - ele foi deslocado quando absorveu o impacto da queda.
- Oh, mas é claro, tão bem quanto qualquer um que acaba de ter sido nocauteado por um Jotun! Você deu muita sorte! Deixe eu ver esse ombro. - ela se aproxima do homem, que com um pouco de dificuldade se punha de pé.
A enfermeira sabia precisamente o que fazer, apoiou uma das mãos no ombro do enfermo e a outra em suas costas, com jeito ela puxa o osso para seu lugar, fazendo um barulho engraçado para quem estava assistindo a cena um pouco mais de longe. Angus fez cara de dor.
- Obrigado, Sra. Aline – fuzilava ela com os olhos castanhos - agora eu preciso dispersar essa mundiça para prosseguirmos.
Ele arruma os óculos no rosto, não haviam caído muito longe, estes tinham trincado na lente esquerda. Percebendo isso, o instrutor os dobra e guarda no bolso do capote. Já fez o movimento para sair de lá quando a mulher o segurou pelo ombro machucado.
- Onde pensa que vai? Ainda não terminei com você! Vejamos... aqui doi? - cutucou a costela dele com o dedão. Angus deu uma pequena recuada com dor.
- Aha! Uma, duas... é Angus, você precisa repousar.
-Repouso quando chagarmos em casa! Sua maluca. Deixe-me trabalhar...
Com o braço direito a afasta para o lado e se dirige em direção ao resto das pessoas. No caminho acha sua brilhante lança prateada, caída no chão de terra do lugar. Angus a apanha com cuidado e usa como bastão de caminhada. Passa por entre o grupo de moradores até ficar de costas com a grnade jaula coberta.
- Bem, terminamos nosso trabalho por aqui...
- Seu trabalho?! Vocês destruíram uma casa, e danificaram várias outras! - O Sr. Villas, o líder local emergia de um grupo de pessoas. Vinha acompanhado por quatro de seus empregados armados. Sua expressão era nem um pouco amigável.
- Culpe os danos ao seu amiguinho aqui, Sr. Líder... - Angus bate em uma das barras de ferro da jaula com sua lança, a besta lá de dentro urra com fúria, fazendo todos ficarem em silêncio. - E por favor, seja mais grato aos nossos serviços.
- E para melhorar vocês ainda deixam essa droga viva? Ela devia ser abatida! Imediatamente!
- No nosso acordo eu disse que nós os livraríamos dos seus problemas, e o fizemos... Sr. Líder. A não ser que o senhor queira que eu o solte novamente, para que... hum... vossa senhoria o mate com suas próprias mãos? Que tal?
- Não me provoque negro! -Abria os braços, insinuava usar seus capangas.
- Nem o senhor a mim. Bem, veja , use a razão, tenho mais homens que você, se quiser iniciar um confronto, mataremos seus mal treinados guarda-costas e o jogaremos na jaula com a criatura. Eu poderia ser baleado, é verdade, mas te garanto que metade dos meus ainda estaria de pé. Comporte-se. - completava com indiferença.
As pessoas que assistiam a discussão se entreolham nessa hora, o Sr. Villas sempre foi o que tinha a ultima palavra no lugar, nunca alguém o desafiou dessa maneira. Principalmente um homem negro feito Angus. Ficaram curiosos para ver o que viria pela frente. O líder continuava:
- Hum, e ainda por cima me ofendem. - olha em volta por alguns segundos, o Sr. Gonzalo estava no controle da balista, mirando aquele arpão imenso em sua direção. Sem dúvidas era uma posição nada agradável para um homem de seus status - As pessoas que estavam dentro da casa que aquela Besta destruiu poderiam ter morrido! E... e você deu ordens para incendiarem o meu curral! Explique-se! - usava um lenço para enxugar o suor do rosto.
- As pessoas ficaram bem...
- Era melhor se todos os moradores tivessem ido para a igreja! - interrompe com certeza em sua voz.
-Veja bem, Deus não ajudou os moradores que morreram nas matas, e imagine o que aconteceria se a criatura por um acaso invadisse o local com todos os moradores reunidos, certamente não cairiam raios dos céus para matar o monstro... não, é melhor deixar eles dispersos mesmo, se tivessem de morrer, morreriam poucos. - fala enquanto se apoia na lança, a multidão não gostou nada dessa declaração - A questão do celeiro foi pura prevenção, em sua ignorância, você não deve saber, mas seu gado foi morto por doenças que a criatura carrega com si, se alguém dessa vila tivesse as contraído caso o curral ainda estivesse de pé, estariam todos mortos em uma semana. Então... seja grato aos nossos serviços.
Sr. Villas poderia discutir com Angus a noite inteira, já estava vermelho e roçando os dentes, mas viu que alem de não entender nada da criatura, não tinha argumentos. Mesmo que tivesse, o arrogante caçador poderia o intimidar com facilidade. O líder se retirou com raiva, junto com seus empregados. Durante seu trajeto se encontrou com mais um dos seus homens, que estava avaliando os estragos do lugar.
- Seu curral está em chamas. - informa tentando ser útil. - Eu sei – responde o líder zangado. - Ah, bem... duas casas foram destruídas... - continuava, mesmo vendo estar agradando nada. - Também sei... me conte uma novidade – falava enquanto enxugava um puco de suor do rosto com um lenço. - Anhh, achamos aquela sua égua premiada senhor... - falava com evidente relutância. - Ah, maravilha! Ao menos uma notícia boa nessa noite! Onde ela está? - Se Villas tinha orgulho por algo, era pelo seu belo animal. - Bem... - Vamos homem! Desembuche! - Ahh... metade dela está na frente daquela casa ali senhor... não achamos o resto ainda...
O líder não fala nada, apenas abaixa a cabeça e põe as mãos no rosto se dirigindo para sua casa.
O resto da noite foi de festa. Salvo alguns gurnidos da fera o clima foi ótimo. Os viajantes comiam e bebiam, se encontravam na estalagem do lugar, alguns já saiam para dormir, outros ainda estavam nas mesas. Tinha aqueles que tomavam cerveja, o veterano Heitor era uma desses. Já tinha bebido umas cinco canecas, e com isso, subia em sua cadeira com a bebida na mão.
- Eu sho gostaria de dizer, que eu amo todos vocês! Voshes são o grupo de recrutas mais lindo em que eu estive! - falava entre um soluço e outro – Depois de cinco anos, cinco longos anos! Vou poder me tornar um oficial... viva! - e levantava a caneca para um brinde, derramando quase metade se seu conteúdo no movimento.
Os demais brindaram, era sempre engraçado ver ele naquela situação. O veterano tinha fama de beberrão, e de fazer palhaçadas quando estava alcoolizado. Mesmo assim, ainda conseguia se portar como uma boa pessoa, era incrível. O veterano continuava com o desajeitado discurso:
- E, não nosh daum podemos nos esquecer... ninguém se machucou.. tirando – fazia uma pausa para pescar palavras, franzia a testa – ohs crápula do Angus! - todos comemoraram com mais animo ainda. Não ficou muito claro se festejavam por que de fato ninguém se feriu gravemente ou se foi por que gostaram de ouvir o insulto ao instrutor. Com certeza esse ouviu lá de fora - Ah! Não nohs esqueçamos, de quem deu um espetásculo hoje! Cadê aquele desgraçado? - procurava pela pessoa – Ai está! Mai um brinde! Pra nosso companheiro, Dami DesValence! Para ele, se sua loucura de se jogar contra uma porcaria de um Jotum meus amigos! - ria com alegria como se não houvesse um amanhã.
Aerrierf se encontrava em uma mesa mais afastada, o rapaz levanta sua caneca um pouco envergonhado. A entorna com vontade. Estava com uma jarra d'agua ao seu lado, bebendo com muita sede. Parecia ter saído de um deserto.
O Rapaz vira para o lado e vê que a enfermeira Rachel estava na mesa atrás da dele, com sua mentora, a Sra. Aline. “Como não percebi ela ai antes?” Pensou. Ele afastou cadeira que estava sentado um pouco, para poder girar o tronco. Queria iniciar a uma conversa com a moça, mas não tinha o que falar. Ele olha para a ela, e vê o amigo bêbado ao fundo, e devota para ela. Falou a primeira coisa que veio a cabeça:
-Você não bebe enfermeira? - perguntava enquanto enchia sua caneca com água.
- A, eu... não em situações como essas... é um tanto, antiprofissional. - responde sorrindo e apontando com os olhos para o veterano e o papelão que ele ainda estava fazendo.
- Humm... entendo. - botava a caneca na boca para mais um gole.
- E você, recruta? Por que não está enchendo a cara feito o seu amigo? Sempre me pareceu do tipo baderneiro. - brinca descontraída.
- Ah, é verdade? Pareço ser esse tipo de gente? - entorna mais uma caneca – Humm, eu não bebo, ah... por que geralmente fico muito violento... é é um tanto, antiprofissional. - sorri.
- Entendo, e essa água? - baixa o tom da voz – Desidratação, garganta seca, efeito colateral da poção?
- Huh, não sei. Provavelmente, ao menos essa não me deixou quase morto após meia hora... - balançava a cabeça com indignação ao se lembrar pelo que havia passado. Capitulo 2 - Um Vilarejo e uma Besta - parte 2 - Quem as prepara? - parecia realmente interessada agora, a luz das velas realçava o brilho dos seus olhos azuis.
- Ah, é um amigo meu, o Láu... ah, Laurence Giovane... sujeito pálido, vive no quinto andar. Usa o mesmo tipo de óculos ridículo do Cicatriz.
- Sei quem é. - mentia, tentando associar a descrição a algum conhecido - tentando fazer algo novo e te usando como cobaia?
- Ele sempre teve um que de, cientista maluco... mas é gente boa. Foi a primeira amizade que fiz quando cheguei no Sedoc. Sabe – colocava a caneca em sua mesa, puxando a cadeira mais para perto da enfermeira - foi meio difícil para eu me adaptar as coisa e.... ahm... Rachel, como foi que você se juntou ao Sedoc?
- A, foi por causa dos meus pais, meu pai já era um Aesir, ele veio de Nortglast, como um reforço para o Sedoc a uns trinta anos atrás. - complementava a explicação gesticulando, era uma mania dela - ele se apaixonou por uma nativa daqui de Liverith, e eles tiveram a mim como única filha. Por sorte, eu nasci como uma Aesir, e desde pequena fui estudando nossa história e tradições, para mim, me tornar membro oficial não foi nenhum choque...
A conversa entre os dois foi demorada e divertida, mas por fim se retiraram para a o improvisado acampamento feito próximo ao local, Rachel foi para dentro da carruagem, onde as mulheres dormiam, não era nada confortável, mas a Sra. Aline exigia privacidade para elas. Os homens dormiam no chão mesmo.
Não demorou muito para o sol nascer. A caravana foi se organizando para a partida, a pior parte foi arrumar a carroça que transportaria a criatura. Mas deram um jeito. Agora fariam um trajeto mais longo, e menos movimentado, não queriam andar por ai com aquela coisa dentro da grande jaula fazendo escândalo e atraindo atenção desnecessária.
Capítulo 2 – fim.
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Post by JP Vilela on Sept 21, 2012 20:28:08 GMT -5
Continuando... Capitulo 3 - A Calmaria - parte 1 Capitulo 3 - A Calmaria - parte 1
O Sedoc era um local curioso, mantinha uma faixada de armazém militar com todo o movimento de artesões e trabalhadores em geral, que inclusive era uma das maneiras com que a organização lá estabelecida gerava renda, coletando uma certa taxa dos que lá trabalhavam “na superfície”. Alguns cidadãos de Setecolinas que eram mais espertos, ou mais bem informados sabiam que o lugar também era uma espécie de refúgio para uma guilda de mercenários ou algo do tipo, estes estavam parcialmente corretos, mas era muito mais que isso. Os verdadeiros habitantes do complexo subterrâneo gostavam que os de fora tivessem essa imagem do local, um rustico esconderijo de mercenários, isso não atraia muitas suspeitas para suas verdadeiras atividades.
Cada um de seus cinco níveis inferiores possuía instalações específicas. O primeiro andar, de cima para baixo era o maior de todos horizontalmente, haviam diversas câmaras administrativas. Algumas das salas do andar eram exclusivas de certos membros mais privilegiados. Angus por exemplo, tinha seu próprio “escritório” lá. A enfermaria também era no mesmo piso, o chamado “salão de cura” posicionado ali para ter um melhor acesso os que vinham de fora do local em caso de emergência.
Em uma câmara maior, era onde a maioria dos membros guardava seus equipamentos em armários metálicos, era o chamado “salão militar”. No lugar, também haviam mesas com mapas da região, onde gente encarregada do gerenciamento de tarefas mais “braçais” trabalhavam. A decoração do local era bem diferente do que se via como padrão nas cidades da região. Símbolos e letras de um idioma desconhecido acompanhavam os rodapés das paredes de pedra. Velas e castiçais sempre se faziam presentes iluminando o ambiente subterrâneo dando um curioso ar estrangeiro e exótico a toda a instalação.
Em um dos cantos desse salão Gregório DaRegia retirava uma espada longa embainhada de um suporte no interior de seu armário pessoal. O sujeito parecia ansioso.
- Gregório, finalmente te achei, temos uma nova tarefa para você e seu grupo. - falava Alexis Baltazar, ao se aproximar do grande homem. Trazia consigo uma pasta de couro.
- Que é? - falava Gregório se virando para ver quem era que estava falando – Ah... Sr. Alexis – corrigiu o tom da voz e a postura perante o sujeito de cabelos amarrados.
Alexis o observou por um segundo, seus olhos amarelados analisavam tudo que podiam rapidamente, como os de um astuto predador.
- Hum, você está nervoso? - ambos estavam se trajando com roupas simples, porém Alexis mantinha seu cinto com várias adagas sempre consigo, parecia um amuleto.
- Rachel... a caravana dela era para ter chegado antes do almoço. - olhava para os lados, evitando os olhos do superior.
- Eles devem ter se atrasado de alguma forma, não se preocupe, Angus está com eles. - falava enquanto coçava a barba recém aparada – É uma missão...hum ... simples, e não se esqueça que ela está com o Sr. Gonzalo também... eles sabem se virar... - sorria despreocupado.
- Alexis, eles foram trazer um Jotun... vivo. - parecia realmente nervoso depois de falar isso.
- Gregório, cedo ou tarde a Rachel teria de fazer mais trabalhos de campo, principalmente coisas desse tipo. Você não devia desejar que ela ficasse aqui em baixo toda a vida. Viajar é bom sabe...
Gregório cerrou seus punhos e pode-se ouvir-los estalando os ossos dos dedos non processo. Em seus vinte e seis anos de vida ele era o homem mais alto e musculoso de todo o Sedoc, um brutamontes. Seus músculos eram recobertos por algumas veias latentes, isso ficava evidente em seus braços tatuados descobertos, sempre usava camisa sem mangas. Os desenhos cravados em sua pele iam do cotovelo até os ombros, linhas e símbolos negros simétricos em ambos os braços.
Era moreno, como a maioria dos que são naturais da região, e tinha um corte de cabelo bem curto. Uma leve cicatriz em seu queixo realçava seus traços brutos, mas não era um sujeito ignorante ou bárbaro em seu jeito de portar-se, não na maior parte do tempo. Alguns diriam que era arrogante, prepotente, mas isso se dava pelo seu talento natural para combates, aliados a sua força que se destacava do demais. Todos sabiam que logo logo o "Animal", como era chamado, seria eleito como cavaleiro Jarl, o mesmo cargo de Alexis e do Angus. Ele desabafou:
- Ela não foi tirar férias, ela foi atrás de uma daquelas coisas... eu... - agora olhava com raiva para o descontraído homem. Seus olhos passavam muito bem uma mensagem, essa era: “Se acontecer algo com ela...”.
- Relaxa Gregório, eles estão bem. - Alexis transbordava confiança e calma em tudo que falava. Era o jeito dele – Falando em Jotun... aquele rapaz, ahh... como é o nome dele? Hum não importa. Um batedor. Ele reporta atividade suspeita em uma das matas a leste da cidade. Nacasiba quer que você vá dar uma olhada nisso.
- Aqui? Tão perto? - Já tirava sua cota de malha de dentro do armário, e a vestia sem perder tempo. Ao menos agora teria algo para se concentrar.
- É, divirtam-se - esticou o braço entregando uma papelada de relatórios que havia retirado da pasta.
DaRegia e seu grupo de amigos mais próximos eram um dos grandes destaques do lugar, depois de algumas pessoas com patentes mais altas, como Alexis, eles eram dos membros mais importantes do local. Treinavam juntos desde recrutas e possuíam muita sinergia, ele era o comandante. Cumpriam tarefas com eficiência e qualidade. Os outros os apelidavam de “Os Animais” pois chegavam a ser assustadores de tamanha eficiência em combate. A maioria dos outros membros tinham uma mistura de respeito, medo e inveja deles. Gregório não tolerava piadinhas contra sua pessoa ou seus amigos, já machucou algumas pessoas que os invejavam e isso só colaborava para sua fama de brutamontes.
- Interessante, não houve registro dessas coisas por aqui a quanto tempo? - coletava os papéis das mãos do superior. - Se não me engano... mais de vinte anos, certo?
- Correto. - observava calmamente o ambiente. Pessoas iam e vinham – Parece que são mais de um. Use dos métodos disponíveis para se livrar deles. Se soubéssemos disso mais cedo, Angus não precisaria ter dado toda essa via...
- Sr. Alexis... o que está acontecendo? Primeiro, essas po*** de Jotuns aparecendo com essa frequência. Depois... você esta sabendo que segundo o reporte de William Azeck uma p**** de uma fortaleza Vanir, que ninguém desconfiava existir é encontrada destruída, reduzida a escombros. E para completar... você sabia que aquele cara, o fugitivo... o “Truciciel” matou recentemente uma guarnição nossa na ponta oeste do continente? Uma guarnição... inteira? - tinha que perguntar isso, não podia ficar agindo como se tudo estivesse normal, quando na verdade, vários eventos inquietantes começavam a aparecer do nada.
- Eu... realmente não sei Gregório... os Vanir estão para algo. Disso eu tenho certeza. - por um segundo sua feição se tonou mais séria -Não precisa me lembrar dos fatos mais alarmantes do ano. Faz parte de meu trabalho saber das coisas.
- Eu... só... Hum... Olha. Assim que eles chegarem, eu e os rapazes partimos. - não parecia mas implorava para poder ver a chegada da namorada. Ao menos isso Alexis precisava o conceder.
- Tudo bem! Eu também estou prestes a sair, mas preciso que o Angus volte. Ordens do velhote. - olhava para os lados - Faremos assim: Esperaremos juntos, dai nem você nem eu somos questionados... certo? - sorriu.
Nas costas do armazém, depois dos estábulos e dos muros, a uns quinhentos metros, havia a entrada para uma densa floresta tropical. Pássaros exóticos voavam de um galho para outro das altas arvores do local. Uma coisa que se destacava era um penhasco que ficava em um dos lados dessa mata. Possuía uma bela cachoeira de um rio que atravessava a província. Outra coisa curiosa do local era uma estrutura circular feita de pedra no chão. Era maior do que uma casa. Símbolos de uma língua estranha acompanhavam o contorno do imenso circulo rochoso,que brotava da terra. Escupidos em alto relevo alguns pedestais se projetavam da pedra. Também repletos de marcações e símbolos. Parecia uma coisa antiga, mas era bem conservada. Parecia que periodicamente limpavam o local.
A caravana passava próxima dessa estrutura, lentamente se aproximando até um ponto onde a estrada de terra se bifurcava, um caminho levava para o Sedoc, que não estava longe. Outro levava para dentro da floresta, em direção a cachoeira. Ninguém excerto o grupo de Angu passava pelo local, era longe da cidade e das rotas mais movimentadas.
Angus mascava uma erva para tirar o cheiro do cigarro de sua boca quando chegando perto da bifurcação ele para sua carroça, fazendo todos os que acompanhavam de repente pararem também. O movimento fez a criatura dento daquele enorme quadrado coberto chiar. O instrutor desceu de seu acento e se dirigindo ao grupo.
- Vou levar a carroça para o quinto andar. O resto de vocês podem deixar as coisas nos estábulos, quando chegarem lá estarão dispensados. Quero todos presentes no salão comunal hoje a noite na hora do jantar. - cuspia fora o que mascava. - Bem é isso. - voltando a subir no transporte, Sr. Gonzalo era seu copiloto como foi durante toda a viagem.
Começaram a se mover novamente, a carroça do instrutor ia para um dos lados, a outra ia em direção aos muros do armazém, acompanhada pela carruagem e quatro cavalos. Quando estes haviam entrado portões a dentro já era mais três horas da tarde. O lugar estava movimentado como sempre, todos desceram de deixaram os transportes sobre os cuidados do mestre do estábulo.
Aerrierf pegava suas coisas na carroça enquanto se esticava. Tinha sido muito cansativo, principalmente com a criatura vez ou outra assustando todos com repentinos berros. O escaldante calor do sol do meio dia e o céu limpo sem nenhuma nuvem tinham contribuído ainda mais com o desgaste. O rapaz vê a enfermeira Rachel parar ao seu lado para pegar sua mala médica. Ela também estava cansada, todos estavam. Seus ondulados cabelos castanhos estavam presos, tinha pequenas gotas de suor sobre o nariz arredondado e estava corada.
Ele olhava para a moça, então colocando sua mochila no obro falou despretensiosamente:
- Rachel... obrigado pelo curativo – olhava para mão esquerda que lhe faltava um dedo, o corte na palma dela já estava cicatrizado, quase curado.
- Hum... - ela não havia percebido o rapaz, todos os recrutas estavam vestidos da mesma forma - não foi nada. Apareça na enfermaria se precisar de alguma coisa – demorou para lembrar-se do apelido do rapaz- Dami - sorria passando a mão sobre o nariz removendo uns poucos pingos de suor que lá haviam de formado - foi um prazer conhecer você - esticava a mão, ela sempre estava usando delicadas luvas brancas - Eu agora tenho que ir.
- Ah... claro. Igualmente. - prontamente respondendo com um aperto de mão – perguntava-se por que nunca tinha tentado conversar com a moça, ela era incrivelmente simpática com ele.
A enfermeira deu alguns passos para trás até se deparar com Gregório que sem perder tempo a abraça a erguendo trinta centímetros do chão. Parecia nem ter peso, ele não fazia esforço algum com aqueles braços. Ele olhou diretamente nos olhos de Dami enquanto o fazia, este rapidamente deixou cair sua mochila no chão para não ter que o encarar de volta. O casal se afastou um pouco dos demais. O musculoso homem estava pronto para viajar, com vestes que sempre usava para missões, uma reforçada camisa de couro sem mangas, por debaixo uma cota de malha de um metal escurecido, calça cinzenta e com uma espada presa nas costas por um adornado cinto de couro.
Aerrierf sem jeito olha o casal se distanciar por pouco tempo quando vê Alexis se aproximando com seu canto de olho.
O Jarl estava vestindo um capote de couro com capuz amarronzado, suas roupas eram bem chamativas. Não destoavam do padrão cinzento que todos usavam, mas tinha um belo conjunto de botas e luvas revestidos com couro cinzento e pequenas peças de prata. Suas adagas brilhavam em seu cinto, estava ponto para sair.
- Dami, como foi de viagem? - falava enquanto esticava o braço para um aperto de mão.
- Hum... missão cumprida? - respondeu ao aperto - Você já vai sair?
- É. Tenho que resolver alguns assuntos com nossos queridos associados no sul do país. E de volta, trazer algumas coisinhas da Cidadade dos Arrecifes que o Nacasiba me pediu.
- Humm... você vai perder a cerimônia.
- É uma pena. Mas logo em breve voltarei. - contava as adagas que tinha presas a perna direita - Não será mais do que duas semanas.
- Alexis... quando você voltar, quero conversar melhor com você... eu...
- Hum, já faço até ideia do que seja. - interrompia - Mas eu realmente estou muito atrasado, já deveria ter saído de manhã. Estava esperando por vocês.
- Ah... então... boa viajem?
- Sim. Quando voltar, conversamos sobre os detalhes da sua pequena aventura, e sobre o que você quiser comentar comigo. - despediu-se com um gesto e se virando e vendo Gregório encostado em um lugar abraçado com a namorada – Gregório, já viu que ela está bem. Vamos lá.
O brutamontes acenou coma cabeça e logo passou sua enorme mão com carinho no rosto macio da enfermeira e se despedi com um beijo em sua bochecha. Era engraçado o contraste entre os dois. Ela não era alta, e para trocarem caricias, Gregório tinha de se abaixar, encurvando-se todo.
Acenou para seus companheiros, que se encontravam próximos conversando entre si em uma roda. Todos montaram em seus cavalos, o grupo era de seis no total. Vestidos quase do mesmo jeito que o comandante do grupo, mas seus arquétipos com arquétipos variados, nem todos eram estrondosamente fortes como Gregório. Se organizaram e partiram a galope para o destino entregue por Alexis, que foi andando em outra direção, rumo a cidade de Setecolinas e as caravanas mercantes que de lá partiam para todo o país. Os recrutas não tinham mais o que fazer, e rapidamente se dispersaram.
Depois de um merecido banho, Aerrierf adentra em seu quanto. Deixava suas coisas todas encima da cama, e trocava aquelas roupas por vestes limpas e mais confortáveis. Em seu armário, o rapaz recolhe um colar que tinha deixado lá antes de viajar. Era um simples barbante com uma peça de xadrez amarrada como pingente. Um rei preto. Com cuidado o coloca no pescoço e arruma dentro da camisa acinzentada que vestia.
O rapaz ficou sabendo pelo seu amigo, o “veterano” Heitor, que todos receberiam uma gratificação da tesoureira pela ajuda que deram a Angus. “Afinal de contas, nós estávamos em um trabalho oficial você sabe...”. Foi o que ele disse. Aerrierf então se dirigiu para o primeiro andar. Aonde em uma câmara trabalha a Sra. Cásia Damon a tesoureira do Sedoc. Lá encontrou as outras duas recrutas, que já estavam sendo atendidas. De fato, saiu do local com um envelope e nele vinte peças prateadas de Linthen, a moeda local. Era pouco, mas era alguma coisa. Nunca tinha ganho um tostão dês de que foi recrutado, aquela sensação era boa, receber dinheiro honestamente. Capítulo 3 -A calmaria - parte 2 Capítulo 3 -A calmaria - parte 2
Guardando o saco em seu bolso o rapaz dirigiu-se a saída do complexo, o dia estava muito quente e o sol brilhava forte no céu. Sem pressa tomou a estrada que levava para a cidade.
A grama que acompanhava o caminho estava verde, não era raro chover. O clima geralmente era muito agradável durante todo o ano, parte devido a boa altitude parte devido a latitude em que a cidade se encontrava. Sem picos de frio ou calor, mas nesse dia em específico o verão atacava com toda sua força.
Era óbvio o por que da cidade se chamar Setecolinas, sete grandes formações elevadas circundavam uma área mais baixa, onde a zona urbana se instaurou com maior presença. O armazém se localizava em um dos mais afastados morros naturais, e tinha uma bela vista de toda a zona urbana. O destino do rapaz era um mosteiro, que se encontrava bem no topo de uma outra elevação ao longe, bem visível de onde estava, a sudeste do Sedoc. A viagem não demorou mais de quarenta minutos no passo descompromissado que Arrieref tomava, e lá ele chegou.
O lugar era bonito, a arquitetura representava o estilo rebuscado do início do século, com muros e paredes feitos de tijolos vermelho-alaranjados bem vivos. A faixada do lugar contia desenhos religiosos e minuciosos detalhes, era um lugar bem conservado. Um bonito jardim ficava na entrada do terreno, com bastante sombra provida por laranjeiras. A grama era bem cuidada e uma estradinha de pedras levava para as grandes portas de madeira da capela. O rapaz não foi para lá, deu a volta, indo para um prédio adjacente ao local dentro do mesmo terreno. Era o orfanato do mosteiro.
Na porta um cachorro gordo dormia sobre um tapete de palha. Parecia um lobo pelo tamanho e forma das orelhas e do focinho, com um pelo negro brilhante. Era um animal velho, dava para perceber isso o observando por alguns minutos, ele simplesmente não fazia nada. Ao escutar alguém se aproximando despertou de seu sono e com os olhos castanhos acompanhanhou a chegada de Aerrierf. O animal não fez nenhum alarde, só ficou olhando o jovem de grossos e desarrumados cabelos amarronzados chegar, logo faz um carinho no animal que parecia o conhecer.
- ...Brutus... como você tá hã? - dando uns tapinhas na cabeça do cão que balança o rabo com alegria. - hummm... como você está gordo. Quem está te alimentando desse jeito?
O cachorro latia em resposta.
- Cadê o Padre? Ele tá? - ainda falando com o animal, que respondia com mais amistosos latidos. - Huhmm... lá dentro? Vou lá ver.
O rapaz deixava o cão, que já se ajeitava para dormir novamente.
As portas do lugar estavam abertas. Ele se dirigiu a uma porta no final do corredor de entrada, lá estava escrito em uma plaquinha de madeira: “Administrador – Pe. Pedro Bartolomeu.” Deu umas batidas na porta e na mesma hora uma voz masculina respondeu do lado de dentro:
- Pode entrar...
O rapaz girou a maçaneta e adentrou a um pequeno escritório com uma mesa e duas cadeiras. Sentado ali estava um sujeito velho, na casa dos sessenta anos. Sua barba era negra, mas seu cabelo era grisalho com alguns vestígios de fios pretos que sobraram de sua mocidade. Vestia-se com roupas sacerdotais escuras e estava segurando um livro em uma mão, na outa uma pena que pingava tinta recém extraída de um tinteiro próximo. Assim que viu o jovem abriu um sorriso.
- Vejam só que vem nos visitar. Se não é Damião DeValence. - apontava com a pena para o rapaz - Quanto tempo meu filho. - sem perder tempo larga o que segurava se levantando da cadeira onde sentava, dirigindo-se ao rapaz e dando um grande abraço.
- Nem tanto tempo assim... dois meses... Padre. - sorria.
- Hum... claro. Então, ao que devemos sua ilustre presença? - arrumava uma papelada que tinha espalhada pela mesa. Puxou uma das cadeiras – Venha, sente-se.
- Ah... claro. Vim aqui para visitar o senhor. Estava com saudades. - sentava-se como foi pedido.
- Por que não apareceu mais vezes? Não te deixavam sair de lá? - perguntou baixinho, parecendo que alguém poderia ouvir.
- Na verdade não, não foi ninguém que me impediu... estava muito ocupado, estudos... o treinamento. Se eu quisesse dar uma saída você sabe que ninguém iria me impedir... né?
- Si... sim meu filho, claro. Como vão as coisas? - pegava um bule de metal que tinha em um dos cantos da mesa - Tome, um cafezinho. - o padre já enxia uma xícara com o liquido negro esfumaçante.
- Então, foi para isso que eu vim padre. - recolhia a xícara das mão do senhor - Vim dizer que lá... hoje a noite vou deixar de ser um recruta.
- Isso é ótimo. - guardava seus livros em uma gaveta - Estou muito feliz por você Dami, meu filho.
- Não foi nada... eu só... bem... é... agora que vou me tornar um membro oficial de lá, vou poder ter mais tempo de fazer o que quiser. E vou poder ajudar o senhor... - falava enquanto sacava do bolso a mochila com moedas – aqui – derrubava metade do peso de dentro do saquinho sobre a mesa, o padre ficou surpreso. - trabalho honesto. Como o senhor disse. - sorria orgulhoso de sí mesmo.
Dava para ouvir o som de crianças brincando alegremente ao fundo, lá do lado de fora do lugar.
- Ah... mais isso é muito bom. Digo, não o fato de você estar dando o seu dinheiro para nós meu filho. Mas o fato de você ter achado uma direção na sua vida. O dinheiro vai ajudar, mas o mais importante é... - parou para pegar uma das brilhantes moedas, a analisando contra a luz que vinha da janela, agora voltava a falar mais baixo - … você está satisfeito com isso? Ser um dos do Nacasiba? Ser um Aesir?
- Padre, eu já expliquei para o senhor... não é uma coisa que eu posso voltar atrás agora. Eu já sou um deles... não dá para voltar atrás. E não se esqueça, isso foi ideia sua - tomava uma golada do café, fez uma careta, parecia que havia se queimado com a bebida – Ahn... Já faz dois anos. - fez uma pausa para por a xícara na mesa – Padre... eu agora sou capaz fazer coisas que nunca pensei poder fazer... digo... você não acreditaria no que aconteceu a uns... há bem... estou satisfeito com minha decisão. Sem arrependimentos – sorriu mais uma vez.
- A ideia foi de seu pai! Não se esqueça você! Muito bem, eu acho que entendo o que quis dizer com essas “coisas”... – sorria meio confuso – se é o melhor para você. - continuava a olhar para a moeda – Dinheiro honesto hã? - brincava.
Por pouco tempo, os dois ficaram sem assunto, apenas olhando um para o outro, era evidente que se conheciam há muito tempo, não chegava a ser um silêncio constrangedor. O rapaz pegou uma das moedas que havia na mesa, imitando o gesto do padre, a olhando profundamente. Suspirou e falou como quem não queria nada:
- Alguma notícia do Marcus?
Não. - respondeu triste o senhor, após um breve instante. - Nada desde que vocês dois foram embora naquela noite.
Por um momento os dois ficaram aparentemente abatidos. “Por que você veio trazer isso à tona? Seu idiota...” pensava Dami.
- Ah... então é isso Padre. Acho que vou indo... - e sem jeito se levantava da cadeira, esticando a mão direita para o senhor. O religioso sem pestanejar completou o aperto de mão. - Que Deus o abençoe meu filho. Boa sorte hoje a noite.
- Claro... foi bom visitar o senhor. Mande um olá para os pirralhos. - apontava para a janela, do lado de fora crianças de várias idades, sendo a maioria adolescentes brincavam jogando bola.
- Certamente, mas... não quer ir lá dizer nem um oi? Nem para a Laure?
- Nhaa... não, o senhor sabe que não gosto de pirralhos. - brincava ironicamente – Quando o senhor ver a Laure, mande um oi por mim.
- Huuumm... tudo bem. E olha quem fala, a uns anos atrás você era igual a eles... humm... O mosteiro sempre estará de portas abertas para uma visita sua meu filho.
- Eu já sou um homem, um homem formado a muito tempo! - se retirava quando parou um pouco e virou-se para o padre mais uma vez – Olha... as pratas que eu trouxe... compre uns sanduíches daqueles do mercado municipal para eles...
A cozinheira do local nunca foi uma mais-valia na hora de se preparar refeições, disso ele se lembrava muito bem.
- Dami... você ainda está tomando seu remédio?
- Sim padre... -parando mais uma vez antes de ir – Não é porque sou um Aesir que eu vou parar de tomá-los... que pergunta... - ria - foi bom falar com o senhor.
E com isso o rapaz saia da edificação. Já era fim de tarde quando o fez. O sol ia se pondo em um bonito tom laranja. Dami olhava para o prédio com nostalgia, lá também era onde ficava uma das torres com sino do mosteiro. Tinha vontade de ver tudo lá do alto como fazia quando era mais novo. Como aquele era o seu “grande dia” resolveu realizar esta vontade própria.
Ele se dirigiu até lá. Com facilidade, escalou até o topo do teto do orfanato de lá, saltou dois metros até uma janela e da torre, se apoiando entre os sulcos das pedras até encima. No topo, ele podia ver toda a cidade, o Sedoc, minusculo na grande colina a distância, torre no mercado municipal e ao longe o horizonte montanhoso. Era uma boa vista.
Quando Alexis o perguntou a uns dias atrás se ele não gostava de ficar nos postos de observação, o rapaz havia mentido. Ele não gostava era da companhia de Damon. Ver as coisas de cima. Ver as pessoas indo e vindo a distância, sentir a brisa refrescante contra seus cabelos e de lá de cima respirar fundo e observar o céu azul e os pássaros voando quase a mesma altura. Era tudo muito bom. Era por sensações assim que ele gostava de viver.
Aquela torre, aquele telhado, já havia estado lá muitas e muitas vezes quando era mais novo. Aprendeu a escalar coisas a partir de lá. E se deitando sobre as telhas laranjas, ele ficou pensativo até escurecer. Não poderia ficar por muito mais tempo, o que era uma pena. Tinha que voltar, precisava estar presente no grande evento da noite. Sua cerimônia. Capítulo 3 - A Calmaria - parte 3 Capítulo 3 - A Calmaria - parte 3
A cerimônia de passagem dos recrutas seria no salão comunal, e perto da hora bastante gente já encontrava-se por lá. Não chegavam a atingir a capacidade total do lugar, já que muitos estavam fora, viajando ou até trabalhando dentro do próprio Sedoc, mas em outras áreas e andares.
Não era obrigatório comparecer, mas alguns estavam curiosos para ver os novos membros oficiais, nem todo mundo se conhecia lá, principalmente quando se diz respeito aos novatos em relação aos que já eram mais antigos. Outros só estavam ali por que era a hora da janta e de quebra comeriam mais do que o ensopado de sempre se ficassem para assistir ao evento. O cheiro bom de carne assando no fogo dava para ser sentido em todo o primeiro andar. Os bancos já estavam com barris de vinho e cerveja prontos para serem consumidos com várias canecas generosas de meio litro espalhadas sobre as mesas.
No fundo do salão, de costas para a parede rochosa que dava para a cozinha, um conjunto de belas cadeiras de madeira de lei juntas a uma longa mesa enfeitada ficavam em uma parte mais elevada do nível geral do cômodo. Angus lá se encontrava posicionado em um destes acentos, o primeiro da direita, pontual como sempre e bebendo uma taça de vinho tinto enquanto analisava o movimento do local com uma expressão neutra, aparentemente sua condição de saúde já estava bem melhor, levando em conta que sofreu algumas injúrias durante a viagem . Ele realmente não queria, mas eram os “seus” recrutas que seriam homenageados em breve, tinha de estar presente mesmo contra sua vontade, eram as regras.
Laurence Giovane estava sentado em uma das mesas próximas a entrada, afastado de todo o resto que tentavam localizar-se o mais próximo possível da cozinha e dos pratos cheios de comida que de lá iriam sair. O sujeito loiro e de pele empalidecida arrumava seus óculos de hastes circulares enquanto lia calmamente a um livro a luz das velas de um dos candelabros que iluminavam todo o local. Não era difícil o discernir da multidão, parte por seus traços étnicos que eram relativamente incomuns a região e principalmente por que ele simplesmente evitava a aglomerações, era bastante reservado. Foi assim que Aerrierf logo o achou ao por os pés na câmara. Parou, sentou-se bem a sua frente e logo foi puxando assunto:
- Láu, olha todo esse pessoal... está muito cedo não acha? - parecia ter chegado com medo de se atrasar.
Laurence abaixou o livro, percebendo o amigo só quando este havia se pronunciado. Dami continuava:
- … ainda não são nem sete... por que já tem tanta gente por ai? Nós desse grupo de recrutas somos praticamente invisíveis para os membros mais antigos, por que eles se importariam de comparecer? - alem de tudo, estava um tanto nervoso.
- Hum... devem estar aqui pela comida, obviamente. - respondia com calma. De fato o cheiro da cozinha era muito bom - Então Dami... como foi de viagem? - fechava o livro e o colocava ao seu lado sobre a mesa.
O rapaz já ia o respondendo quando lembrou-se de algo mais interessante para falar:
- Você não queria ter dito: “Então... como foi a poção?” - brincava com ironia no sorriso.
- É mesmo... e como foi? - Laurence ajeitava na cadeira para ouvir mais de perto, aquilo parecia ter o despertado a curiosidade imediatamente - É verdade, nem te procurei mais cedo para saber disso...
- Funcionou muito bem... de fato fiquei mais rápido... eu... - parando para pensar mais uma vez no desastre que teria sido sua investida se não estivesse sobre os efeitos do que havia ingerido naquela noite - eu... não sei o que teria acontecido se eu não tivesse tomado aquilo quando...
- Quando você se jogou desesperadamente contra duas toneladas e meia de monstruosidade enfurecida?
Dami não esperava por essa pergunta. É o quê? Olha... Eu não... - ia estreitando os olhos enquanto analisava rapidamente a situação - hanm...então você já sabe o que aconteceu?
- Ora, mais é claro... - balançava os ombros - aquele sujeito... o “veterano” - apontava para o recruta Heitor, que estava lá na frente já esperando pelo banquete junto da maioria, bebendo uma caneca de vinho - Ele contou para todo mundo como se você tivesse feito a maior manobra suicida da história. Disse que, em todos os seus anos, nunca havia visto um recruta se movendo tão rápido, “era muito desespero em uma pessoa só”, foi bem assim. - ria.
Laurence podia ser reservado mas era brincalhão e comunicativo com os mais chegados. Dami agora girou a cabeça e estreitava os olhos encarando ao longe Heitor que distraído nem tinha notado os dois o observando e fofocando lá de trás.
- ...que engraçado... eu... olha, deixa eu explicar... eu estava no telhado da casa ao lado. Tinha gente comum prestes a morrer para aquela coisa enquanto o idiota do Cicatriz – apontava para Angus com a cabeça - estava caído do outro lado da vila. Eu não podia ficar assistindo eles virarem lanche de um Jotun. - suspirou - Eu... fiz o que tive de fazer.
- Isso é interessante. Quem diria que Angus "Lança de Prata", apanharia para um Jotun desses... - ria balançando a cabeça - E mais... quem diria, você? Salvando o dia? Todos estamos gratos e perplexos por isso... herói. - segurava risos, tentando se manter um pouco sério.
Enquanto o amigo falava, Dami enchia um pouco uma caneca que estava próxima de vinho. Tirava de seu bolso um pequeno pacote de papel do tamanho de uma moeda e o desembrulhava. Lá havia um comprimido esverdeado. Ele o pôs na boca e ingeriu com o vinho para ajudar a descer. Fez uma pequena expressão de dor ao engolir o medicamento parece que acabou descendo arranhando goela abaixo. Após isso, respondia meio rouco:
- Olha lá a cachorrada Láu... - colocava a caneca de volta a mesa, engolindo seco e se preparando para contra-argumentar - eu só fiz o qu...
- Sabe o que te apelidaram por ai? Depois dessa sua façanha? - interrompia com animação.
- Ahrg... não quero nem saber. - já se preparava para o pior – Mas vai lá... Manda.
- Aerrierf... O Ponta-de-lança!
Dami parou por um instante olhando para a cara do amigo, vendo se era apenas uma pegadinha deste.
- Ponta de que? - parou para pensar mais uma vez - Quer saber... podia ter sido pior – imaginava toda a sorte de apelidos mais pejorativos que podia ter ganho. No Sedoc apelidos ficavam, e quanto mais constrangedores e criativos, por mais tempo perduravam.
- Então, voltando aos negócios... - continuava Laurence, agora se arrumando no acento, adotando uma postura ereta e fazendo uma expressão de seriedade. Parecia até que tinha virado um grande mercador e que ira negociar um valioso investimento, pigarreou antes de prosseguir - ...quer dizer que a minha fórmula funcionou como havia previsto. - olhava para os lados para ver se ninguém estava espiando a conversa - Quais os efeitos colaterais?
- Ah... nada de mais... - pensava no que a enfermeira Rachel havia observado naquele dia – transpiração excessiva, desidratação, leves espasmos musculares... mas eu logo fiquei bem. Deu muita sede... enfim.
Laurence o fitou nos olhos intrigado por alguns segundos antes de prosseguir:
- S...Sério? - parecia pego de surpresa.
- Ah... sim. Por que? Espera ai... - mais uma vez estreitava os olhos lendo a reação do amigo - você... esperava por efeitos colaterais bem piores! Seu desgraçado! - deu um soco na mesa, e com isso pegou um garfo que tinha próximo a mão e o brandiu na direção do amigo branquelo como se fosse uma perigosa arma de corte, estava indignado.
- Dami... não sei o que dizer... - nem chegou a reagira a “ameaça”, tinha alegria estampada no rosto - quer dizer... isso é muito bom! Eu... - olhava em volta mais uma vez - eu.. eu realmente preciso ir agora – falava enquanto saltava da cadeira.
- Espera ai... e a cerimônia? - Apontava para as cadeiras altas no fim do salão.
- Bem, o que eu posso dizer? Boa sorte? Realmente preciso verificar algumas coisas no “meu” laboratório, anotações... medições, aquele monte de coisas chatas... ahhhn você sabe... - já se afastava para a saída. Agora Laurence que estava ansioso. - Boa cerimônia... sócio!
- Pff... sócio... - mudava o foco do olhar para o talher que segurava, não sabia muito bem por que tinha feito aquilo. Com a visão periférica, via algo a mais sobre a mesa.
Laurence havia deixado o livro que lia, Dami o pegou. Era um livro estranho. Estava todo escrito na mesma língua dos símbolos que adornavam grande parte dos rodapés do lugar. Sua capa era velha e surrada, as páginas amareladas e repletas de notas de rodapé manuscritas com a caligrafia do amigo, eles já tinham se juntado para estudar centra vez.
- Rúnico... - o rapaz apenas folheou algumas ilustrações que lá haviam, desenhos feitos a lápis de partes da anatomia de criaturas bizarras, já tinha visto algo parecido em seus próprios estudos, possivelmente Jotuns - Ah... - tomou um breve fôlego - Láu! - gritou para chamar a atenção do amigo que já cruzava o arco para outra câmara, este escutou se virando. - Seu livro... - mais uma vez não sabia muito bem o que tinha acabado de fazer, seu instinto o dizia para manter o livro e folhear um pouco mais depois da cerimônia. O amigo sempre teve um lado um tanto estranho e isso vinha o preocupando, porém ele gostava muito de absorver conhecimento, devia ter uma explicação simples para estar estudando aquele tipo de material.
- Nossa.. sim... como eu sou distraído. - voltando enquanto dava tapinhas na própria testa – Obrigado.
- Tá... toma aqui... - entregando-o intrigado.
Laurence o recolheu, colocando abaixo do braço, acenou para o amigo e saiu com pressa.
Quase no mesmo instante, dois homens entraram pelo mesmo arco. Um mancava se apoiando em uma bengala de madeira escura adornada com detalhes dourados. Era uma pessoa de meia idade. Tinha vários colares e anéis nos dedos e parecia ser bem rico pelo jeito que se trajava. Levava consigo uma bela espada curva amarrada a cintura, o desenho exótico era sem sombra de dúvidas oriental.
O outro era uma figura um tanto curiosa. Um sujeito encapuzado que vestia um grosso sobretudo branco de lã não abotoado no meio. Usava também uma máscara cinzenta adornada em alto relevo que tinha de entradas apenas os buracos dos olhos. Era impossível ver qualquer detalhe de seu rosto ou cabeça, o pescoço era encoberto por uma desbotada echarpe azul marinho, apenas as mãos estavam despidas de algum tipo vestimenta, eram fortes mas com pele muito enrugada, isso denunciava sua idade. Era um pouco mais alto que o outro.
Os dois se dirigiram para a mesa elevada no fundo do salão. Iam abrindo passagem entre alguns grupos que conversavam enquanto esperavam o início das celebrações, todos cumprimentavam a dupla com grande respeito. O mascarado ficou no acento central, o mais alto de todos. O de bengala ocupou o que estava na ponta da esquerda. Ainda faltavam três acentos, eram cinco lugares ao todo, um era da tesoureira, a Sra. Cásia Damon, o penúltimo da esquerda. Ela chegou poucos minutos depois. Os dois acentos localizados aos lados do central iriam ficar vazios. Seus donos não estariam presentes, um deles era cativo de Alexis Baltazar. Os presentes ficaram lá conversando um pouco entre si.
Vendo que já era a hora, Angus acenou para o sujeito do meio. Este sem se levantar de seu lugar, começou a falar:
- Silêncio! - em alto e bom som. Sua voz era de um homem velho, contia uma certa imponência mas era contida ao mesmo tempo, soava abafada pela máscara.
Todos que estavam lá obedeceram na mesma hora, se sentando e olhando para o sujeito com respeito, ele continuava:
- É com muito orgulho, que falo a vocês queridos amigos que o Sedoc terá a adição de sua quadragésima segunda geração de membros oficiais! - com isso, ele ficou de pé - Esses jovens a cerca de dois anos escolheram se juntar a nossa causa pelos mais variados motivos. Passaram por um rigoroso treinamento e estudo para compreenderem os nossos jeitos. - ao mesmo tempo, Angus se esticando o oferecia um papel, o velho aceitou pegando e o lendo enquanto prosseguia – Aprovados pelo nosso Cavaleiro Jarl, Imaan Angus – o cumprimentava com uma breve reverência - em uma tarefa de grande importância, provaram estarem mais do que capazes de cumprir com ordens e se portarem como legítimos Aesir. - respirou fundo - Vou agora chamá-los. - filava do papel, lá estava o nome dos recrutas – Anabel M. Tavas...
E então uma das duas moças que treinavam junto com outros recrutas se levantou de um dos acentos, se dirigindo para a frente da mesa. Parecia muito contente.
- Juliano R. Branco... Mathias Queriane... Helena R. DeFlávia... Heitor Radhanes... Damião D. Aerrierf... e por fim, Gabriel Damon. - chamando todos, ele deixava o papel na mesa e se arrumando em sua cadeira. Ficou parado por alguns segundos estudando os jovens que até a frente de sua mesa se dirigiam, estava estático como uma gárgula. Não era possível ver olhos por trás das fendas negras de sua mascara.
Todos os recrutas estavam um do lado do outro em uma fileira. O silêncio foi rompido mais uma vez pelo senhor, que continuava:
- Depois de tanto tempo, vejo novos e promissores rostos. Sabe, sempre digo, cada adição ao Sedoc é uma adição valorosa. Não temos o privilégio de recrutar tanto quanto queremos ou gostaríamos, Nortglast não nos permite. E a eles temos de agradecer. Vocês foram escolhidos pelo potencial que cada um guarda. Os que não eram Aesir de nascença, sobreviveram ao rito de passagem e agora são. Os que já nasceram com nosso sangue, agora compreendem suas origens e propósito. Foram indicados por um exigente e experiente instrutor - Aerrierf tossia com força no fundo do salão neste momento.
O velho parava para pegar ar enquanto refletia, era um excelente orador, após a pausa continuava:
- Meus jovens, lembram-se do juramento que fizeram a alguns anos atrás quando começaram seus trinamentos? Por favor, quero ouvi-lo uma vez mais. - dava um sinal para que eles continuassem.
Os recrutas sem pestanejar recitaram em um couro improvisado:
- Servir o Sedoc. Proteger nossos irmãos. Iluminar os mundanos. Ascender em conhecimento. Preservar nossa cultura. - sabiam de cor.
- Este juramento. Estas palavras... elas foram ditas por muitas pessoas antes de vocês, pessoas brilhantes. E será dito por muitas outras no futuro. É um mantra simples, e se seguirem ele, vocês sempre serão bem vindos entre nós. Lembrem-se. - sua voz agora tinha muita alegria - Vocês agora não são mais recrutas... agora são verdadeiros Aesir! Se orgulhem disto.
E com essa deixa, todos os que assistiam as palavras do velho bradaram e aplaudiram, havia meia centena de pessoas no local. O banquete seria servido.
Dava para se escutar as comemorações até da entrada para o exterior, o primeiro andar tinha eco quando não estava muito movimentado entre os corredores. Lá o porteiro barbudo que sempre ficava sentado em uma cadeira em frente aos grossos portões de metal negro ria, fumando seu cachimbo ao escutar o discurso. Tinha uma excelente audição. Estava escuro lá, apenas umas poucas velas iluminavam o caminho, aguçando ainda mais seus sentidos. A pequena brasa que brilhava no bico do cachimbo era uma fraca evidência da presença do vigia. Sua concentração foi quebrada quando ouviu passos descompassados e gemidos se aproximando do grande lance de escadas a sua frente.
Capítulo 3 - fim.
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Post by JP Vilela on Dec 28, 2012 22:07:11 GMT -5
Continuando... Capítulo 4 - A Tempestade Vindoura – parte 1 Capítulo 4 - A Tempestade Vindoura – parte 1
O vigia sem perder tempo deu três batidas na grande porta metálica com seu punho ossudo, as pancadas ressoaram estrutura adentro, era certamente um código de alerta. Não se demorou muito e de lá saiu um homem alto e carrancudo trajando uma armadura leve de placas, em uma das mãos segurava um lampião a óleo, na outra uma espada larga, era um dos guardas do Sedoc.
Algo estava errado. Para alguém entrar no complexo a essa hora da noite era preciso antes identificar-se lá da entrada da escadaria escondida, aqueles que não seguissem com essa regra seriam recebidos como intrusos. O vigia pegou o mosquete que tinha escorado na parede próximo a sua cadeira e virou-se para o guarda. Os dois se entreolharam como se já estivessem preparados para aquele tipo de situação e em seguida o que segurava a arma de fogo lançou sua voz contra a escuridão da escadaria:
- Quem vem lá? - fazia mira com a arma, mesmo estando o possível invasor fora de sua linha de visão.
Demorou um pouco para qualquer tipo de resposta, apenas o som pesado do caminhar que aproximava-se cada vez mais. Uma corrente de ar havia se formado de fora para dentro da porta negra que dava o definitivo acesso as instalações do Sedoc, as costas do barbudo funcionário, o ar frio da noite adentrava o complexo.
Em pouco tempo uma silhueta bípede disforme era possível ser vista se aproximando.
- A...ajuda! - respondeu com dificuldade uma voz masculina.
O porteiro forçou mais a visão e por fim conseguiu identificar a figura que se aproximava descendo pesadamente os primeiros degraus da escadaria. Por pouco tempo foi difícil, mas parecia com um dos amigos íntimos de Gregório DaRégia. Ele e seu grupo haviam partido na tarde do mesmo dia a trabalho como foram instruídos por Alexis.
- Vas... Vassan? - perguntou baixinho o porteiro a sí mesmo – Vassan Damarque? Do grupo do capitão Gregório?
O jovem a quem o porteiro observava chegar nada o respondeu, carregava em seus braços uma pessoa. O porteiro abaixou a arma e acenou com a cabeça para o guarda ao seu lado, o fazendo entender que eram aliados que se aproximavam. Tomou o lampião de suas mãos e com ele apoiado firmemente a sua frente foi indo em direção ao jovem.
- Mas o q... O que aconteceu com vocês filho? - seu cachimbo ia de um lado para o outro da boca, preocupado enquanto ia chegando cada vez mais perto do sujeito que se aproximava mais e mais.
- Jotun! - falou Vassan quase sem forças.
Essa simples resposta fez o velho funcionário se arrepiar na mesma hora.
O que a luz da chama que o porteiro carregava por fim iluminou foi preocupante. Este acabou por deixar seu cachimbo cair da boca. O jovem que estava a sua frente encontrava-se coberto de sangue já talhado respingado por todo seu rosto, pescoço e roupas, também havia sugeria de lama em seus trajes e arranhões em seus braços. Sua testa estava ferida com um profundo corte na esquerda.
Mas isso não era o pior, a pessoa que ele carregava nos braços, outro homem na sua mesma faixa de idade, seu companheiro de grupo, estava seriamente ferido. No braço esquerdo tinha um torniquete improvisado feito de trapos amarrados a um galho um pouco abaixo do cotovelo que tinha a pele seriamente queimada com feridas de uma coloração acinzentada. Com os olhos arregalados o porteiro continuou a acompanhar a extensão do membro do rapaz quando percebeu que a sua mão não estava ao final de seu braço, apenas um bando de ataduras improvisadas pintadas com sangue coagulado cobriam o pulso descepado. De sua barriga coberta por uma camisa rasgada e molhada, pintada de um vermelho escuro que brilhava a luz âmbar da lamparina, pingavam gotas de sangue. Mal dava para saber se o pobre homem estava vivo ou não.
Um tanto quanto catatônico com a situação, o vigia disse:
- Vamos, entre... entre, leve-o a curandeira! Rápido! - Espere, deixe-me ajudá-lo – interferia o guarda embainhando sua lâmina e fazendo menção de carregar o enfermo.
-Não toque nele! - exaltou-se o jovem que carregava o outro, havia uma mistura de fúria e desespero em seus olhos que chegou a assustar. Ambos estavam fedendo a queimado, isso só foi possível de se notar neste ponto.
O guarda não insistiu, apenas olhou com desconfiança de volta para o porteiro que estava a coçar nervosamente sua barba recolhendo seu cachimbo que do chão, este ao se erguer, reagiu:
- Vamos filho, não... não perca tempo... - apressava-o enquanto olhava sem saber o que fazer para o guarda. De maneira alguma esperavam que isso fosse acontecer justo naquela noite.
O jovem atravessou com dificuldades o portão, mas ao dar o primeiro passo dentro do primeiro andar, aqueles curiosos símbolos que enfeitavam os rodapés mais próximos a ele instantaneamente brilharam emitindo uma luz vermelha, o que dava um tom ainda mais sinistro a situação. Estes entalhados desenhos faziam-se presentes em todos os corredores e câmaras do complexo. O rapaz parou por um segundo observando-os sem expressão. O guarda que estava mais próximo alarmou-se ainda mais exclamando:
- Mas o que diabos isso significa?! - e como um raio, voltou a sacar sua lâmina contra o rapaz que carregava o enfermo, que agora o ignorava observando fixamente as figuras brilhantes.
O senhor barbudo pensou rapidamente, enquanto segurava o braço que empunhava a espada do companheiro assustado e o censurando disse:
- Os ferimentos desses jovens... estão contaminados, sua besta-fera! Por isso as runas de alerta foram ativadas! - respondia impaciente, em seguida gesticulou para o rapaz a andar mais depressa corredor adentro. - Não deixe esse nervosismo te levar a fazer besteiras com os nossos!
O guarda fitou-o de volta com desaprovação, aquilo era errado, mas a explicação do senhor chegava a fazer um sentido no meio daquela cena angustiante.
Enquanto o machucado rapaz adentrava, os rodapés tornavam-se brilhantes a medida que avançava em direção a enfermaria, os corredores estavam desertos, muita gente estava no salão comunal se entretendo na comemoração do recrutas. Seria difícil trombar com outros membros que não os que estavam de guarda em locais chave do complexo.
- Filho... o que aconteceu com o Capitão Gregório? - o vigia entregava a tocha e sua arma para mais um desses guardas que apareceu por causa do alarde.
Assim que este chegou, deu uma boa olhada no enfermo desacordado que estava sendo carregado.
- Matou a criatura... - Vassan manita seu olhar fixo nos símbolos que acompanhavam a sua passagem, parecia estar fascinado por eles - ficou para trás... tinha que ajudar os outros.
- Então estão vivos? Quantos? - continuava o vigia.
Aquele simples trajeto até o final do longo corredor mais parecia uma eternidade para o angustiado vigia.
- Todos os seis... mas precisam de ajuda... estão em uma fazenda a ...... daqui. - permanecia olhando os símbolos de alerta que iam brilhando aos seus lados, estava parecendo relutante sobre o que falava.
- E seus cavalos?
- Mortos – ofegava.
Esta resposta fazia sentido. É do conhecimento dos Aesir que Jotus atacavam cavalos quase que como alvos primários. Não se sabia se era por extinto ou por uma malévolo senso de inteligência que fazia com que eles eliminassem as montarias primeiro, deixando as pessoas sem sua melhor alternativa de fuga.
- Certo... - com isso o vigia voltou-se para o primeiro guarda que os acompanhava desda entrada - Ouviram ele? Precisam de ajuda! Vão logo! - empurrando-o e olhando para o segundo que se encontrava ao seu lado indicando para este fazer o mesmo - Vão!
Os guardas o olharam com algum receio, mas prosseguiram . Chegando perto da câmara onde o primeiro deles fazia guarnição, este chamou mais seis homens bem armados que já tinham se preparado reagindo a toda essa comoção. Era lá onde ficavam caso surgissem problemas na entrada do Sedoc. Sem perder tempo, partiram escada acima em disparada.
O porteiro voltou-se novamente para o jovem, olhou para o ferimento na barriga do companheiro que este carregava e continuou:
- O que aconteceu? - remordia o bico do cachimbo de nervoso.
- Era uma coisa muito rápida... nunca tínhamos visto nada igual. - tremia enquanto falava - nós tentamos o emboscar.. mas... mas... - tentou continuar – mas... - faltavam palavras.
O vigia barbudo estava perplexo. Os "Animais", como o grupo dos jovens era apelidados, eram dos mais eficientes combatentes de todo o Sedoc. Saber que tinham sofrido tanto para abater um Jotun deixava-o assustado, eles eram melhores do que isso. Gregório era muito melhor que isso. O senhor voltou a observar os dois jovens, quando percebeu que o que carregava o mais ferido em seus braços tinha um brilhante anel prateado em seu indicador direito que reluzia contra a vermelhidão das runas. Achou aquilo estranho pois não havia notado a joia em sua mão quando o viu na lá atrás na entrada, sabia que tinha boa memória e que era um bom observador, afinal era o porteiro do local e tinha que decorar características de todos que iam e vinham, mas provavelmente devido a gravidade dos ferimentos do outro companheiro, deixou esse detalhe passar despercebido.
Por fim, chegaram na entrada da Sala de Cura, a enfermaria do Sedoc. Ao abrirem a pesada porta de madeira perceberam que o lugar estava vazio, excerto por uma pessoa no fundo da câmara, que encontrava-se sentada em uma cadeira, encostada sobre uma pinha de livros. Várias camas e macas se encontravam nas laterais da espaçosa câmara, que contavam com uma variada e interessante coleção de frascos com medicamentos, reagentes alquímicos e poções em suas diversas estantes e prateleiras. Ferramentas cirúrgicas como bisturis e agulhas eram cuidadosamente guardadas em caixas de vidro espalhadas sobre as mobilhas mais próximas ao centro.
- Enfermeira! - bradou o vigia ao ver a forma feminina que se encontrava ao fundo do salão.
Rachel estava fazendo o inventário dos itens da enfermaria desde que chegou de sua viagem na tarde deste mesmo dia. O inventario estava um verdadeiro caos e sua superior a mandou trabalhar nisto. A moça tinha caído no sono a alguns minutos por estar executando a “emocionante” tarefa a tanto tempo. Acordou com um certo espanto, tinha no rosto as marcas da capa do livro de registros em relevo, com o qual cochilou com o rosto encima, quase que o usando como um travesseiro. Ao se virar deparou-se com o estado dos dois sujeitos que o senhor com cachimbo acompanhava. Não conseguia ver outra coisa alem do rapaz que vinha sendo carregado, assim que bateu seus olhos azulados nele, viu a gravidade da situação.
- Venham... ponham ele aqui nesse balcão - derrubava as coisas que estavam sobre o móvel de madeira próximo de si.
Ela sabia que esses dois eram amigos de Gregório e com isso, bateu-lhe um arrepio pensando se ele estaria bem.
- Moça... onde estão as outras enfermeiras? - perguntava o vigia enquanto ajudava a por o ferido sobre o local. O outro rapaz sentou-se em uma das macas mais próximas.
Ela não o respondeu, concentrada verificava se o sujeito desacordado ainda estava vivo.
A enfermeira-chefe, Sra. Aline tinha retirado-se aos seus aposentos algumas horas antes, tinha ido descansar da viagem. As outras cinco moças que trabalhavam no local estavam dispersas pelo Sedoc, seja na cerimônia no salão comunal, seja em seus quartos ou quaisquer outras locações. Rachel encontrava-se sozinha.
Encostando suavemente o ouvido no peito do paciente, a moça escutou batidas cardíacas, mas o sujeito respirava com dificuldade. Em segundos ela o estudou dos pés a cabeça: feridas em todo o corpo, queimaduras e uma mão descepada. Mas tudo isso não chegava a ser o maior problema, tinham feito um bom torniquete em seu antebraço prevenindo uma morte por sangramento vinda daquele ponto, a queimadura estava longe de comprometer seriamente sua vida. O que realmente a preocupava de imediato era o escondia-se abaixo da camisa empapada de sangue que ocultava sua barriga, ela com cuidado a removeu com suas luvas brancas.
Havia temido com razão, o que estava lá era um rasgo que saia do meio das costelas até perto da região do rim esquerdo. Um corte tão sério que em seu ponto mai profundo, no meio da barriga, era possível se ver alguns detalhes amostra dos intestinos do pobre coitado. Com seu vasto estudo de anatomia, ao menos visualizou que nenhum órgão de seu tronco havia sido fatalmente comprometido, caso contrario já estaria morto. Mas certamente o que mais contribuiu para o manter vivo até agora não era nada mais nada menos que o fato dele ser um Aesir. Seu organismo fazia com que mesmo horríveis ferimentos como aqueles coagulassem incrivelmente rápido, prevenindo uma maior perda de sangue e hemorragias internas.
A moça por fim manifestou-se enquanto amarrava seu cabelo para prosseguir com os cuidados:
- Segure-o - ordenou sem desviar o olhar do paciente para qualquer um dos outros dois que estavam ali presentes.
- Cla... claro... - reagiu prontamente o senhor que guardava seu cachimbo, aproximou-se da bancada e segurou firmemente os braços do rapaz.
Feito isso Rachel foi a uma estante e pegou um frasco com uma substância rosada. Retirou a rolha que o lacrava e aplicou encima da monstruosa feriada. Ao ter contato com a carne o liquido entrou em reação, fez um alto som, como o de quem joga água em uma brasa, seguido por uma leve fumaça. Sangue misturado a esse tal liquido escorriam pela barriga do paciente que teve um instantâneo espasmo de dor. A enfermeira com cuidado tentou arrumar a carne da ferida a modo que em seguida pudesse fechar o ferimento, esperava estar fazendo a coisa certa.
Tirou fora suas luvas para trabalhar melhor, revelando mãos delicadas com unhas bem cortadas. Precisava de precisão e mãos limpas para trabalhar. Na palma de sua mão direita havia uma tatuagem com um circulo de símbolos negros que contrastavam contra sua pele avermelhada de nativa, ela a colocou sobre a ferida e em seguida fez uma pausa.
Segundos depois um fraco brilho azulado começou a emanar do desenho, se tornando gradativamente mais intenso até se tornar tão forte que era difícil olhar diretamente para o foco, pequenas fagulhas frias de luz branca saltavam para todos os lados de maneira caótica. Esse brilho fazia alguns estalos que soavam como a madeira que queima em uma fogueira. O paciente debateu-se mais ainda até que foi se acalmando com o passar do tempo com aquela forte luz brilhando contra seu tronco. Quando o brilho cessou, a ferida não parecia mais com um selvagem rasgo, um corte bem menos sério encontrava-se em seu lugar, parecia que havia se regenerado com um passe de mágica. Os símbolos sob a palma da mão da jovem enfermeira ainda reluziam fracamente e uma pequena fumaça saia de sua pele. O vigia mesmerizado a encarava:
- Moça... o q... o quê foi isso? - esfregou os olhos, parecendo que havia visto uma miragem. - Ah... não foi nada... apenas um truque que o Sr. Nacasiba me ensinou... - já procurava por alguma coisa dentro das gavetas de uma cômoda próxima – ...para lidarmos com pacientes nesse tipo de estado.
A enfermeira localizou uma agulha e um rolo de linha, ao passar com maestria a linha pelo buraco da agulha ela voltou ao sujeito deitado e se dirigindo ao vigia disse:
- Segure ele de novo por favor. - agora parecia bem mais calma, embora estivesse parecendo bem mais cansada também.
- Aquele velho maluco... - ria aliviado - Já vi vários tipos de Karaktertrekks, mas nenhuma com uma utilidade curativa feito essa ai – voltava a observar a mão da moça – Que loucura, mal consigo acreditar no que acabei de ver filha... - novamente segurou os braços do paciente. - Aquele velho é um gênio!
- Incrível não é? - com cuidado começou a costurar a ferida, sorria gentilmente – Sabe, ele me disse, esse é o verdadeiro sentido do Sedoc, descobrir novas maneiras de lidar com os problemas de todos os Aesir. - sorria.
Com o ferimento sendo tratado daquela forma, o rapaz não corria mais tanto risco. Rachel de fato era a joia da sala de cura, uma moça brilhante no que fazia. Ela agora procurava dar um jeito nos outros ferimentos da vitima, não antes lhe aplicando um sedativo para aliviar sua dor. Optou por drogá-lo apenas agora pois queria acompanhar suas reações durante o tratamento, era importante saber se ele ainda estava com sensibilidade ou manifestaria algum tipo de resposta para que com isso, ela reagisse de acordo. Embora o paciente ainda se remexesse como se estivesse tendo um pesadelo.
O vigia agora mais tranquilo também, ajudava da maneira que podia obedecendo os pedidos a moça, tentando deixar o clima de tensão da situação mais ameno, este continuou:
- Humm... agora eu me lembro! - pigarreou - Você é a namorada do Capitão Gregório, a Srta Yara... Certo?
- Ah... isso mesmo – tinha em suas mãos um comprimido esverdeado, com cuidado fez o paciente o ingerir – espero que ele esteja bem. - voltou a ficar preocupada – por favor, me passe o frasco nego ai na estanta.
- Esse aqui? – pegou um frasco grande com um rótulo donde estava escrito a tinta “Solução de Yggdrasil A” e prestativo como foi o tempo inteiro, entregou a enfermeira que acenou com a cabeça confirmando ser o medicamento correto. Ele então continuou:
- Não se preocupe filha, o outro rapaz aqui confirmou que ele não só está bem, como matou o bicho desgraçado que fez isso com os seus companheiros. Não é mesmo ra... - olhava para trás procurando o outro jovem.
Por todos aqueles minutos os dois ficaram tão focados em prestar socorros ao que estava deitado os levaram a esquecer do outro sujeito. O vigia olhou para os quatro cantos da câmara em que estavam, mas nenhum sinal dele. Saiu para fora e olhou para ver se o encontrava no corredor mas nada. Simplesmente havia sumido. Capítulo 4 - A Tempestade Vindoura – parte 2 Capítulo 4 - A Tempestade Vindoura – parte 2
Dami Aerrierf olhava para o fundo de sua caneca relutante. Respirava profundamente enquanto todos ao seu redor celebravam e comiam. O “veterano” Heitor estava ao seu lado conversando com um conhecido em voz alta, quase gritando e como era de seu feitio, já bêbado. Não demorou muito para este perceber que seu colega não estava a desfrutar do banquete, virou-se e disse:
- Qual o problema DeValence? - depois da pergunta direcionada a Dami, tomou uma golada de do saboroso vinho que estava sendo servido junto com as demais bebidas. - Ah... nada. - respondia enquanto o olhava com o canto dos olhos sem mover a cabeça de posição – Só pensando aqui. - Hhum, pensamentos profundos no meio de toda essa festa? - outra golada.
O rapaz não respondeu imediatamente, suspirou mais uma vez antes disso.
- Mais ou menos... - sorria, agora encarando o companheiro. - Desembucha - e com isso Heitor acabou mais uma caneca.
Dami apontou para a mesa alta no fundo do salão. Heitor acompanhou o sentido do dedo indicador do rapaz, resultando no velho senhor vestido de branco sentado no meio da ilustre mesa que se destacava das demais.
- Nacasiba? O que tem ele? - foi logo tratando de encher novamente sua caneca com bebida. - Anh... - suspirou novamente – Ele me prometeu algo, me dar algumas respostas sabe. Mas só depois que me tornasse um membro oficial daqui. - Humm que chantagem... bem, não sei do que se trata... - Agitou o vinho como se fosse um fino degustador – Hehe... então é assim que o Sedoc chantageia os recruta – ria enquanto bebia - deixa de lenga-lenga, vá até ele e pergunte, ora, agora que você está no direito. - É... - respondeu com relutância.
Dami já conhecia o jeito imprevisível daquele senhor. Não sabia como ele ira o receber após relembrar desse antigo acordo que os dois fizeram. De qualquer forma o rapaz estava querendo muito perguntar. “Isso tem que acontecer mais cedo ou mais tarde”, pensou.
Olhou nos olhos de Heitor depois se levantou dE onde estava sentado. Deu uns tapinhas nas costas do colega que o encorajou e olhou mais uma vez para a mesa alta. Abrindo caminho entre os que já estavam de pé, ele foi se aproximando do local até estar de frente com o pessoal que lá se sentava. Logo estas pessoas perceberam aquele rapaz chegando. O sujeito muito bem vestido que se sentava ao lado do tal Nacasiba foi o primeiro a o identificar e logo falou:
- Vejam se não é o tal recruta... ah... Aerrierf certo? - coçou sua barba. - Ah... ex-recruta... senhor. - sorriu o rapaz sem jeito. - Oh, certo. Ex-recruta a meia hora. - ria olhando para cima – Então rapaz, como foi lutar contra um Jotun pela primeira vez?
Pelo visto a participação de Dami na caçada de Angus já havia se espalhado por todo o Sedoc. E tinha tomado outros ares, já que da ultima vez ele havia ouvido que tinha fugido como uma menininha do confronto. Agora já dizem que ele lutou conta a fera. Perguntava-se como essa estória iria ficar daqui a uma semana.
- Hhumm... assustador? - não tinha muito o que dizer na verdade, apenas achou engraçado ao mesmo tempo se questionando de como aquele senhor important conseguia se lembrar de um mero novato como ele. - Claro, claro... esses demônios também me dão arrepios... - sorria o senhor.
O falador sujeito não se trajava bem por acaso, era Radimir Valentim o vice administrador do Sedoc. Um homem rico, grande mercador e sem sombra de dívidas, um dos mais importantes contribuintes financeiros do local.
- Sr. Arrieref... - interrompia Angus, lá da ponta da mesa – a que devemos sua presença aqui na Mesa dos Principais? - Vim falar com Nacasiba – já mudando o tom de voz para algo mais rude.
Dami teve vontade de complementar a sua resposta com um “e não se meta... desgraçado”, mas devia respeito aos outros que estavam presentes na mesa.
- Ah... é mesmo? - sem perder um segundo, o velho mascarado entrou na conversa assim que foi citado. - Ah, sim... sim senhor. - respondia Dami. - Então, no que posso ajudar? - Se ajeitava na cadeira, ficando mais ereto. - Hummm.... queria falar com o senhor... ah... a sós.
O velho ficou parado no mesmos lugar por alguns segundos, não dava para dizer se ele estava encarando o rapaz, mas logo em seguida, o respondeu:
- Claro... me acompanhe. - e com isso, se levantou de sua cadeira, ajeitando suas longas vestes, era estranho, não se movia como um idoso como soava sua voz.
Dami não hesitou e logo arrodeou a grande mesa pelo lado oposto ao que Angus estava sentado e acompanhou o velho até um dos cantos do fundo do salão.
- Ah... aqui? - perguntava o rapaz, um tanto incomodado. - Claro, qual o problema? - respondeu em tom quase inocente. - Hhumm... nenhum... senhor. - tirando a audição absurdamente apurada de Angus. - Bem rapaz, é um salão comunal em festa. Não tem como nossa conversa não ser abafada pelo barulho das pessoas. - É... sim, senhor - gostaria que fosse verdade. - Então, Damião DeValence o Ponta de Lança Aerrierf – rui - membro oficial do Sedoc, no que esse velho aqui pode o ajudar? - perguntou gentilmente – Fale de uma vez moleque! - complementou com impaciência.
O rapaz o olhou não acreditando que até ele já estava ciente desse apelido, e mais surpreso ainda pelo fato dele ter acabado de o usar.
- Hum... tá bom. - para que mais bancar o relutante? perguntou-se -Quando falaremos sobre a herança do meu pai? - indagou com um súbito frio na barriga.
- Ah, sabia que estava querendo me perguntar isso assim que começamos esta cerimônia... - Na verdade senhor, quero saber disso dês de que pus os pés aqui... foi por isso que me juntei. - Pois bem, assim que terminarmos as comemorações ire... - parou abruptamente.
O rapaz achou aquilo estranho, mas vindo daquele senhor com trejeitos esquisitos, poderia ser qualquer coisa. Poucos segundos levou para perceber que o salão inteiro começou a ficar silencioso. Virou-se para ver o que estava a acontecer. Do outro lado do salão, passando pela multidão que estava de pé podia se observar uma luz vermelha emanando das runas nos rodapés das paredes.
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